De dia, mochilas eram dispostas no chão, como se fossem as traves do gol em uma improvisada pelada. Pipas sobrevoavam a região, papel picado era jogado do alto dos prédios e a multidão, em coro, bradava suas reivindicações. À noite, o verde-amarelo virava cinza, com estampidos de bombas, corre-corre e depredação.
Ponto de encontro durante a onda de protestos em Belo Horizonte, o entorno do imponente Pirulito, na Praça 7, no cruzamento das avenidas Afonso Pena com Amazonas, parou. Pela primeira vez na história da capital, o principal corredor viário do Centro ficou 81 horas com as vias completamente interrompidas, o equivalente a pouco mais de três dias.
Desde o dia 17, jovens, adultos e até crianças, portando apitos, bandeiras e cartazes, fecham as vias de acesso, impedindo o tráfego dos mais de 91 mil veículos que circulam diariamente pela região. A manifestação, em sua maioria pacífica, causou vários transtornos.
Vendas em baixa
Só no comércio, o prejuízo estimado com a queda nas vendas foi de R$ 68,4 milhões, conforme cálculo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Isso sem levar em conta as depredações provocadas por vândalos. Somadas as perdas contabilizadas na avenida Antônio Carlos, a conta chega a R$ 84 milhões.
“Nosso sindicato apoia totalmente a manifestação pacífica, mas repudia as ações de vandalismo. Além de provocar perdas aos lojistas, atrapalham e prejudicam o movimento, que é muito válido”, disse o vice-presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de BH (Sindilojas), Paulo Cançado.
Na sext-feira Ontem, o governador Antonio Anastasia determinou à Secretaria de Fazenda e à Advocacia Geral do Estado que realizem, em caráter de urgência, estudos para avaliar a possibilidade de prorrogação dos prazos para recolhimento de impostos estaduais às empresas atingidas pelos atos de vandalismo na quarta-feira.
Taxistas reclamam
Quem passa de carro diariamente pelo hipercentro também reclamou muito, como o taxista José Aparecido Gonçalves, de 50 anos. “Todos têm o direito de protestar, mas foi um caos no trânsito. Pessoas perderam compromissos e nós, taxistas, tivemos muitos prejuízos”.
Para a BHTrans, o usuário do transporte coletivo foi o mais prejudicado. A empresa informou que quatro desvios padrão são adotados em casos como esse, evitando que os automóveis cheguem à Praça 7. Os pontos estão concentrados nas ruas Espírito Santos, Curitiba, Tamoios e Bahia. Quando isso ocorre, automaticamente, o sistema de monitoramento redefine o tempo dos semáforos.
Para o cientista político Luiz Ademir de Oliveira, a manifestação que tomou o hipercentro e outros espaços públicos tem aspectos extremamente positivos, independentemente dos transtornos. “Mostra que o cidadão brasileiro não se enquadra no estereótipo do indivíduo acomodado”.
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