Mulheres de diferentes partes do mundo falam como são felizes em BH

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
pdumont@hojeemdia.com.br
08/03/2015 às 08:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:16
 (Carlos Rhienck / Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck / Hoje em Dia)

Do outro lado do mundo, formadas em diferentes culturas e com olhares distintos. Como elas se veem mulheres? Cinco estrangeiras, enraizadas no Brasil, mais precisamente em Belo Horizonte, falam, cada uma a seu modo, sobre como é manter as próprias virtudes, os costumes e sobre aprender a se olhar sob uma nova perspectiva: como forasteiras. Apesar das particularidades, provam que ser mulher vai além da feminilidade, da oposição à figura masculina, mostram-se verdadeiros baús de cultura, de sonhos e de desejos e, não importa onde vivam ou se têm fé, querem o que todo ser humano almeja: sentir-se bem e feliz.  Um desejo: ser felizCarlos Rhienck/Hoje em Dia Da comunidade de Acquafredda di Millesimo, na província de Savona, no Norte da Itália, para a capital dos mineiros. Poliglota, especialista em direito tributário, altamente altruísta e fraternal, Elisabetta Scolaro, de 30 anos, vive há um em Belo Horizonte, para onde veio com o namorado, brasileiro. Tempo suficiente para tirar algumas conclusões. “Se perguntar a uma mulher daqui qual o sonho dela. De modo geral, é casar. O meu é ser feliz, ter saúde, compartilhar minha vida, crescer e ser melhor para os outros e para mim. Sonhar em casar é muito redutível”. A despeito da distância das origens, a moça de sorriso fácil e simpatia irretocável mantém quase intactos hábitos simples, tradicionais, como o de esticar a massa do tagliatelle na cozinha de casa e jantar à mesa posta degustando um bom vinho. Também não abandona costumes cultivados ao longo do tempo e vive, do lado de cá, como de fato viveria uma italiana em terra de brasileiro. “Acho a cidade provinciana se comparada ao Rio e São Paulo. É engraçado, a tradição é muito forte. Me comporto da forma como gosto e me sinto bem. O único hábito das brasileiras que adotei foi o de fazer as unhas. No mais, faço o que me deixa à vontade, tentando não comparar”.  Tradição à flor da peleRicardo Bastos/Hoje em Dia Ela não revela a idade, fala pouco sobre a vida particular e a família. Najia Bayazid, muçulmana ortodoxa, vive em BH há 23 anos com o marido e os três filhos, todos nascidos aqui. A vida dela, para onde quer que fosse, seria a mesma, norteada pelo Alcorão. “Se a pessoa é muito fiel, tem muita fé e respeita a Deus, ela segue ao pé da palavra. Independentemente de onde estiver, vou seguir o que está entre as capas do livro. Somos submetidos à palavra dele, porque Ele é nosso criador e é a Ele que devemos obedecer”. Sem constrangimento algum ou qualquer tipo de autocensura, a economista por formação, tradutora, intérprete e comerciante por opção, preserva sob o véu a cultura islâmica: de se guardar para o marido e proteger-se das coisas profanas. “Dentro de casa, a mulher pode fazer o que quiser, mas, fora, deve se preservar. Fico bonita para o meu marido, mas não posso deixar que outro homem se sinta atraído”.  De alma e coração brasileirosSamuel Costa/Hoje em Dia Poderia-se dizer que Hana Khowli, de 70 anos, é a estrangeira mais popular do Mercado Central, mas não é só isso. A comerciante, proprietária de um empório no local, veio de Haifa, uma das maiores cidades de Israel, há 40 anos, e enraizou-se. Chegou em 13 de maio de 1976 por causa da guerra civil no Líbano. Trouxe três filhos, sendo um deles, uma menina, de apenas 45 dias. “Foi difícil, mas já me acostumei. Não falava português, não usava calça comprida”, conta. Uma conversa, difícil de ser rápida, tendo vista tantas histórias e casos, desvenda tudo. Hana “virou brasileira”. Não abre mão da comida típica – charuto, kafta, abobrinha recheada – nem da adoração a Alá. Também não dispensa o delineado dos olhos verdes pelo famoso kajal árabe e não remove as pulseiras de ouro do braço direito nem para dormir. “Gosto daqui, sou feliz assim. Me acostumei à vida nova”. Do rigor à afeiçãoEugênio Moraes/Hoje em Dia Conhecer a guia turística Masako Murase, ser recebida com chá verde e biscoitos orientais e não se encantar é impossível. A doce senhora japonesa despiu-se de uma série de costumes, muito rígidos, e rendeu-se à afeição do brasileiro. Pudera! Dos 70 anos de vida, 54 foram passados em Belo Horizonte. “Gosto mais do Brasil do que do Japão. Os brasileiros têm coração quente, japoneses são mais frios, distantes”. Verdade seja dita, Masako, que também é professora de odori (típica dança do país), mantém, dentre alguns poucos hábitos nativos, a alimentação – só come, por exemplo, arroz japonês –, a leitura de livros na língua materna e a crença budista. E revela segredos que, diga-se de passagem, valem a pena ser anotados. “Deixo a fruta de molho, morango, abacate ou goji berry, e passo sobre os olhos como se fosse um suquinho. Deixo uns 15 minutos e lavo. Também tomo suco verde de manhã e chá verde três vezes por dia”. Masako é dessas mulheres fortes, que deixam-se enveredar pela vida sem medo de ser feliz. “Lá, a gente se cumprimenta curvando-se diante do outro, mas acabei pegando isso de abraçar a beijar. Um dia cheguei na minha cidade e fui correndo de braços abertos para uma amiga. Ela se afastou”.  Bagagem cultural para a ÁfricaLuiz Costa/Hoje em Dia Há dois anos, Marlene Monou, de 22 anos, partiu de Benim, no oeste da África, para o Brasil. Trocou Porto-Novo por Belo Horizonte e o curso de comunicação e propaganda pelo de turismo. Com a ajuda do namorado, do Congo, que conheceu no campus da UFMG, encara a vida longe da família para ganhar experiência e voltar para casa. “Escolhi fazer turismo porque queria ser aeromoça, mas, agora, ao longo do curso, percebi que tem muitas coisas que posso fazer pelo meu país. Estou gostando mais ou menos de morar aqui, sinto saudade e às vezes quero falar com alguém da família”, revela. Sobre o choque cultural, ela é enfática. “Nunca tinha visto uma mulher de biquíni no meu país. Nem mesmo as brancas que vão para a África usam, porque sabem da nossa cultura. Também já percebi que muitas brasileiras não sabem cozinhar e, no meu país, com 7 anos já estamos cozinhando”. Para se adaptar ao novo lar, Marlene tem optado por deixar no armário algumas das peças de roupas típicas de seu país. São vestidos, saias longas e conjuntos muito estampados e coloridos. “Quando me visto assim, chamo muita atenção. As pessoas ficam curiosas e até querem tirar foto”. 

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