Mina Pau Branco

Mineradora pagará mais de R$ 70 milhões por transbordamento que atingiu a BR-040 em fevereiro

Agência Brasil
12/12/2022 às 21:13.
Atualizado em 13/12/2022 às 16:08

A mineradora francesa Vallourec concordou em pagar R$ 73 milhões para compensar impactos ambientais e indenizar os danos morais coletivos causados no início do ano em Minas Gerais. Em 8 de fevereiro, um dique da mina Pau Branco, em Nova Lima, na Grande BH, transbordou. Não houve ruptura da estrutura, nem mortes, mas a rodovia BR-040 foi atingida pela lama e ficou interditada por quase dois dias.

O acordo em torno do valor foi selado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com o Ministério Público Federal (MPF) e com quatro órgãos ambientais do estado: a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) e o Instituto de Gestão das Águas (Igam). A mineradora também deverá adotar diversas medidas de reparação ambiental e de garantia de segurança de suas estruturas.

A Vallourec reconheceu ainda a penalidade administrativa imposta pela Semad. Ela deverá pagar em 10 dias uma multa de R$ 80 milhões. Esse valor representa menos de um terço da cobrança original. Logo após o episódio, o órgão ambiental aplicou uma multa de R$ 288 milhões. No entanto, a Semad admitiu no acordo que o cálculo considerou equivocadamente que a Vallourec era uma infratora reincidente. Nesse sentido, a multa foi recalculada e a mineradora concordou em retirar os recursos que contestavam a penalidade.

Impactos
Conforme nota divulgada pelo MPF, o transbordamento causou impactos ambientais, sociais e econômicos na região e os estudos ainda estão em andamento.

"Já se sabe que a sub-bacia do córrego Cachoeirinha e a Lagoa do Miguelão foram diretamente atingidos, com alteração da qualidade da água, supressão de vegetação e assoreamento das margens e leito dos cursos de água naturais ali existentes. Também houve prejuízos ao habitat da fauna silvestre", registra o texto. Ainda segundo o Ministério Público Federal, a lama atingiu três unidades de conservação.

Na mina Pau Branco, a Vallourec adota um método do empilhamento a seco, conhecido também pela expressão em inglês dry stacking (empilhamento seco): a água filtrada é reutilizada no processo produtivo, enquanto o rejeito é disposto em pilhas, dispensando assim o uso das barragens.

Essa alternativa, embora seja mais custosa, tem se tornado atraente em meio a mudanças na legislação ambiental brasileira adotadas após as tragédias ocorridas em Mariana (MG) e Brumadinho (MG). Muitas das grandes mineradoras que atuam no país, como a Vale e a Usiminas, têm caminhado nessa direção em algumas de suas unidades.

Apesar do otimismo publicamente manifestado pelas mineradoras com este método, o episódio ocorrido na mina Pau Branco levantou o alerta. O transbordamento ocorreu no dique que capta a água da chuva que passa pela pilha de rejeitos. O nível da água se elevou porque parte do material empilhado escorregou para o reservatório.

Na época, o engenheiro e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Massao Futai, disse à Agência Brasil ser preciso aprofundar os conhecimentos sobre o método. "São coisas para se estudar. Essas pilhas estão começando a ser construídas e vão atingir alturas consideráveis. Mas deve demorar algumas décadas para chegarmos nesse cenário", afirmou.

Medidas
O acordo atual da Vallourec com o MPF é um desdobramento das tratativas que já haviam gerado um termo preliminar, assinado alguns dias após o transbordamento. Na ocasião, foram pactuadas medidas emergenciais como o ressarcimento das despesas geradas aos órgãos públicos, a elaboração de um plano de segurança e monitoramento da área e a adequação de rotas de fuga, pontos de encontro e sistemas de alarme, sempre considerando o pior cenário possível. Também foram definidas medidas de assistência para os moradores que precisaram ser desalojados.

A evolução das tratativas levou ao novo acordo. Os R$ 73 milhões serão destinados a projetos socioambientais ou socioeconômicos localizados na área de influência direta ou indireta da mina Pau Branco, para apoio a entidades envolvidas na proteção ambiental, para fundos públicos e para projetos de iniciativa dos órgãos ambientais mineiros.

Além de arcar com o montante, a Vallourec deverá apresentar relatórios mensais sobre estabilidade e segurança na mina Pau Branco, realizar monitoramento contínuo das estruturas e contratar uma auditoria independente para acompanhar o cumprimento das obrigações pactuadas.

A mineradora também precisará garantir recursos e insumos para o funcionamento de estruturas provisórias do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). O local onde ele era mantido desde 2009 foi atingido pela lama e precisou ser desativado, não havendo ainda uma solução definitiva.

Resposta da mineradora
Em nota enviada ao Hoje em Dia, a Vallourec confirmou que celebrou o Termo de Compromisso Definitivo sobre os impactos provocados pelo transbordamento do dique Lisa. "Por meio do referido termo, a Vallourec reitera o compromisso de continuidade das medidas de recuperação integral de todas as ocorrências ambientais".

"Além disso, foi fixado o valor de R$ 80 milhões de multa referente ao Auto de Infração aplicado pela Semad, cujo pagamento será efetuado no prazo de 10 dias. Foi estabelecido, ainda, a título de compensação ambiental, o pagamento de R$ 73 milhões pela Vallourec a ser destinado a projetos em prol das comunidades afetadas", informou a mineradora.

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