Mesmo com "extra" no salário, médicos não aparecem no interior de Minas

Renata Galdino - Hoje em Dia
22/09/2013 às 07:27.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:38

MOEDA – Nem o complemento salarial por parte de algumas prefeituras atraiu profissionais na primeira fase do programa Mais Médicos. Os especialistas, todos brasileiros, deveriam ter se apresentado em 47 cidades de Minas até o último dia 12.

Porém, levantamento feito pelo Hoje em Dia apontou que os profissionais não apareceram em pelo menos dez municípios. Em outras quatro localidades que tiveram mais de um médico designado, nem todos começaram a trabalhar. O balanço final da desistência, prometido pelo Ministério da Saúde para a semana passada, não ficou pronto até a última sexta-feira.

Reforço

O médico inscrito para atuar em Moeda, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, na região Central do Estado, pediu R$ 2 mil a mais do que o salário do programa, R$ 10 mil. O prefeito Jânio Moreira topou pagar, mas nem assim o profissional assinou contrato.

Ele iria chefiar a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) do posto em Pedra Vermelha, na zona rural, sem médico há três meses. Por causa disso, a moradora T.S.F., de 30 anos, nem procura mais ajuda por lá.

Em agosto, a jovem teve que arrumar um carro particular para levar o irmão em convulsão para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Barreiro, na capital, viagem que durou cerca de uma hora. “Não adianta procurar aqui, você espera demais por atendimento. Foi mais fácil levá-lo para BH”, afirma.

“A rotatividade é muito grande. Às vezes, temos a equipe completa. Mas uns 20 dias depois, por exemplo, o médico vai embora. Aí recomeça toda a maratona para contratar outro profissional”, diz o prefeito.

Para a secretária de Saúde de Moeda, Maria Parreiras, a falta de interesse dos profissionais deve-se às poucas opções de lazer e à distância dos principais centros urbanos. “Recentemente, um dos médicos montou um consultório de acupuntura e foi embora”.

A previsão é a de que outro especialista passe a atender em Pedra Vermelha a partir deste domingo (22). A contratação foi feita diretamente pela prefeitura, fora do programa federal.

A cidade tem mais dois PSFs. Um deles, o do bairro Porto Alegre, conta com dois médicos. O Central, onde também são feitas as consultas especializadas, conta com um profissional. Ao todo, cerca de 1.200 atendimentos são feitos por mês.

Auxílio-moradia

Em Betim, na região metropolitana (RMBH), o médico que se inscreveu para trabalhar na cidade pediu auxílio-moradia, apesar de residir na capital mineira. O valor solicitado não foi divulgado. A prefeitura chegou a oferecer estadia no bairro Colônia Santa Isabel, onde médicos do Hospital Orestes Diniz vivem, mas ele não se apresentou.

A Secretaria de Saúde de Betim não quis comentar a desistência. Por meio da assessoria de imprensa, informou que são necessários pelo menos 34 profissionais para atuar no PSF na cidade, número solicitado ao programa federal, em julho.

Designados somem sem dar qualquer satisfação

A desistência dos médicos frustrou vários municípios. O coordenador do Programa de Saúde da Família (PSF) de Sabará, na RMBH, Frederico Assunção Viana, diz que a cidade já tinha planos para os dois profissionais designados na primeira fase do Mais Médicos. O local onde iriam morar estava definido. “Ficamos aguardando e eles nem deram satisfação”.

O cardiologista Francisco Jardim, designado para Belo Vale, não entende o porquê das desistências. “Esses profissionais já sabiam como é o trabalho no PSF. Por que desistir depois de fazer a inscrição?”, questiona.

O prefeito de Moeda, Jânio Moreira, espera que o município consiga um médico pelo programa federal, mesmo que seja estrangeiro. “Se eles forem aprovados na avaliação e conseguirem entender nossa língua, não vejo motivos para não alocá-los em nossa cidade”.

Os inscritos que não se apresentaram aos municípios serão excluídos do programa e só poderão participar novamente seis meses após a notificação de exclusão.

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