(Mauricio Vieira)
Depois de ter operações suspensas em três estações na madrugada desta quarta-feira (27), os ônibus de Belo Horizonte devem voltar ao quadro normal ainda nesta quarta. Apesar da normalização das operações, a circulação dos ônibus dependerá da situação de segurança do transporte nas ruas. "Não tenho como obrigar os empresários a colocarem ônibus na rua para depois serem incendiados", afirmou o prefeito Alexandre Kalil, que se reuniu nesta manhã com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o comandante da Polícia Militar do Estado, coronel Helbert Figueiró. Para tentar coibir novos incêndios, será criado um canal de denúncias anônimas para esse tipo de ocorrência, por meio do telefone 181.
Uma entrevista coletiva foi concedida pelas autoridades na manhã desta quarta para dar uma resposta sobre a interrupção parcial no serviço de transporte público da cidade na madrugada desta quarta - ocorrido após ataques a coletivos na capital. Nesta terça-feira (26), criminosos atearam fogo em dois ônibus nas proximidades do aglomerado Mãe dos Pobres, em Venda Nova. O primeiro, da linha 640 (Estação Venda Nova/Jardim Leblon-Via Rio Branco), incendiado por volta das 9h, ficou completamente destruído. O outro, da linha 615 (Estação Pampulha/Céu Azul B), foi atacado por volta das 20h, mas não ficou muito danificado porque o motorista conseguiu apagar as chamas com um extintor. Os atentados seriam retaliação a uma operação da PM no aglomerado na segunda-feira (25).
"Caso haja risco iminente de queima de ônibus em uma determinada linha, vamos recolher os ônibus", afirmou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), Joel Jorge Guedes Paschoalin. Mesmo assim, ele garante que os ônibus circularão normalmente na madrugada desta quinta (28), até mesmo nos bairros do entorno do aglomerado Mãe dos Pobres (Céu Azul, Piratininga, Jardim Leblon).
O comandante da PM, coronel Figueiró, deixou claro que os ataques de terça em Belo Horizonte não estão relacionados à onda de vandalismo ocorrida no interior do Estado, desde o dia 3 de junho. Mais de 70 veículos foram incendiados em aproximadamente 40 cidades mineiras por ordens de criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ele explica que, em Belo Horizonte, veículos não vem sendo queimados pelo comando de uma facção, mas por tentativa de retaliação sobre alguma ação da Polícia Militar. "Toda vez em que há um grande episódio, como uma grande apreensão de drogas ou confronto com traficantes, algum ônibus acaba sendo queimado. Esse crime é uma consequência de ações das forças de segurança", afirmou o coronel Figueiró.
Figueiró reforçou ainda que a PM considera o caso da onda de ataques (sobretudo no Triângulo Mineiro e Sul de Minas) resolvido, graças a ações integradas entre diferentes pastas ligadas à segurança pública no Estado.
O governador Fernando Pimentel fez questão de deixar claro que os casos de ônibus queimados no Estado são levados a sério e, por isso, aceitou prontamente o convite do prefeito Alexandre Kalil para debater o que deve ser feito sobre os coletivos danificados na capital. "De fevereiro a junho de 2017, foram 20 ônibus queimados em Belo Horizonte. Neste mesmo período neste ano, foram 14. Houve uma redução graças ao trabalho feito pela PM. Mas o nosso objetivo é zerar essa conta", disse o governador.
Disque-denúncia
Entre as ações planejadas para a redução no número de casos de ataques a ônibus, o comando da PM informou que está sendo criado um canal direto de denúncias dessa natureza. O já existente 181 passará a agregar a opção específica para que a população delate de forma anônima criminosos que já tenham executado ou que estejam planejando queimar ônibus.
Tanto o prefeito Kalil quanto o governador Pimentel fizeram questão de deixar claro que contam com a população no trabalho de combate a esse tipo de crime. "Isso (a retirada de coletivos das ruas) pode se tornar rotina na vida do belo-horizontino caso as queimas de ônibus continuem. O poder público não pode obrigar as empresas a colocar ônibus na rua para serem incendiados. Por isso, é importante a população denunciar", disse Kalil.
Outra estratégia é o aperfeiçoamento de uma rede de informações com as empresas de transporte, mapeando os endereços considerados mais críticos em termos de violência. Onde for detectado um maior risco de ataque a veículos, haverá uma intensificação no patrulhamento.
Mas o comandante da PM avisa que somente a intenficação de trabalho de pressão policial não é suficiente para resolver a questão. Segundo ele, desde 2016, 68 pessoas foram presas em Belo Horizonte por suspeita de terem relação com queima de ônibus. Mas 86% delas foram soltas pelo Poder Judiciário. "É muito difícil estancar esse crime. Se uma pessoa for flagrada com um galão, mesmo que haja um indício de que seria usado em um incêndio criminoso, não pode ser presa. A legilação não nos permite a prisão por isso. Os suspeitos são conduzidos quando estão com posse de outro artigo, como arma e drogas", explicou.
Empresas de ônibus
O presidente do SetraBH, Joel Paschoalin, disse que a decisão tomada na noite de terça (26), pelos empresários, de retirar os ônibus de circulação durante a madrugada, foi tomada para preservar patrimônio (cada ônibus custa cerca de R$ 400 mil) e a integridade física de motoristas e usuários do transporte público. Ele reitera que ônibus queimados não serão repostos, já que não há cobertura de seguro para ataques de populares.
Já o presidente da BHTrans, Célio Bouzada, lembrou que as empresas têm responsabilidades contratuais a cumprir e, por isso, retiradas de ônibus de circulação serão estudadas caso a caso. Ele disse ainda que veículos podem ser remanejados de uma linha para outra para minimizar o prejuízo para os usuários do transporte público.