Paternidade precoce: adolescentes assumem responsabilidade cedo

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
06/04/2014 às 09:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:58
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Aos 13 anos, Rafael Henrique Couto de Lima não tinha muito do que se orgulhar. Enquanto os amigos calçavam as chuteiras para o tradicional futebol de fim de semana, ele passeava pela rua de casa, empurrando um carrinho de bebê. No fundo, confessa, sentia mesmo era vergonha. Naquela época, Rafael carregava o fardo de uma paternidade precoce. Viu-se obrigado a assumir uma filha e virar gente grande cedo demais: um pai.   Hoje, aos 27 anos, quem vai no colo é Gabriel, de 5, filho mais novo do metalúrgico, agora casado com Deyse, mãe do caçula. À distância da história, as percepções são outras. Mais maduro, admite que poderia ter feito diferente, se tivesse recebido orientação dos pais. Mas ele não se arrepende. “Não tínhamos ideia do que era sexo com aquela idade. Meus pais achavam que eu era muito novo e, por isso, não falavam sobre o assunto. Fui descobrindo tudo sozinho”, diz.   Yasmim, a filha temporã, tem idade muito próxima daquela que tinha Rafael quando foi pai: 14 anos. Dois anos a menos do que a mãe dela, Fernanda, quando deu à luz. Quando saem juntos, não é raro que pai e filha sejam confundidos com um casal de namorados. “Quem não conhece a gente acha que estou pegando uma novinha”, conta Rafael, achando graça.   O namoro da infância com a mãe da adolescente não vingou. Os motivos foram vários. Talvez a imaturidade comum à idade e o fator extra, filho, tenham pesado mais. Da etapa que, de certa forma, acabou sendo anulada, Rafael lembra com saudade, mas nem por isso com amargura, de ocasiões em que teve que ceder à difícil missão de cuidar. “O que ficou na minha cabeça foram os momentos em que não pude sair de casa com meus irmãos, para festas, encontro com amigos, porque precisava ajudar com a Yasmim”, relembra.   Mas a responsabilidade, que chegou cedo com a primogênita, foi o aprendizado necessário para, agora, cuidar de Gabriel. “Ele foi planejado, de cabeça fria. De certa forma, é diferente sim. Estou mais maduro agora para criar um filho”, afirma.   “Grávidos”   Um pouquinho mais velho, com a idade cronológica à frente da que Rafael tinha quando estreou na paternidade, agora é Bruno Mafra, de 17 anos, que espera ver concretizar as mudanças que chegaram de repente.   O estudante, que mora em Belo Horizonte, namora Iara, de 16 anos, que vive em Sete Lagoas, na região Central do Estado, com a família. Juntos há um ano e meio, eles estão “grávidos” de 5 meses e, apesar da pouca idade, esperam a novidade ansiosos e com um otimismo característico da adolescência.   Na escola de Bruno, quase ninguém sabe da novidade, pelo menos até hoje. “Prefiro manter em segredo”, diz ele sem explicar o motivo. O casal, que usava a tabelinha (método contraceptivo que leva em consideração o período fértil da mulher) para evitar uma gravidez não planejada, parece estar curtindo o momento, sem se preocupar com responsabilidades futuras.   “Estamos muito felizes. Muita coisa já mudou. Não vamos mais a shopping, cinema, como a gente gostava de fazer normalmente nos fins de semana. Preferimos ficar em casa. Acho que vai ser legal”, comenta Bruno.

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