(Frederico Haikal)
Gente que passa apressada, grito de ambulantes, buzinas, pipoqueiro e, no meio de todo esse tumulto da Praça 7, no centro de BH, o professor William Barbosa dá uma aula pública de matemática.
Com caneta em punho, um quadro e microfone, ele chama atenção de quem passa para algo que muita gente corre: os números. Com fórmulas simples, Barbosa vai ensinando tabuada, raiz quadrada, porcentagem e todos aqueles sistemas que dão nó na cabeça. Para que o aluno assimile algo, ele garante que precisa de pouquíssimo tempo. “Fico aqui, próximo ao sinal de pedestre. E, enquanto não abre, coisa de um minuto e meio, consigo ensinar um tema”.
Assiata ao vídeo
A autônoma Angélica Furtado parou. Acompanhada das filhas, ela observou atenta a regra para fazer toda a tabuada usando os dedos das mãos. “Achei muito interessante, assim fica mais fácil de aprender”, diz. E com poucos minutos, ela foi convencida e comprou o DVD com toda a aula, que o professor vende a R$ 10. “Vou levar para ajudar minhas filhas na escola”, justificou.
Estratégia
Há cerca de três anos, Barbosa ministra as aulas a céu aberto. Doutor em matemática, tem como objetivo “estimular o cérebro do povo”. “A matemática é ensinada de forma arcaica nas escolas, as pessoas precisam de um método mais rápido, o raciocínio lógico”, afirma.
O gosto pelas fórmulas ele carrega de berço. “Meu irmão mais velho sempre teve esse dom e me ensinou. Assim nós fomos crescendo, um ensinando o outro. A gente aprende mais quando ensina. Passo para as pessoas, que aí passam para outras, até formar uma rede”.
E dessa forma, resolvendo raiz cúbica de números grandes como se fosse mágica, o professor cativa o público. Também amante da matemática, o estudante de eletrônica Talis Cacovichi achou a aula interessante. “Ele está explicando uma forma mais avançada para facilitar o cálculo. A gente usa muito na engenharia e na eletrônica”.
O jovem ficou um tempo acompanhando a aula. “Sempre que tem algo sendo ensinado, eu estou na área. Uma coisa que ninguém tira da gente é o conhecimento, e qualquer tipo é válido”, diz Cacovichi.
Montar o quadro na Praça 7 e propagar a ciência dos números são atividades quase diárias na rotina de Barbosa. Essa é sua fonte de renda. “Eu trabalho por conta própria. Não é que não queira ou não precise de um emprego fixo, mas quero divulgar meu método”, enfatiza.
Em média, ele vende de 20 a 30 DVDs por dia. “Com a crise, as vendas caíram, já cheguei a vender 50 por dia”.