(Ricardo Bastos / arquivo Hoje em Dia)
Homens, mulheres e crianças dividem o espaço de becos e ruelas com policiais fortemente armados, empunhando fuzis ou espingardas. Os ônibus, que voltaram a circular na parte alta, se misturam à passagem de viaturas por todos os lados. Assim segue a vida no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, cinco dias depois do episódio que voltou a “sacudir” o morro – a morte de um morador por um militar.
Mas essa aparente tranquilidade vai durar até quando? Moradores que apoiam a presença da PM afirmaram, ontem, que a criminalidade voltará a “dominar” o morro assim que a polícia se desmobilizar. Alegação confirmada, inclusive, por quem comercializa drogas. “Sabe como é moça, com os ‘gambé’ (policiais) espalhados aqui, não tem como manter o movimento do tráfico”, afirmou um jovem aparentando entre 17 e 20 anos.
Ele estava acompanhado de outro rapaz, da mesma faixa etária, que atestou.
“Reforçam o policiamento quando eles mesmo (PMs) fazem bobagem. Mas é melhor eles saírem rápido porque, do jeito que está, os ‘negócios’ não andam”. Recado dado, os jovens viraram as costas e voltaram para o beco de onde surgiram.
Clima de medo
Entre os cidadãos de bem, há apenas um consenso: o de falar sobre o assunto somente no anonimato. Prova de que o receio de exposição, com ou sem polícia por perto, permanece.
A justificativa vem de um senhor de 62 anos, que alega conhecer bem como tudo funciona. “Agora, tem militares pra ‘dar e vender’. Depois, eles saem e ficamos à mercê dos ‘outros’. Daí, quem falou demais vai ter que arcar pelo que disse”.
Retaliações à parte, há quem defenda a permanência constante do policiamento reforçado. “Quem não deve não teme. Aliás, quem não deve torce para que as coisas fiquem do jeito que estão. Mais segurança é bom aqui e em qualquer outro lugar”, observa um aposentado, morador do aglomerado há 32 anos.
A opinião de uma dona de casa de 38 anos é diferente. “Não tem necessidade disso. Temos condições de seguir a vida sem eles (policiais)”. A mobilização da PM no Aglomerado da Serra não tem data para acabar, segundo o comando do 22º Batalhão.
Queima de ônibus
Cientes do impacto de sua presença na ação dos criminosos, policiais do Grupo Especializado de Patrulhamento em Área de Risco (Gepar) continuam o trabalho. “Eles queimam ônibus para manter a polícia longe, mas o tiro acaba saindo pela culatra”, afirma um soldado.
O vigilante José Silvestre, de 51 anos, não se importa em falar abertamente sobre o clima no aglomerado. “Com a polícia, quem age fora da lei recua e todos nós somos beneficiados. Ninguém quer ficar sem ônibus e outros serviços básicos”. Mesmo posicionamento tem o pedreiro José das Graças, de 55 anos. “Sou a favor dos bons policiais, assim como dos bons moradores”.