(Maurício Vieira)
Estudar para auxiliar na formação dos filhos e dar a eles melhores condições de vida é o lema de quem é a um só tempo mãe e estudante universitária. Mesmo em meio a jornadas múltiplas, elas não deixam de lado os cadernos e o desejo de um futuro com mais oportunidades para a família. Com dedicação e doses de sacrifício, desdobram-se para concluir a graduação sem comprometer a maternidade.
A experiência não é fácil, mas elas deixam o recado: é possível. Que o diga a empresária Tatiana Alves, de 32 anos.
Diariamente, ela acorda às 6h30. De olho no relógio, prepara o café da manhã do filho Davi Lucas, de 10. Com transtornos do espectro autista, antes de ir para a escola – ou para uma das três sessões semanais de terapia – e mesmo com toda a atenção de Tatiana, demonstra ciúmes pela chegada do irmão, Rafael, prevista para daqui a dois meses.
Apesar dos percalços diários, a empresária garante que os dilemas maternos não serão capazes de fazer com que desista do curso de nutrição nas Faculdades Promove. Pelo contrário. No quinto período da graduação, ela já faz planos para depois do nascimento do caçula. “Apesar de ter consciência de que é difícil estudar com um bebê pequeno em casa, espero não trancar (a matrícula). É uma maneira de tentar que o horizonte deles seja maior e melhor que o meu”, afirma Tatiana.
Rotina
Para a empresária Renata Leal, de 33, o ano começou cheio de mudanças. Conciliar a maternidade com a faculdade, por exemplo, é uma novidade.
Matriculada no primeiro período de marketing, os hábitos tiveram que ser reformulados também para Lara, de 3, e Davi, de 1 ano. As crianças só veem a mãe pela a manhã, quando Renata dedica-se para estar bem próxima aos filhos, e à noite, quando retorna da aula.
“Chego tarde, por volta de 23h30, e eles estão me esperando acordados na porta de casa. É o tempo de me ver e apagam em seguida. São muito apegados e por isso fazem sempre questão de me ver antes de ir para a cama”, diz a estudante.
Apesar da correria do dia a dia, ela afirma estar satisfeita e espera que os filhos entendam os sacrifícios que tem feito para conquistar o diploma. “Tudo o que eu faço é para eles”, ressalta.
Correria
Quem também pensa no amanhã é a operadora de telemarketing Luana Santana, de 32, que esperou o filho Daniel completar 5 anos para retomar os estudos. Hoje no segundo período de psicologia nas Faculdades Promove, a universitária passa as manhãs com o menino, trabalha à tarde e estuda à noite.
Diz sentir falta dos jantares em família e de auxiliar a criança nas tarefas da escola. “Todos os dias faço renúncias. Mas vejo que vou ter retorno na educação dele e, consequentemente, me sentir realizada com a graduação que escolhi”, afirma a mãe, que não mede esforços para aproveitar os fins de semana e levar o garoto ao cinema e para atividades ao ar livre. “Ele ama”. Riva MoreiraMãe e filha, Lidiane e Lígia estudam há dois anos na mesma faculdade
Em todos os momentos
Há casos em que os laços maternos extrapolam os limites da casa. É assim com a recepcionista Lidiane Florenço, de 43 anos, e a filha Lígia, de 20.
“Sempre tive interesse em fazer curso superior. Mas quando casamos e temos filhos, acabamos priorizando a educação deles”, conta a mãe.
As duas, desde 2017, são alunas de uma mesma universidade em Contagem, na Grande BH. Apesar de matriculadas em graduações diferentes, no dia a dia elas compartilham o campus, alguns amigos e inúmeros desabafos e desempenhos acadêmicos.
Até mesmo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2016, foi feito por mãe e filha na mesma sala, o que as deixou animadas. “Sentamos uma perto da outra”, relembra Lidiane, que hoje cursa gestão da qualidade.
A universitária conta que os resultados da avaliação surpreenderam e, no ano seguinte, elas conseguiram bolsas de estudo na mesma instituição de ensino. Prestes a se formar, a recepcionista garante que sentirá falta das noites ao lado da filha, que faz ciências contábeis.
Como será
Para Lígia, a ausência da mãe nos intervalos, quando conversam sobre os conteúdos aprendidos em sala e vibram com as notas altas, também será sentida. Porém, a jovem comenta, brincando, que esse não é um assunto para ser pensado agora.
“Quando está dando tudo errado para qualquer uma de nós, a gente senta, conversa. É uma sintonia muito legal e isso nos motiva. Depois, não sei como vai ser”, desabafa Lígia.