Norte de BH lidera crimes sexuais contra menores

Ernesto Braga - Hoje em Dia
02/09/2013 às 06:35.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:32

Abandonado pela mãe, M., de 14 anos, passa as noites em uma praça do Barreiro. A pequena F., de 5, foi abusada sexualmente pelo padrasto no bairro São Paulo. Mais velho de quatro irmãos, C., de 15, anda pelo Centro pedindo esmolas para alimentar a família.
 
Crimes contra crianças e adolescentes espalham dramas por toda Belo Horizonte. Baseado em estatísticas dos conselhos tutelares, de janeiro a julho deste ano, o Hoje em Dia traçou o mapa desse tipo de violência na capital e, até quarta-feira, vai mostrar a triste realidade de algumas vítimas.
 
Os dados apontam que as violações sexuais são mais comuns nas regiões Norte, Nordeste, Oeste, Pampulha e Venda Nova.
 
A Centro-Sul concentra casos de mendicância, trajetória de rua e trabalho infanto-juvenil. Na Leste, Noroeste e Barreiro predominam negligência e agressão.
 
Muitos dramas
 
Enquanto a mãe de F. trabalhava, a garotinha de 5 anos ficava em casa com o padrasto, de 30. “Uma vizinha me alertou que bastava eu sair para ele dar banho na menina. Estranhei, pois eu a deixava de banho tomado. Um dia meu ex-companheiro me confessou que sentia prazer ao tocar o corpo da minha filha, mas se eu o denunciasse ele mataria todo mundo”.
 
Com medo, a mãe da criança decidiu não procurar a polícia e confiar na promessa do abusador. “Ele saiu de casa e disse que nunca mais vai voltar, mas vivo assombrada”.
 
A angústia se repete em outros lares da região Nordeste, onde houve o maior número de casos de violência sexual intrafamiliar nos primeiros sete meses do ano: 28 dos 162 (17,2%). Nas ocorrências em que o algoz não vive sob o mesmo teto da vítima, a Norte aparece no topo do ranking, com 38 das 163 (23,3%).
 
Na Oeste, há mais casos de exploração sexual, em que o corpo do menor é ofertado em troca de dinheiro: três dos 12 registros (25%).

“Crimes contra a liberdade sexual causam agressão social e grande revolta entre as vítimas. E, em muitos casos, ocorridos no seio da família, o papel da figura materna de denunciar é deixado de lado para preservar o abusador”, afirma o especialista em medicina-legal André Roquette, diretor do Instituto Médico-Legal de BH.
 
Região da Pampulha concentra pontos de prostituição
 
Na divisa com a região Norte, Pampulha e Venda Nova também estão “contaminadas” pela violência sexual contra crianças e adolescentes.
 
A presença das vítimas em pontos de prostituição é confirmada pela polícia. “Tivemos um caso de uma adolescente encontrada em um motel da Pampulha usando carteira de identidade falsa, se passando por maior de 18 anos”, afirma a delegada Iara França, adjunta da Delegacia Especializada em Proteção da Criança e do Adolescente (Depca).
 
Segundo a delegada, “é comum a família apoiar a prostituição, por entender que se trata de uma forma de ganhar dinheiro fácil”.
 
Na rede

 
O único caso de pedofilia confirmado pela polícia, neste ano, na capital, foi registrado na Pampulha. A delegada ressalta que o crime é relacionado ao aliciamento e à pornografia na internet.
 
Venda Nova foi palco da única ocorrência de tráfico para fins de exploração sexual. “É quando a vítima é trazida para a cidade para se prostituir”, explica Iara.
 
 
O atendimento psicossocial de menores que sofreram violência sexual é feito em uma “sala lúdica” criada no IML em setembro de 2012.

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