Papagaios domesticados são devolvidos ao habitat para preservação da espécie

Ernesto Braga - Hoje em Dia
06/03/2016 às 07:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:41
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

No ano passado, o veterinário João Paulo Mourão Vasconcelos viu de perto, pela primeira vez, o nascimento em vida livre de um papagaio filho de exemplares recolhidos pelo Ibama após longo tempo domesticados. A dádiva da natureza, em uma área de 400 hectares de Mata Atlântica preservada na zona rural de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é resultado de um trabalho árduo para conseguir devolver ao habitat aves desta família (Psi ttacidae) que perderam suas características por causa do contato, desde filhotes, com o homem.

João Paulo é dono da Fazenda dos Carvalhos, uma das 70 propriedades rurais em Minas Gerais registradas como Área de Soltura de Animais Silvestres (Asas). Para lá são levados papagaios que chegam ao centro de triagem do Ibama, na capital, por meio de entrega voluntária de criadores ou apreensões. A missão do órgão federal, em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e proprietários das reservas ambientais, é promover a reabilitação dessas aves.

Responsável pelo centro de triagem, Daniel Vilela, analista ambiental do Ibama, aponta as dificuldades para conseguir reintegrar os papagaios domesticados ao habitat natural. “Geralmente, eles são tirados do ninho filhotes, até sem penas, e entregues às pessoas que os criam. Portanto, nunca tiveram contato com outros da espécie. Isso cria nos papagaios problemas comportamentais”, explica. Um destes desvios, segundo ele, é a reprodução da fala do criador. “Além da fala, eles chegam aqui imitando sons de campainha e alarmes de carro”, destaca o especialista.

Criados em gaiolas, os papagaios domesticados têm dificuldade para voar. Também apresentam problemas de saúde por causa da alimentação irregular. “Os criadores costumam dar a eles muita semente de girassol, rica em gordura, e comida de gente, como arroz, macarrão e biscoitos”, ressalta Daniel.
Por esses motivos, a cada dez exemplares que chegam ao Ibama, apenas três voltam à liberdade. A maior parte, de acordo com o analista ambiental, é encaminhada a criadores credenciados para procriação e preservação das espécies.

REVOADA
Nos viveiros da fazenda de João Paulo, papagaios recolhidos pelo Ibama formam casais, possibilitando a reprodução em cativeiro. Soltos na natureza, os filhotes crescem e vão aumentando o bando, se reproduzindo livremente.

Missão de criador credenciado é reverter risco de extinção



Há 20 anos, o veterinário João Paulo Mourão Vasconcelos trabalha na Fazenda dos Carvalhos, próxima ao Parque Estadual do Rola-Moça, com a reprodução e soltura de papagaios da espécie Amazona aestiva, de população reduzida em Minas. Agora, ele se prepara para um desafio maior: a procriação em cativeiro de duas ameaçadas de extinção (Amazona rodocorita e Amazona Vinacea).

Ao receber as aves recolhidas pelo Ibama em parceria com o IEF, a primeira iniciativa de João Paulo é fazer um trabalho complementar ao dos órgãos ambientais. São tomados alguns cuidados com a saúde dos papagaios e, aos poucos, introduzidos alimentos que eles encontram no habitat natural.
Para isso, o veterinário conta com um pomar com mais de 30 variedades de árvores frutíferas, como goiabeiras, mangueiras, bananeiras e pitangueiras. Com o passar do tempo, os papagaios são transferidos de viveiros menores (de aclimatação) para um bem grande, com o propósito de estimular pequenos voos.

IDENTIFICAÇÃO



O tempo necessário para que os papagaios ganhem a liberdade varia. “Pode ser mais de seis meses. Quando o viveiro é aberto, eles ficam abobados devido à identificação com o ser humano e por estarem acostumados, uma vez domesticados, a comer em determinada hora”, diz João Paulo.
Tanto que, ao entrar no viveiro e se aproximar de uma fêmea, o veterinário foi recebido com um sonoro “dá o pé, louro”.

Dos 10.569 animais silvestres (cerca de 5% são papagaios) recolhidos em Minas em 2015, em apreensões e entregas voluntárias, 7.175 foram em BH, 1.646 em Juiz de Fora, 1.034 em Montes Claros e 714 em Pouso Alegre

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