(Fernanda Carvalho/Arquivo Hoje em Dia)
No aniversário de um ano do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, celebrado hoje pela Pampulha, não há muito o que se comemorar. Seguem paralisadas as promessas de reformas, obras de readequação e preservação da estrutura original. Os compromissos firmados foram fundamentais para o reconhecimento global pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Dentre as modificações recomendadas, que devem estar encaminhadas em até três anos, estão a demolição do prédio anexo ao Iate Tênis Clube, restauração da fachada da Casa do Baile e do paisagismo de Burle Marx na praça Dino Barbieri e o tratamento da água da Lagoa da Pampulha. Dessas quatro, somente a última foi cumprida.Fernanda Carvalho / N/A
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Além disso, a reforma da Igrejinha se arrasta desde 2014, quando o edital para as obras foi publicado. Com início previsto para o primeiro semestre do próximo ano, as alterações, orçadas em R$ 1,4 milhão, já têm recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, conforme a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).
No entanto, o restauro ainda não ocorreu porque a Arquidiocese de BH agendou casamentos na capela até novembro de 2017. As obras no Museu de Arte da Pampulha também ficaram para o próximo ano, em agosto, e contarão com uma verba federal.
Entrave
Todas as intervenções estão dentro do prazo previsto e devem ser concluídas até o fim da atual gestão, diz o diretor do Conjunto Moderno da Pampulha, Gustavo Mendicino, da Fundação Municipal de Cultura de BH. Porém, o responsável pelo complexo admite que a demolição do prédio anexo ao Iate – construído em período posterior ao do conjunto – é ainda o principal entrave.Fernanda Carvalho / N/A
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“É uma obra cara e envolve muitas pessoas. Nosso objetivo é conseguir conciliar da melhor maneira”. Por atrapalhar a visibilidade total do complexo, a área do clube foi desapropriada pela prefeitura em fevereiro do ano passado. A medida foi tomada para que o sítio pudesse pleitear o título da Unesco. Mas, desde então, as discussões entre a diretoria do Iate e a PBH, mediadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), estão paradas.
O projeto arquitetônico da reforma ainda não foi feito e o Iate afirma, em nota, que “aguarda, com alguma ansiedade, que administração municipal, Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Ministério Público retomem os estudos e negociações iniciadas em 2016”. Fernanda Carvalho / N/A
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Negociação
Conforme Mendicino, o projeto deve ficar pronto nos próximos meses. No anexo, o Iate mantém uma academia e um salão de eventos, importantes fontes de renda para o clube. “A prefeitura pode contribuir para que um outro terreno seja entregue ao Iate? Pode. Está na base da negociação, desde que isso se justifique para um bem coletivo”.
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O reconhecimento internacional aumentou em quase 20% as visitas ao complexo. Os dados são da Fundação Municipal de Cultura. O número se refere às visitas à Casa Kubitschek, ao Museu de Arte da Pampulha e à Casa do Baile, entre janeiro e maio deste ano. Foram 67.132 contra 56.167 do mesmo período de 2016, antes do título.
Na semana passada, o jornalista Kevin Furtado, de 26 anos, esteve no local. O paranaense aproveitou as férias para conhecer o cartão-postal. Na opinião dele, o conjunto moderno está “bastante integrado” à vida dos moradores de BH.
Apesar disso, Kevin sente que faltam espaços de lazer na região. “A Pampulha é um bom lugar para caminhar, correr e praticar esportes, mas faltam incentivos para isso”, diz.
Manutenção
Para verificar a conservação e as obras de adequação, a Unesco pede que os países enviem relatórios anuais ao comitê mundial. O documento deve reportar o estado de preservação dos sítios. Caso isso não ocorra, é necessária uma justificativa para que o local não perca a chancela, explica a coordenadora interina de Cultura da Unesco no Brasil, Rebeca Otero.
Em casos extremos, locais degradados podem compor a lista de patrimônios em perigo. Os espaços são acompanhados de perto pela Unesco, inclusive com a realização de visitas técnicas. No fim do ano, o Brasil deverá enviar um relatório para a organização. Rebeca descarta, porém, a possibilidade de a Pampulha integrar essa lista de risco.
“Por enquanto, a Pampulha está bem. Faz só um ano que foi transformada em sítio cultural. Há um trabalho do país na questão da preservação. Estamos acompanhando”, diz.