Para resgatar o charme de escrever cartas

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
30/09/2014 às 07:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:24
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Ele não quer mudar o mundo, mas incentivar a retomada de um hábito adormecido com o passar do tempo. Um envelope em punho, a escrita à mão, uma generosa dose de boa vontade e o desejo de contaminar as pessoas. É assim, e “equipado” com uma inseparável bicicleta antiga, que o publicitário belo-horizontino Ramon Brant, de 23 anos, leva, porta a porta, seu “Chá com Cartas”.

Com o projeto, recentemente aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ele deseja que, aos poucos, o velho e saudoso costume de escrever cartas – à mão, claro! – volte a fazer parte do dia a dia das pessoas.

Munido de um uniforme de carteiro inspirado nos modelos dos anos 1940 – criado por ele e pela namorada, a designer de moda Bárbara Toffanetto – e de uma dezena de bilhetinhos 100% autorais, o jovem sai às ruas de Belo Horizonte uma vez por mês em busca de casas onde possa afixar seus recados: “Escreva uma carta para um amigo, um amor, um parente, que no dia seguinte o nosso mensageiro virá, pegará a sua carta e levará até o destinatário”.

Com a certeza de que o pedido será atendido, o “carteiro” cumpre a promessa. O dia seguinte da “plantação”, como batizou o trabalho, é a colheita da ideia semeada. “Volto para buscar a carta escrita pelo morador e entregá-la ao destinatário. Se for perto, vou eu mesmo e faço questão de entregá-la em mãos. Se for em outra cidade, procuro um amigo que more por lá ou posto nos Correios, da maneira tradicional”, explicou.

AMPLIAÇÃO

No fim deste ano, o Chá com Cartas sopra velinhas pelo segundo aniversário, mas o presente chegou mais cedo. O projeto receberá R$ 62 mil de Incentivo Fiscal, pela Lei de Incentivo à Cultural, e ganhará fôlego novo. “Por enquanto, há apenas parceiros que ajudam a divulgar a ideia. A partir de 2015, porém, queremos chegar a todos os cantos de Belo Horizonte e, quem sabe, expandir para outras cidades”, adiantou Ramon.

Todos os meses, o “publicitário-carteiro” entrega pelo menos 200 cartinhas de incentivo aos moradores. Até hoje, mais de 2 mil pessoas apostaram na ideia e deixaram, na porta de casa, um recado para ser enviado a um amor, amigo, parente ou até paixão platônica. A reação das pessoas, garante Ramon, é o que mais encanta.

“Há quem se emocione e até chore em receber a carta de uma pessoa querida. Em tempos de redes sociais, que aproximam os distantes, mas afasta os próximos, minha ideia é estimular cada vez mais a aproximação através da palavra”, afirmou.

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