Os latrocínios em Minas Gerais cresceram 42% nos primeiros dez meses deste ano. De janeiro a outubro foram 90 ocorrências registradas, contra 63 no mesmo período de 2019. As estatísticas chamam ainda mais atenção porque 2020 nem acabou e os casos já superam os do ano passado, que fechou em 74 roubos seguidos de morte.
Os números, inclusive, vão aumentar. Semana passada, o funcionário de um supermercado no bairro Tupi, região Norte de Belo Horizonte, foi alvo de bandidos. Três jovens anunciaram o assalto e a vítima, de 19 anos, não conseguiu abrir a caixa registradora para tirar o dinheiro.
Apesar de não esboçar reação, o operador de caixa, que trabalhava na empresa há uma semana, levou um tiro. De acordo com a Polícia Civil, o adolescente envolvido no caso foi autuado pela prática de ato infracional análogo ao crime de latrocínio. As outras duas pessoas, também suspeitas do crime, tiveram a prisão em flagrante ratificada por latrocínio e foram encaminhadas ao sistema prisional.
Manter a calma durante um assalto é a recomendação tanto das forças de segurança quanto de especialistas da área. “Nossa orientação vai fazer com que 100% desses casos sejam prevenidos? Infelizmente não, porque tem um fator que não controlamos, que é a vontade do autor de praticar esse delito, essa crueldade. A nossa orientação sempre é de não reagir, mesmo sabendo que, ainda sim, esse autor pode cometer o homicídio pós-roubo”, afirma a porta-voz da Polícia Militar (PM), Layla Brunnela.
Muitas vezes, a reação da vítima ocorre pelo susto ou até mesmo pela tentativa de não ter os seus pertences levados pelos ladrões. Mas as atitudes violentas dos criminosos também podem ser decorrentes de outros fatores, complementou a Polícia Civil, em nota. “Dentre eles, alto nível de estresse, uso de álcool ou entorpecentes e necessidade de eliminar provas”.
Independentemente do motivo, nada justifica o crime, afirma José Roberto Lima, delegado aposentado da Polícia Federal (PF). “Neste ano, tivemos um crescimento nos crimes contra o patrimônio e contra a vida, muito por conta da miséria causada pela pandemia. Mas não é razão para isso. Muita gente que é latrocida não é questão social, é de má índole mesmo. Você encontra criminosos em todas as classes sociais”, frisou o especialista, que é professor do curso de Direito das Faculdades Promove.
Além disso
Em um latrocínio, o medo é um fator crucial tanto no ladrão quanto na vítima, afirma o psiquiatra Lucas Bifano, especialista em gestão da família e comunidade.
“No caso do agressor, é a ausência do medo. Já no alvo dele, tem a presença do medo que pode causar situação de estresse e de ansiedade e uma sensação de querer fugir daquele lugar, de qualquer forma, para ficar livre do agressor e acaba reagindo, o que pode causar uma consequência”, explica.
Lucas Bifano destaca que o objetivo do ladrão é subtrair um bem material do seu alvo – e busca, principalmente, quem está vulnerável, como mulheres e quem está sozinho seja na rua ou num comércio.
Porém, se o criminoso for um sociopata, a situação é ainda mais crítica. “Porque ele quer ver o sofrimento da outra pessoa”, diz.