Pelos quatro cantos de BH: presença de camelôs extrapola os limites do Centro

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
05/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:23
 (MAURICIO VIEIRA)

(MAURICIO VIEIRA)

A guerra travada entre poder público e camelôs está longe de um desfecho em Belo Horizonte. A repressão deflagrada no hipercentro atinge apenas uma parcela dos ambulantes da cidade.

Em várias outras regiões há centenas de vendedores nas ruas que garantem não estar dispostos a mudar de ramo. Muitos prometem, inclusive, enfrentamento quando a ação ocorrida na região Central avançar para os demais bairros. Ontem, o prefeito Alexandre Kalil disse que essa expansão está nos planos.

Seja com panos estendidos no meio da calçada, barracas de madeiras ou carrinhos, os ambulantes são parte da paisagem e estão pulverizados nos quatro cantos da capital. Exemplos não faltam na rua Úrsula Paulino, no bairro Betânia (Oeste), e nas avenidas Visconde de Ibituruna (Barreiro), Abílio Machado, no Alípio de Melo (Noroeste), e Padre Pedro Pinto (Venda Nova).Maurício Vieira / N/A

Dentre os exemplos na avenida Abílio Machado, no Alípio de Melo, incontáveis CDs e DVDs podem ser adquiridos

“A Prefeitura de Belo Horizonte está fazendo valer a lei e a proteção do patrimônio público e privado. Não é autoritarismo. O momento requer energia e nós, comerciantes, somos favoráveis a essa ação”Lindolfo PaolielloPresidente da ACMinas

Em todas as vias, marcadas pela forte presença de estabelecimentos comerciais, foram encontrados camelôs. Nesses espaços, os ambulantes vendem de tudo. Tapetes, brinquedos, roupas, eletrônicos, panelas, meias, toucas.

Na maioria dos casos, o movimento nas bancas é maior do que nas lojas, o que incomoda os vendedores formais. “Não é um problema só estético. É injusto com aqueles que têm uma atividade legítima e pagam impostos”, afirma o presidente da Associação Comercial de Minas (ACMinas), Lindolfo Paoliello.

Estratégia

Mudar essa realidade não será tarefa fácil, conforme relato dos próprios camelôs. “Não tenho medo das ameaças deles (fiscais). Se virem para essa rua, vou para outra. É fato que eles não vão conseguir estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, garante Sebastião Marinho, ambulante há 32 anos.

Várias pessoas ouvidas pela reportagem se mostraram dispostas a resistir, caso ocorra a retirada forçada. “Lá, no Centro, eles foram para a luta não foram? Então, nós vamos também. Se tiver que jogar pedra, a gente joga. Se tiver que fazer o que for. Mas temos que sobreviver”, disse um deles, que preferiu não se identificar.Maurício Vieira / N/A

Na rua Úrsula Paulino, no Betânia, alimentos como verduras podem ser comprados por quem passa pela via

“O sentimento de insegurança é tremendo. Mas preciso trabalhar. Já distribuí currículos e nada até agora”Cristina MacielTrabalha na rua há apenas um mês

Sem arredar o pé

Se, de um lado parte dos camelôs adota a postura da resistência, do outro, a prefeitura garante não estar disposta a ceder. Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, a ideia é ampliar a fiscalização para as demais regiões da cidade. No entanto, não há um cronograma definido.

A previsão é que, antes, seja feito um mapeamento do número de ambulantes em atuação nos demais pontos comerciais da capital. Somente depois será feita a retirada nos mesmos moldes da que ocorre no hipercentro.

Medo da fiscalização é constante entre os ambulantes

Mesmo sem uma fiscalização ostensiva nos demais pontos da capital, o clima entre os demais camelôs de Belo Horizonte é de insegurança. O medo de uma operação e apreensão das mercadorias deixa os ambulantes em alerta constante.

“A gente não sai nem para almoçar. Comemos aqui mesmo para evitar uma surpresa negativa”, conta Simone Gonçalves, que expõe produtos no bairro Alípio de Melo. Com uma banca ao lado da dela, Cristina Maciel, também estava receosa. Trabalhando na rua há apenas um mês, ela teme por batalhas entre a prefeitura e os camelôs. Maurício Vieira / N/A

Produtos espalhados pela calçada prejudicam pedestres na avenida Visconde de Ibituruna, no Barreiro

“O sentimento de insegurança é tremendo. Mas, preciso trabalhar. Já distribuí currículos e nada até agora”, afirma. Ela é uma das poucas ouvidas que afirma estar disposta a ir para um shopping popular. Mas, até o momento, a prefeitura deu essa opção apenas aos que atuam na área central.

O medo nas ruas era tão grande que a presença da reportagem causou rebuliço. “Cuidado aí! Tem gente fotografando”, gritou um rapaz no Barreiro, tentando alertar os demais camelôs. “O que vocês vão mostrar? Que estamos trabalhando?”, questionou outro, em um tom agressivo, em Venda Nova. “O que você quer saber? É da prefeitura? Porque só saio daqui a força”, disse outro, também no Barreiro.

Guarda Municipal

Na rua Úrsula Paulino, no Betânia, a presença da Guarda Municipal assustou os ambulantes. Quando o carro da corporação parou na rua, um verdadeiro “telefone sem fio” começou. Mas, quando os agentes saíram do veículo, passaram pela calçada que mal dava para caminhar de tanto camelô, sem olhar para o lado. 

A Guarda Municipal explicou que o foco agora é o hipercentro e que a instituição só é responsável por essa fiscalização quando está na companhia de fiscais.
 

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