(Editoria de arte)
Novela que se arrasta há anos em Belo Horizonte, a despoluição da Lagoa da Pampulha ficou várias vezes apenas na promessa. Em uma delas, chegou a ser anunciada com pompa como um dos principais legados da Copa do Mundo de 2014. Passados dois anos sem a conclusão dos trabalhos, que demandam a sintonia de uma série de fatores, novos compromissos foram assumidos.
O espelho d’água estará apto para atividades náuticas em novembro deste ano, informou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O próprio prefeito Marcio Lacerda garantiu que pretende velejar no local em 2017. Iniciado em março, o serviço de limpeza atingiu parte da meta estipulada para classificar a represa como “Classe 3” – apta para recreação, dentre outras atividades.
Leia mais
Prefeito Marcio Lacerda promete velejar na Lagoa da Pampulha em 2017
PBH promete pesca e esportes náuticos na Pampulha já em 2017
Unesco dá parecer favorável à Pampulha se tornar Patrimônio Mundial
Na lagoa existem cinco componentes responsáveis pela poluição. Passados quatro meses de trabalho foram observados níveis aceitáveis em três desses componentes (veja detalhes na arte). Após a coleta de amostras, em abril e maio, foram percebidas melhorias no chamado DBO (indicador de presença de matéria orgânica), coliformes termotolerantes (indicador de presença de microrganismos patogênicos) e clorofila-a.
Segundo o gerente de águas urbanas da Secretaria Municipal de Obras, Ricardo Aroeira, a limpeza é feita basicamente com a aplicação de dois produtos químicos. Um deles tem a função de degradar o excesso de matéria orgânica e reduzir a presença de coliformes fecais. O outro é capaz de promover a redução do fósforo e controlar a floração de algas. O investimento é de cerca de R$ 30 milhões e o trabalho tem previsão de durar 22 meses.
Conforme a prefeitura, a ação acabará com os maus odores e a mortandade de peixes. “Os resultados são visualmente perceptíveis. Vários dos parâmetros de indicadores de desempenho estão inferiores ao que exige a “Classe 3”. O resultado nesses primeiros meses são altamente positivos e a perspectiva é favorável para que tenhamos um bom desfecho”, disse Ricardo Aroeira.
Com o desempenho previsto, praticar iatismo, remo ou vela torna-se uma possibilidade que já desperta a atenção inclusive do prefeito Marcio Lacerda.
"Há avanços para torná-la ‘Classe 3’. Daremos a ela um aspecto muito mais bonito, sem os odores desagradáveis, podendo ser usada para esportes náuticos. Eu pretendo já no próximo ano praticar esportes náuticos”, disse Lacerda, que ainda completou: “quem sabe num dia de bom vento pegar o meu veleirinho e dar uma velejada”.
O serviço de limpeza da Lagoa da Pampulha integra as ações da administração pública para que o complexo arquitetônico obtenha o título de patrimônio cultural da humanidade.
O resultado será apresentado pela Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura (Unesco) no próximo dia 15.
Cerca de 500 mil pessoas vivem no entorno da bacia da Pampulha nas cidades de BH e Contagem, na região metropolitana. Segundo a Copasa, as obras para implantação de cem quilômetros de redes de inter-ceptação e coleta e construção de nove estações ele-vatórias de esgoto já estão 96% concluídas. Os quatro quilômetros restantes serão finalizados em dezembro deste ano.
Porém, mesmo assim, terminada essa etapa, milhares de pessoas – incluídas nos 4% ainda sem a ligação de esgoto – estarão contribuindo para a poluição do espelho d’água, já que não terão o esgoto tratado. Ricardo Aroeira garantiu que isso não compromete o trabalho de limpeza.
“A lagoa tem uma capacidade de autodepuração. A aplicação dos produtos acelera esse processo. Ainda com o esgoto que chegue na lagoa, a capacidade de recuperação por si, somada a ação desses produtos, faz com que ela tenha o nível de qualidade que a gente deseja. A quantidade de esgoto que ainda chega não será capaz para degradar a água”, diz.
Aroeira, no entanto, reforça a necessidade de ações constantes de limpeza. “Se Belo Horizonte quer uma lagoa em boas qualidade, nós temos que pagar o condomínio para que isso aconteça. Quem mora em apartamento sabe que se não tiver alguém para cuidar da limpeza do prédio, em pouco tempo ele estará imundo. A lagoa é um lago urbano que sempre precisará de investimento”.