PBH toma espaço abandonado por associação e usado por deficientes há mais de 25 anos

Milson Veloso - Hoje em Dia
07/03/2013 às 15:56.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:40
 (Milson Veloso)

(Milson Veloso)

O objetivo era ajudar as pessoas com deficiência em Minas Gerais. Porém, a falta de cuidado com o imóvel onde funcionava a Associação Mineira de Paraplégicos, na avenida do Contorno, bairro Santa Efigência, região Leste,  e o fim da instituição, há cerca de dez anos, tem levado dúvida e receio para aproximadamente mil ex-associados. Uma decisão da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), publicada no Diário Oficial do Município (DOM) desta quinta-feira (7), pode acabar com o espaço, usado desde 1986 pelo grupo.

Deteriorado, com problemas na fiação elétrica, infiltração e sem abastecimento de água, o prédio voltará para o comando da PBH. Segundo o decreto divulgado pela prefeitura, a medida foi tomada porque a associação teria descumprido o termo firmado em 1986, quando a entidade obteve a permissão para uso do local.

Apesar de a organização ter acabado, alguns ex-associados continuam usando a quadra para praticar esportes e fazer reuniões.  O treinador de basquete do Clube dos Paraplégicos de Belo Horizonte, um dos grupos que ainda aproveitam da área, Elizeu Ferreira, de 46 anos, alega que, caso a prefeitura realmente tome o espaço, eles ficarão sem um recinto para treinar. "A gente nunca teve ajuda de ninguém e não há um fundo de recursos. Se perdermos esse imóvel, a equipe vai acabar", reclama.

De acordo com o ex-paratleta, a administração municipal deveria reformar e utilizar o prédio para promover a inclusão esportiva. "Há até uma área de lazer com piscina que, por causa da degradação, não está pode mais ser usada", explica. "A parte elétrica está muito complicada, não há iluminação boa. Na quadra, só três refletores funcionam", complementa.


Entidade quer usar espaço

Com o passar dos anos, a falta de administração do imóvel onde funcionava a Associação Mineira de Paraplégicos acabou condenando o espaço a destruição. Cadeiras quebradas, piso deteriorado, falta de ventilação e outros problemas podem ser percebidos logo na entrada.
 



Cadeiras quebradas estão amontoadas ao lado da quadra poliesportiva (Foto: Milson Veloso/Hoje em Dia)
 

Na tentativa de manter o local e recuperar seu objetivo inicial, de ajudar os deficientes mineiros, outra organização tem tentado junto à PBH a gestão do local. Segundo a presidente da Associação Crescendo com Amor (ACA), Izabela de Melo, vários contatos foram feitos com a prefeitura, mas sem nenhuma resposta objetiva.

"O espaço está abandonado, sem gestão, mas os deficientes continuam frequentando, pois precisam do prédio", comenta Izabela. "A gente dá assistência, mas não pode ocupar a área, mesmo querendo utilizá-la, pois ela pertence à outra associação", acrescenta.

A presidente da ACA diz que hoje a instituição precisa fazer reuniões na casa dos diretores por não ter uma sede. "Se o contrato for transferido, vamos procurar patrocínio para implantar um centro de treinamento para os paratletas aqui, além de tentar parcerias com os setores público e privado para fazer a reforma completa", explica a representante.


Parlamentar lamenta situação

"É uma pena que o espaço seja perdido, principalmente porque os deficientes precisam das organizações para pressionar o governo por políticas públicas para eles". A afirmação é da deputada Liza Prado (PSB), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Liza assumiu a comissão nesta semana e disse que, por enquanto, nenhum representante das associações procurou o grupo de parlamentares para obter ajuda nas negociações com a PBH.

De acordo com a deputada, a administração municipal está apenas cumprindo o seu papel, pois também é responsável pelo bem público. Porém, o melhor seria manter a utilidade do imóvel, beneficiando as pessoas com necessidades especiais. "Você não pode deixar o espaço ocioso e, ao mesmo tempo, precisa cuidar para que ele não seja destruído", complementa.
 

PBH explica pouco

Procurada pela reportagem do Portal Hoje em Dia, a Prefeitura de Belo Horizonte se limitou a informar, por meio da assessoria de imprensa, que a decisão de revogar o decreto anterior, tirando a permissão de uso do imóvel, aconteceu porque a associação não utilizava o espaço adequadamente.

Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte esclareceu que a Associação Crescendo com Amor foi indicada pelo vereador Leonardo Mattos para suceder a Associação Mineira de Paraplégicos na gestão do imóvel, tendo em vista que a última já não possui condições de fazê-lo, em virtude de problemas administrativos e financeiros diversos.

Sobre o projeto para o prédio, a PBH informa que haverá uma reforma no Restaurante Popular que fica em frente à Santa Casa. Nesse período, as atividades serão transferidas para o prédio onde funcionava a Associação Mineira de Paraplégicos, que passará por intervenções.

Após a conclusão da reforma do Restaurante Popular, a antiga sede da Associação Mineira dos Paraplégicos deverá voltar a ser destinado a atividades de assistência social voltadas às pessoas com deficiência, possivelmente sob a gestão da Associação Crescendo com Amor.

Ainda segundo a nota, a assessoria informou que a Prefeitura está levantando as eventuais pendências que recaiam sobre o imóvel, para avaliar a responsabilidade jurídica em relação às mesmas.

Atualizada ás 18h34

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por