(Frederico Haikal)
Elas não se contentaram em somente dar à luz e criar o próprio rebento. Para algumas mulheres, a missão de ser mãe vai além. Por isso, dedicam-se a filhos de outras pessoas em projetos sociais e serão lembradas com carinho especial neste Dia das Mães. O salário é o carinho que recebem de quem assistem. Que o diga a empresária Bebel Quinlan, de 45 anos, diretora do projeto Compaixão, criado há oito anos no Aglomerado da Serra, zona Sul da capital. “Ela também é minha mãe. Brinca com a gente, dá atenção. Não quero sair daqui tão cedo”, diz Aílton Lucas Lopes, de 11 anos, participante há três meses das atividades em arte, educação e esporte oferecidas pela ONG. Mãe de Donny, de 24 anos, Danielle, de 22, e Angel, de 11, Bebel se desdobra em cuidados com a família e mais cem crianças e adolescentes atendidos no Compaixão. A proposta nasceu do desejo da empresária de adotar. O marido, o músico David Quinlan, não quis. “A família dele cuidou de uma menina e a mãe biológica reapareceu para levá-la, uma experiência ruim”, conta. Se não podia acolher outro em casa, por que não “adotar” muitos em um projeto? “Era um amor tão grande que precisava compartilhá-lo. Sou como milhões de brasileiras: esposa, mãe, trabalho fora e em casa, mas amo isso”, diz. O carinho às crianças “adotadas” é o mesmo dispensado aos filhos, garante Bebel. “Não quero oferecer a elas menos do que faço em casa”, afirma. Com a mesma premissa trabalha, desde 1986, a médica holandesa Irene Adams, de 74 anos, idealizadora do projeto Ammor, desenvolvido no bairro Bonfim, Noroeste de BH. O programa consiste em orientar crianças e adolescentes em risco social que vivem em abrigos sobre saúde. “Tenho dois filhos e 2.500 meninos, mas trato todos com amor de mãe”. A médica acredita ser uma forma de compensar a distância dos filhos biológicos, Anemarie, de 47 anos, e Jasper, de 46. A mais velha está na Bélgica com o marido e os dois filhos. O rapaz, nos Estados Unidos com a namorada. Morando sozinha, Irene vê as crianças como parte da família. “A mesma felicidade com as conquistas dos meus filhos sinto quando uma delas se dá bem na vida. É gratificante reencontrar quem eu atendi há 25 anos com família bem estruturada. Sei que parte do que fiz contribuiu para isso”. Colo para quem se aflige com a maternidade Existem casos em que mães cuidam de outras mães, como Vera Lima, de 35 anos. Há três ela dirige a Brazil 4Life, braço de uma organização internacional sem fins lucrativos que presta apoio a mulheres com gravidez indesejada. Vera é responsável pelo projeto no país, abrindo núcleos e capacitando voluntárias para lidar com as gestantes. Mas não significa que ela deixe de atender as futuras mamães pessoalmente. A decisão de participar do projeto surgiu depois que Vera veio de São Paulo para Belo Horizonte, em 2008. “Lia notícias de mãe que jogou o filho na lagoa, de outra que espancou a criança, vários casos de aborto. Pensava em como essas mulheres estavam desperdiçando a chance de ver o filho dando os primeiros passos, pronunciando as primeiras palavras. Precisava fazer algo”. Mãe de Dênis, de 9 anos, e Isabela, de 3, Vera passa a manhã por conta dos trabalhos da ONG. Cerca de 40% das gestantes atendidas são adolescentes. “As mais novas nos enxergam como mãe, já que não tiveram esse carinho. E acabamos sendo, tratando com amor e autoridade, como uma mãe deve agir”. As mulheres assistidas recebem acompanhamento para que desistam de uma eventual ideia de aborto e contam até com ajuda para um recomeço, caso estejam em apuro financeiro. É o caso da dona de casa Marileuza Batista, de 27 anos. Há dois, ela descobriu que estava grávida de Cleverson, hoje com um ano e três meses. “Se não fosse a Vera e equipe, não saberia o que teria sido de mim naquela época. Foi um trabalho de mãezona mesmo, todo o cuidado que teve comigo e com meu filho”.