Quem passa pelo Anel Rodoviário de BH atravessa uma história marcada por graves acidentes, tristeza e medo. Nessa sexta-feira (10), mais duas pessoas perderam a vida e três ficaram feridas, em mais uma tragédia anunciada.
O Anel Rodoviário Celso Mello Azevedo, popularmente conhecido como Anel Rodoviário, é uma via expressa construída na década de 1950 para desafogar o crescente tráfego de carga que passava pelo Centro de Belo Horizonte.
Segundo a Polícia Militar Rodoviária, responsável pela fiscalização do Anel, ao longo dos 27 km de extensão passam, diariamente, 120 mil veículos. E, além do enorme volume e veículos pesados, ele recebe um grande fluxo de trânsito local, como importante ligação entre diversos bairros da capital e também acesso para outros municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O professor de logística e transportes da Fundação Dom Cabral (FDC) Paulo Resende explica que o Anel foi “tomado” pela cidade. Na época de sua criação, ele “era uma avenida como a do Contorno, para que o trânsito mais pesado não entrasse na cidade”.
Mas, a ocupação urbana desordenada, sem nenhum planejamento, diz o professor, transformou o Anel em uma via urbana, sem que nenhuma alternativa a ela fosse criada. Desta forma, veículos pesados disputam espaço com motos e carros de passeio.
“Cerca de metade dos caminhões que passam pelo Anel Rodoviário não tem nada a ver com BH; são veículos que estão de passagem para outras cidades do Brasil.”- afirma o especialista.
A carga de cerveja ficou espalhada na pista e algumas pessoas pararam para pegar as latas (Corpo de Bombeiros / Divulgação)
São caminhoneiros que rodam longas distâncias, têm prazos para cumprir e entregar as cargas. Para Paulo Resende, “esse caminhão com toda essa logística cruza com uma pessoa que está indo à padaria. O mais fraco morre. Isso é uma barbaridade.”
O Anel Rodoviário de Belo Horizonte, segundo a Polícia Militar Rodoviária, começa na união das rodovias BR-262 e BR-381, na altura dos bairros Goiânia e Nazaré, na porção Nordeste, e termina no encontro da BR-040 com a MGC-356, no bairro Olhos d'Água, na região Oeste.
E cenas de tragédias como a registrada na noite desta sexta-feira (10), que resultou na morte de duas pessoas e deixou outras três feridas - duas delas presas entre as ferragens dos veículos envolvidos - infelizmente, são cada vez mais comuns e parecem estar longe de ter um fim.
“O Anel Rodoviário hoje está sem dono, porque ele é uma mistura” - diz Resende. O professor da FDC explica que há trechos que são de concessionária, há trechos públicos. E que a via recebe o trânsito de várias cidades da região metropolitana. “O usuário do Anel hoje está à mercê de uma via onde você não tem o investimento necessário, e ninguém tem a responsabilidade desses investimentos”.
De acordo com estudos feitos pelo pesquisador chefe do Centro de Estudos Avançados em transporte e Logística da FDC, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte é o único do país em área urbana e está entre as vinte vias mais perigosas do Brasil, pelo número de vidas perdidas.
“A Região Metropolitana de Belo Horizonte, mais uma vez, se destaca em um ranking extremamente maléfico”, diz Resende. “É incompreensível que a segunda região metropolitana mais rica do país, perdendo apenas para a de São Paulo, tenha uma estrutura tão precária e tão perigosa”, analisa.
Com a força do impacto da batida no Anel Rodoviário, em BH, este carro ficou destruído (Corpo de Bombeiros / Divulgação)
Para o professor, é chegada a hora das cidades que compõem o tráfego do anel reagirem. “Nós temos uma eleição neste ano. E é uma grande oportunidade para que a sociedade cobre de quem é o anel. Porque, se continuar desse jeito, nós vamos assistir sempre a essas tragédias” - finaliza.
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