(PRF/Divulgação)
Os acidentes de trânsito matam mais que os crimes violentos no Estado. Balanço da companhia Líder, responsável pelo seguro entregue às famílias das vítimas, mostra que 4.127 indenizações foram pagas em 2018. O número é 33% maior se comparado à soma de homicídios, lesões corporais e latrocínios registrados no ano passado, quando 3.099 mineiros perderam a vida após serem alvo da bandidagem.
Para especialistas, a constatação preocupa e reforça o alerta para a campanha “Maio Amarelo”. O movimento chama a atenção para a redução das estatísticas de violência no tráfego por meio de blitze e ações educativas. Já as autoridades afirmam que os dados indicam a necessidade da mudança de comportamento por parte dos condutores.
Na última semana, a suposta imprudência de um motorista ao trafegar na contramão é apontada como principal causa de um grave acidente envolvendo um carro e uma caminhonete, que matou três pessoas na BR-459, em Santa Rita de Caldas, Sul de Minas. Uma grávida de 20 anos, uma adolescente de 15 e a mãe dela, de 44, que estavam no veículo de passeio, morreram após a batida.
Professor de infraestrutura urbana e rodoviária das Faculdades Kennedy, Emerson Souza acredita que campanhas de conscientização são métodos importantes, mas insuficientes no combate aos abusos cometidos no trânsito. O docente defende mais operações de fiscalização e aumento na punição dada aos infratores.
Para Souza, o valor das multas deveria ser revisto. “É o ditado de fazer doer no bolso. Se o condutor ultrapassa a velocidade, ele paga R$ 130 e tem quatro pontos na carteira. É um custo relativamente baixo que não vai impedir que ele continue desrespeitando as leis”, diz.
Já o professor de engenharia de transportes do Cefet-MG, Agmar Bento, considera a legislação brasileira eficaz. No entanto, acredita que há falha no processo de formação dos motoristas e na renovação das licenças. Além do exame médico, o especialista defende reciclagem a cada cinco anos.
“Depois de habilitado, o condutor não é reavaliado para saber como está dirigindo. Acredito que um teste neste sentido, e também um teórico, para saber como estão os conhecimentos dele, são necessários”, sugere Agmar.
O professor demonstrou preocupação com medidas discutidas recentemente no âmbito federal. O especialista definiu como retrocesso a proposta do Ministério da Infraestrutura de elevar de 20 para 40 o limite de pontuação para a cassação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Outra crítica é sobre a exclusão de 8 mil radares em rodovias federais do país e o aumento no prazo de renovação da CNH de cinco para dez anos, anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro, mês passado.
“Vai na contramão da realidade do Brasil, porque os condutores não respeitam a sinalização. Ao tirar os radares você está incentivando o motorista a dirigir em uma velocidade acima do regulamentado”, afirma.
Falha humana
Nove em cada dez acidentes atendidos pelo Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, em Belo Horizonte, são provocados por falha humana. O alerta foi reforçado pelo assessor de comunicação da corporação, o tenente Marco Antônio Said.
“A gente faz blitze estratégicas, estamos fazendo palestras para crianças nas transitolândias, em escolas e em empresas de transporte. Mas o papel principal é do motorista respeitando as normas”, diz o oficial.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também destacou que “a maior parte dos acidentes atendidos está ligada a falhas humanas”. A PRF informou que faz alertas e campanhas educativas, além de fiscalizar as estradas “diuturnamente”.
Mesma postura com ações pontuais para coibir a imprudência de condutores é realizada pelo Detran-MG. O órgão reforça que “cumprindo a legislação, em conjunto efetivo com as campanhas educativas, é possível garantir um trânsito mais seguro”.
Governo federal
A assessoria de imprensa da Presidência da República foi procurada para comentar as críticas sobre as possíveis mudanças na elevação da pontuação para a cassação da carteira, redução de radares e mais prazo para a obrigatoriedade da renovação da licença. No entanto, o órgão disse que não iria se manifestar.
Em recente entrevista ao canal SBT, no último dia 5, Bolsonaro reafirmou o desejo de alterar o sistema de fiscalização eletrônica e a pontuação da CNH.
“Vinte pontos se perde com muita facilidade. Você não tem mais prazer em dirigir, a qualquer lugar que você vá está cheio de radar. O radar extrapolou a ideia de proteger a vida, é caça-níquel para aumentar a arrecadação. É dinheiro que tira do povo”, argumentou o presidente.
*Com Agência Brasil
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