Mobilidade na avenida Nossa Senhora do Carmo sem solução em curto prazo

Letica Alves e Iêva Tatiana - Hoje em Dia
23/05/2015 às 07:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:10
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Um dos principais corredores viários da zona Sul de Belo Horizonte, a avenida Nossa Senhora do Carmo continuará a dar muita dor de cabeça diária a motoristas, usuários do transporte coletivo e moradores do entorno. Não há solução rápida para o trânsito intenso da via, que recebe cerca de 95 mil veículos por dia.   A BHtrans chegou a contratar uma consultoria privada para avaliar alternativas viárias mais adequadas. Porém, o prefeito Marcio Lacerda praticamente descartou qualquer modificação de imediato. “Ali (Nossa Senhora do Carmo) não dá para fazer realmente o BRT ou outra solução”, afirmou, ontem, o chefe do Executivo Municipal, durante o 2º Fórum Nacional de Mobilidade Urbana, realizado na capital.   O consultor em engenharia de tráfego Frederico Rodrigues lembra que a via liga importantes bairros de classe alta à região central da cidade, mas tem topografia complicada e trechos de sérios estrangulamentos. “Provavelmente, os custos de implantação do BRT se inviabilizam devido às desapropriações necessárias”, explica.   O estudo encomendado pela BHtrans chegou a apontar o metrô como a solução mais viável, mas não há previsão para obras.   Fórum   Organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o fórum de mobilidade reuniu especialistas de várias áreas. Segundo eles, a melhor solução para BH seria a ampliação da linha do metrô e a criação de novas rotas, de maneira a atender, sobretudo, a região central da cidade.   Mas, segundo o consultor econômico Raul Velloso, um dos debatedores do fórum, a resposta para o problema local esbarra na falta de recursos do governo federal, que já anunciou um corte de cerca de R$ 70 bilhões no orçamento da União. “Projetos de mobilidade exigem alto grau de participação do setor público, principalmente, em investimentos. Mas o governo não tem dinheiro, está em crise”, afirma Velloso.   Sinal vermelho   Para os belo-horizontinos, a luz no fim do túnel parece estar muito distante. De acordo com o consultor, investir em Transporte Rápido por Ônibus (BRT, na sigla em inglês, ou Move, como é chamado aqui) não trará resultados práticos. As opções, aqui, são limitadas e dispendiosas.   “Infelizmente, vai ter que ir pro buraco (metrô), mas é caro e leva tempo, de seis a oito anos. O governante do momento não se interessa, porque vai passar do mandato dele. Temos todos esses problemas que dificultam a resolução”, conclui.   O presidente do Conselho do Lide de Minas Gerais, Paulo César de Oliveira, aponta mais uma razão para a estagnação do transporte por trilhos. “Minas não briga muito por isso, então, estamos há uns 20 anos sem metrô, e nada acontece, enquanto outras capitais já conseguiram esse e outros benefícios”.   Saída   O secretário de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Dario Lopes, defendeu a informatização da comunicação como o melhor caminho. “Hoje, mover-se pelas cidades começa a ficar mais fácil pela quantidade de informação disseminada na rede”, destacou, apontando o exemplo de Helsinki, na Finlândia, que já permite o planejamento de viagens por meio de compartilhamento de bicicletas e veículos coletivos, reduzindo o número de automóveis individuais.   No Brasil, o secretário adiantou que, a partir do mês que vem, usuários do aplicativo de trânsito Moovit poderão opinar sobre o andamento de obras com aportes do Ministério das Cidades. (Colaboraram Renato Fonseca e Sara Lira)   Presidente da BHTrans confirma edital para implantação do BRT na avenida Amazonas   O edital para elaboração do projeto do Move na avenida Amazonas já está sendo elaborado, segundo o presidente da BHTrans, Ramon Victor César. O corredor de ônibus terá 9 km de extensão, entre a avenida Paraná, no centro, e o Anel Rodoviário, no bairro Madre Gertrudes, na região Oeste da capital.    “Estamos preparando a contratação dos projetos para lançar o edital. Precisamos ainda da assinatura de convênio com o governo federal”, afirmou o gestor, que também participou nesta sexta-feira (22) da 2ª edição do Fórum Nacional de Mobilidade Urbana, realizado nesta sexta-feira, na capital mienira.    A assessoria de imprensa da BHTrans não informou qual a previsão de início das obras, mas destacou que após a liberação dos recursos, será iniciado o processo de licitação para contratação e execução da obra.    Outra obra do sistema Move que ainda aguarda recursos para ser iniciada é a construção da estação de transferência São José, próximo à avenida Tancredo Neves, no vetor Noroeste de Belo Horizonte.    A estrutura deverá ser utilizada para a implantação de outro ramal do sistema, que atenderá a avenida Pedro II. Para que a obra saia do papel, ainda é preciso garantir cerca de R$ 70 milhões.    Centro    Como objetivo de priorizar o transporte público e os pedestres, diversas intervenções foram feitas no hipercentro da cidade em um pacote de obras chamado de Mobicentro. A mais recente mudança foi nas ruas Espírito Santo e Tupis, no quarteirão anterior à avenida Afonso Pena, que tiveram o sentido alterado. (L.A.)   Prefeito prevê que novo Plano Diretor vai desagradar mercado mobiliário da capital   O prefeito de Belo Horizonte prevê um embate com o mercado da construção civil na capital nas discussões para a aprovação do novo Plano Diretor da cidade. Focado na mobilidade urbana, o projeto pretende reduzir o ritmo de construção de moradias na região central da cidade. O texto deve ser encaminhado para a Câmara Municipal nas próximas semanas.    Entre as principais mudanças previstas está a redução do potencial construtivo em algumas regiões da cidade, entre elas o perímetro da avenida do Contorno, onde o valor passaria de 2,7 para 1.    Na prática, significa dizer que em um lote de mil metros quadrados, onde poderiam ser construídos 27 apartamentos de 100 metros cada, seriam erguidos apenas dez.   “Vamos ter adversários do mercado imobiliário que têm interesses legítimos, mas estão pensando em curto prazo em detrimento do interesse da maioria da população”, destacou o prefeito.    O vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon), Lucas Guerra Martins, acredita que as mudanças podem encarecer o valor final dos imóveis. “Foi um plano feito dentro da prefeitura sem a participação de ninguém e que poderá impactar no valor do imóvel na cidade, que já é caro”. (L. A.)   Depoimentos   “O trânsito por aqui (Nossa Senhora do Carmo) é péssimo. Sempre muito engarrafado, principalmente no início da manhã quando a situação é ainda pior” Marcos de Alencar, 37 anos, publicitário     “A via é muito estreita para tantos carros, enquanto os passeios são muito largos. Se as calçadas fossem reduzidas, já desafogaria o trânsito. Chego a gastar quase uma hora entre os bairro Serra e Carmo trafegando pela Nossa Senhora do Carmo” Thiago Nicácio, 31 anos, fisioterapeuta     “A avenida Nossa Senhora do Carmo é bastante apertada para os muitos veículos que circulam nela. Com isso, o trânsito fica ruim” Matheus Rigueira, 23 anos, analista     “Pego ônibus no Barreiro e desembarco no Carmo todos os dias. Gasto uma hora e meia nesse trajeto. Mesmo tendo pistas exclusivas para os ônibus, nos horários de pico as vias ficam congestionadas. Se fosse colocado o BRT/Move aqui e alargassem a pista para os veículos, acredito que melhoraria para todos” Yuri Cunha, 21 anos, universitário     “Pego ônibus na Nossa Senhora do Carmo para ir até Rio Acima (Grande BH). Durante o dia flui de forma normal, mas depois das 18h os pontos ficam lotados” Lara Elias, 19 anos, auxiliar de dentista

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