'Pega ladrão': roubo dispara 23% no Centro e aumenta sensação de insegurança na região

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
06/03/2017 às 20:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:38

O Comando de Policiamento da Capital enfatizou que, “apesar de todas as estratégias (de combate à criminalidade em BH, em especial no Centro), o maior desafio é a reincidência criminal, abarcada por uma legislação que permite a soltura do infrator, mesmo que contumaz” 

Quem frequenta ou trabalha no Centro de Belo Horizonte tem escutado mais vezes por dia as palavras “pega ladrão”. A percepção dessas pessoas de que o crime aumentou não é apenas uma impressão. Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) indicam que os roubos cresceram 23,22% no ano passado nessa região, no comparativo com 2015. Até novembro de 2016, foram 2.128 casos.

Essa realidade assombra pedestres, ambulantes, vendedores de pipoca, atendentes de loja e comerciantes que estão diariamente no hipercentro. Ontem, a reportagem conversou com vários deles. Muitas pessoas contaram histórias de assaltos, mas, temendo represálias, não quiseram ser identificadas.

É o caso da proprietária de uma loja de roupas infantis localizada nas proximidades da Praça 7. Ela relatou que, até as 14h, já tinha ouvido duas vezes o pedido de ajuda de vítimas de criminosos que atuam na área. “Todo dia escuto ao menos três gritando ‘pega ladrão’. Aumentou bastante a criminalidade. E também o número de pessoas vendendo e usando droga por aqui”.

Segundo ela, os principais alvos dos ladrões são mulheres e idosos. Telefones celulares, joias – principalmente correntinhas – e carteiras são os objetos mais roubados.

Conforme o Hoje em Dia mostrou na edição de ontem, especialistas acreditam que o aumento da criminalidade possa estar associado à crise econômica no país. 

De acordo com os dados da Sesp, de 2012 a 2015 houve pouca alteração no número de roubos no Centro de BH. Já no ano passado, registrou-se crescimento dos casos, com um média diária de seis ocorrências na região. Bairros como Padre Eustáquio (Noroeste de BH) e Santa Efigênia (Leste) tiveram duas ocorrências do tipo por dia.

Redução

Em nota, o Comando de Policiamento da Capital (CPC) informou que os roubos diminuíram este ano no Centro. Os números, porém, não foram divulgados. “Como em toda a cidade, intensificaram-se operações com as Receitas Estadual e Federal e Ministério Público para inibir o comércio de produtos furtados ou roubados, bem como os relacionados ao contrabando e descaminho”.

O CPC não revelou qual o efetivo no Centro, mas garantiu ser compatível com a demanda. “Está lotado um número de policiais militares suficiente ao policiamento ordinário, bem como para a realização das operações supracitadas, sendo que este número recebeu um acréscimo de efetivo no último ano”, complementa a nota.

Procurada pelo Hoje em Dia, a Polícia Civil não apresentou fonte para comentar o assunto.

Efetivo maior inibe a criminalidade no último mês do ano

Engana-se quem pensa que dezembro, quando as ruas estão lotadas de pessoas que vão às compras de fim de ano, é o mês com o maior número de roubos em Belo Horizonte. Os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) apontam que o período registra a menor quantidade de ocorrências do tipo na capital, principalmente no Centro. 

Os índices mais baixos podem ser explicados porque, nesta época do ano, há reforço de policiais militares nas vias da cidade para a realização da operação natalina, especialmente no hipercentro. Os servidores são remanejados da área administrativa dos batalhões. Em 2016, por exemplo, o efetivo extra foi de aproximadamente mil homens, distribuídos nas principais regiões comerciais de BH. 

A estratégia é positiva, afirmam especialistas. “É verdade que a polícia na rua inibe a ação de criminosos, mas outros trabalhos que poderiam ajudar a diminuir a violência seria a adoção de mais transparência, de prestação de contas. Isso poderia ocorrer trimestralmente ou semestralmente, por exemplo”, afirma Frederico Marinho, pesquisador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com a Polícia Militar (PM), uma das formas para estreitar o relacionamento com a população, inclusive informando sobre as ações da corporação, são as reuniões comunitárias e o contato virtual, como as redes protetivas voltadas tanto para os comerciantes quanto para os moradores.

Além disso, é utilizado o sistema de georeferenciamento para mapear os locais onde ocorrem os crimes na cidade.

Operações

Em nota, a corporação informou, ainda, que, desde maio do ano passado, a implantação de estratégias para coibir a criminalidade possibilitou a redução das estatísticas na capital mineira. 

Entre as ações destacam-se o aumento ostensivo dos policiais nas ruas e o estreitamento do relacionamento deles com a comunidade, incremento de reuniões com os moradores, o aumento das redes protetivas, a transferência de militares do serviço administrativo para as atividades operacionais e o apoio de unidades especializadas, como os batalhões de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), de Operações Especiais (Bope) e de Choque, a Cavalaria e o Canil, além do reforço no policiamento a pé.

A PM informou, ainda, que o cenário nacional desfavorável contribuiu para o aumento dos índices de criminalidadeno período. Segundo a assessoria de imprensa, até mesmo as ações do PCC em outros estados influenciam a ação de criminosos em Minas Gerais. "Não existem notícias de ataque do PCC aqui. Esse empoderamento que foi mencionado, que é noticiado, faz com que a motivação para delinquir dos cidadãos potencialmente infratores aumente, pelo que é visto em outros Estados, e isso, em tese, pode aumentar os índices criminais em Minas, como uma 'onda de crime'", informou.

Outro ponto levantado pela PM é a superlotação dos presídios (atualmente o déficit é de aproximadamente 26 mil vagas). "O próprio infrator que é preso pela PM volta logo às ruas, aumentando nossos índices de reincidência, porque vai delinquir novamente (na faixa dos 40%). Além disso, reforça a idéias para "eles (infratores)" da incerteza da punição, uma vez que não cumprirão pena (pois não há onde permanecerem presos)".

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