Má gestão e dinheiro escasso condenam dezenas de hospitais em Minas

Raquel Ramos, Renata Galdino e Renato Fonseca - Hoje em Dia
07/11/2013 às 06:48.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:58
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Na iminência de fechar as portas, o Hospital Nossa Senhora da Saúde, em Diamantina, região Central, padece de falhas comuns às que resultaram no fim das atividades de outras 130 instituições médicas no Estado, nos últimos cinco anos: má gestão e escassez de recursos.   O hospital não paga os salários dos médicos há pelo menos três meses. “Antigos gestores vinham aqui só para assinar cheques e nem sabiam o que estava acontecendo”, afirmou a atual provedora da unidade, Gislene Motta, no cargo há um ano.   O repasse de recursos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por procedimento realizado, é insuficiente, afirma o subsecretário de Ações em Saúde de Minas Gerais, Maurício Botelho. Por outro lado, afirma ele, com o aporte de investimentos estaduais e municipais, é possível cobrir todas as despesas.    Só no ano passado, cerca de R$ 500 milhões foram encaminhados pelo Estado a hospitais filantrópicos, segundo Botelho. “Fazemos a remuneração com critério na eficiência. Os hospitais com mais leitos ocupados são os que ganham o maior valor”.   Contraponto   Apenas quem está todos os dias dentro de um hospital conhece bem os desafios da administração, avalia o diretor da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Luiz Eduardo de Oliveira.   Embora reconheça a tentativa do Estado em apoiar as unidades de saúde, ele afirma que, atualmente, é preciso malabarismo e criatividade para gerir uma unidade de saúde sem cair no endividamento. “Os hospitais vivem um momento crítico. Alguns procedimentos da tabela do SUS ficam dez anos sem ajuste”, critica.   Ainda segundo Oliveira, a remuneração média do SUS corresponde a um quarto do valor repassado por planos de saúde e a um quinto de uma consulta particular.   O alto custo de medicamentos e insumos farmacêuticos também contribui para o rombo nas contas. “Nem todos os hospitais contam com pessoas com formação específica para administrar as contas. Às vezes é o médico que está por trás da gestão”, diz o presidente da associação.   Enquanto essa situação se arrasta, a população sofre para conseguir atendimento. Não há estimativa de quantas pessoas foram afetadas pelo fechamento de hospitais em Minas. Porém, afirma Oliveira, quem não consegue se deslocar do interior para os centros urbanos acaba prejudicado.   Reabertura   Em Santa Luzia, na Grande BH, o Hospital São João de Deus ganhou uma segunda chance de servir à população. Fechado havia quatro meses em consequência da falta de infraestrutura e de profissionais, a unidade reabriu ontem graças a um convênio entre a prefeitura e o governo do Estado. Cerca de R$ 1,3 milhão serão repassados mensalmente para bancar os custos.   Em BH, lei possibilita ampliação de unidades    No movimento inverso ao que ocorre no interior do Estado, pelo menos cinco hospitais em Belo Horizonte estão com projetos de ampliação. A expansão é possível graças a uma lei aprovada em junho, que flexibiliza o uso e ocupação do solo.   Juntas, as construções poderão oferecer 800 novos leitos. Segundo a coordenadora da Comissão Técnica de Infraestrutura e Meio Ambiente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Renata Miari, a nova lei, porém, poderia beneficiar diretamente outras 13 unidades de saúde, que também têm projetos de ampliação.   “Seriam 2 mil leitos a mais, mas esses hospitais terão de readaptar os projetos anteriores para atender às limitações da lei”.    Dentre os principais empecilhos, expõe Renata Miari, estão a obrigação de disponibilizar atendimento pediátrico e os limites de construção em Zonas de Proteção (ZP) 1 e 2 e Zona de Proteção Ambiental (ZPAM), onde o coeficiente construtivo é 2,5 vezes o tamanho do terreno, mas com a impossibilidade de verticalização do imóvel.   Uma das ampliações previstas em BH é a do hospital Unimed, no bairro Santa Efigênia. Serão criados 350 novos leitos, dobrando a capacidade de atendimento. A fase atual da obra é de contenção do terreno. Estão sendo providenciados documentos para o licenciamento da intervenção.   Minientrevista - Maurício Botelho (Secretário de Ações em Saúde de Minas Gerais)   O Hospital Nossa Senhora da Saúde, em Diamantina, ameaça fechar as portas sob a alegação de problemas financeiros. A Secretaria de Estadual de Saúde pode intervir?   Se tem uma cidade que não pode reclamar de falta de investimentos é Diamantina. Como o hospital também atende a municípios do Jequitinhonha, que é uma região carente, repassamos muito dinheiro à instituição. Só neste ano, foram R$ 10 milhões. Agora, temos de reconhecer que é uma unidade que deixa a desejar em sua gestão. É só comparar com o Hospital da Santa Casa, na mesma cidade, com praticamente o mesmo nível de investimento, mas que consegue se manter.    O Estado não poderia criar mecanismos para evitar que o dinheiro público seja mal administrado?   Não mandamos recursos sem critério. Nós fazemos estudos para verificar quais unidades precisam de investimento. Mas, dentro do Pro-Hosp (programa estadual de incentivos a hospitais), temos criado regras que induzem a melhoria na gestão. Por exemplo: se a ocupação de uma UTI ficar abaixo de 75% por mais de três meses, os leitos ociosos são retirados e encaminhados a um hospital que esteja com 100% de ocupação.   Qual o déficit de leitos em Minas Gerais?   Os grandes hospitais precisam ampliar a oferta de leitos. Por isso, o Estado tem estimulado a abertura de grandes hospitais, com capacidade de 250 a 300 leitos.   Leia mais na http://hojeemdiardp2.digitalpages.com.br/html/login/93

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