Risco desenfreado

Moto é o veículo que mais mata no trânsito em BH

Para especialistas, um dos principais problemas é a formação dos motociclistas. Para tirar carteira, eles são avaliados em uma motopista e, depois, recebem o aval para rodar em qualquer via, mesmo sem experiência

Bernardo Haddad
@_bezao
16/09/2024 às 07:43.
Atualizado em 16/09/2024 às 15:26
FLAGRANTE - motociclista utiliza o telefone celular enquanto pilotava a moto com apenas uma das mãos (Hoje em Dia)

FLAGRANTE - motociclista utiliza o telefone celular enquanto pilotava a moto com apenas uma das mãos (Hoje em Dia)

De cada dez veículos envolvidos em acidentes de trânsito com morte na capital, quatro são motos. De janeiro a julho, óbitos foram registrados em 98 batidas, capotagens e atropelamentos. As causas das fatalidades são variadas, como falta de atenção, abuso, maior presença de entregadores e mototáxi e até a ineficiência do transporte público – que leva muitos a optarem pelas motocicletas para se locomover. Para especialistas, o enfrentamento ao problema começa pela formação dos pilotos na hora de tirar a carteira.

Nos primeiros sete meses deste ano, 62 motos se envolveram em acidentes que tiraram a vida dos próprios pilotos, motoristas e pedestres. O número representa 43% dos 142 veículos envolvidos nas ocorrências. Os dados são do Observatório da Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança (Sejusp).

O levantamento mostra que a “culpa” não é só dos motociclistas. Quem está a pé ou ao volante também contribui para o trânsito perigoso devido à desatenção ou imprudência. Em 14 acidentes, a atitude inadequada do pedestre foi a causa presumida do sinistro. Em outras sete, motoristas estavam acima da velocidade permitida. 

Má formação

Os números são altos e preocupam, reforça o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra. Ele alerta para a má formação dos motociclistas, comportamentos de risco, desafios da mobilidade no trânsito e até a saúde mental das pessoas, citando que alguns ficam, inclusive, agressivos no trânsito.

O médico lembra que os pilotos são treinados, avaliados e aprovados em uma motopista. Mas, no dia seguinte, eles têm a licença para circular em qualquer via, sem o treinamento prévio. 

Para o especialista, o elevado número de motociclistas nas ruas também é motivado pelas dificuldades enfrentadas nos deslocamentos por meio do transporte público.

Alysson Coimbra também chama a atenção para a impulsividade, busca por adrenalina e até o aspecto psicológico dos jovens pilotos. 

“Muitos enfrentam desafios como ansiedade, depressão e pressão social, que podem afetar sua capacidade de tomar decisões seguras no trânsito”.

O médico acrescenta ser “essencial” reconhecer a importância da avaliação psicológica para a segurança no trânsito. “Esse exame é realizado somente no momento da primeira habilitação e nunca mais”. 

Falta de experiência 

Presidente do Sindicato dos Motociclistas e Ciclistas e Transporte de Motofrete de Minas, Rogério dos Santos Lara diz que a pandemia da Covid-19 aumentou o número de motoboys na capital, contribuindo para “desenfreada” chegada de entregadores no mercado.

Lara afirma que falta experiência a muitos deles. “Não houve uma fiscalização das autoridades e essas pessoas continuaram no mercado, desqualificadas profissionalmente, não tendo experiência para trabalhar em cima de uma moto, andando em uma velocidade acima do permitido”.

*Estagiário, sob supervisão de Renato Fonseca

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