(Maurício Vieira)
O número de casos de dengue registrados de janeiro a outubro neste ano corresponde a menos de 1% do total contabilizado em igual período de 2016. O quadro traz sensação de segurança para a população, mas não é garantia de que a guerra contra o Aedes aegypti está vencida.
De janeiro a outubro de 2016, quase 157 mil pessoas foram infectadas na capital mineira, conforme boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Em igual período de 2017, foram contabilizados 1.488 casos.
O principal motivo da queda nos registros é a sazonalidade da doença, explica o infectologista Estevão Urbano. O médico observa que, depois de um ano com explosão do número de casos, como aconteceu em 2016, a tendência é de que a sociedade fique mais protegida.
“No entanto, isso não impede que o número de casos volte a crescer. Isso pode acontecer no próximo ano ou a qualquer momento, caso não sejam tomados os cuidados necessários de combate ao mosquito”, ressalta Urbano.
E as provas de que os criadouros do Aedes continuam existindo e em proliferação não são poucas.
Nessa segunda-feira (17) mesmo, o ambiente perfeito para acumular água e abrigar ovos e larvas do mosquito foi encontrado por um agente de Combate a Endemias no quintal de uma casa no bairro Olaria, região do Barreiro. Por lá, além da água acumulada, larvas do vetor da dengue foram coletadas.
Panorama
A situação, que é comum em vários pontos da cidade, foi observada durante uma das primeiras visitas do dia em que começou o último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) de 2017, executado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
A pesquisa, que também é feita em outras duas épocas do ano – janeiro e março – vai traçar o panorama para o período chuvoso e o verão, e indicar o risco de nova epidemia das doenças transmitidas pelo mosquito.
Durante o levantamento, mais de 45 mil residências – que representam cerca de 5% dos imóveis, de acordo com o Reconhecimento Geográfico da Secretaria Municipal de Saúde – devem ser visitadas pelos agentes nas próximas duas semanas.Maurício Vieira / N/A
Locais como a parte de trás da geladeira parecem criadouros improváveis, mas devem ser verificados
Segundo a padronização do Ministério da Saúde, o índice de infestação larvária recomendado para evitar epidemia é de até 1%. Nos demais levantamentos realizados em 2017 em BH, o valor foi de 1,3% em janeiro e 1% em março.
Conforme o gerente de controle de zoonoses da Regional Barreiro, Victor Rodrigues Dias, é provável que o número fique abaixo de 1%. “Mas, se começar a chover e o calor estiver intenso, temos que redobrar a atenção”, afirma.
Comprometimento da população com prevenção ainda é baixo
A fim de orientar a população e exterminar focos reincidentes, os agentes de zoonoses da PBH realizam, além das três edições do LIRAa, cinco visitas às residências ao longo do ano. A recomendação é sempre a mesma: eliminar criadouros do Aedes aegypti, que coloca ovos em recipientes com água parada.
Por isso, garrafas, sacos plásticos, vasos de planta e pneus velhos expostos à chuva, devem ser descartados ou virados de cabeça para baixo. Recipientes que acumulam água, como caixas d’água e piscinas, tampados.
“O problema é que a gente acha que vai acontecer com os outros, e não com a gente. Como os últimos dias foram de sol, não achei que teria água acumulada e ignorei possíveis focos. Tanto que o agente achou as larvas em uma lata que estava debaixo do tanque”, afirmou o auxiliar de produção Denner Junio de Sousa Santos, que recebeu ontem a visita de um agente da PBH, no primeiro dia do LIRAa.
Tanto Denner quanto a esposa, com quem mora na casa, nunca tiveram dengue ou outras doenças causadas pelo mosquito, mas ele sabe os efeitos. “Agora tenho que tomar uma providência, tirar isso tudo daqui, porque vão começar as chuvas”, disse.Maurício Vieira / N/A
Larvas de Aedes aegypti foram encontradas em lata que estava em espaço coberto de casa no bairro Olaria
Permanente
Para o gerente de controle de zoonoses da Regional Barreiro, Victor Rodrigues Dias, o nível de comprometimento com a saúde é muito baixo. “Tem pessoas que ficam esperando a visita, ao invés de realizar a manutenção. Com isso, o foco parece permanente”, observa.
Por isso, sem atenção e colaboração da população, as ações da prefeitura podem não ter o efeito máximo. De acordo com o agente da PBH Welington Wesley Simões, de 40 anos, e que realiza o trabalho desde 2008, as pessoas demoram a tomar atitudes de prevenção. “Já encontrei focos na mesma casa mais de uma vez e, muitas vezes, a postura não muda. É como ‘enxugar gelo’”, comenta.
Conforme a Secretaria de Saúde, no levantamento, cada prédio é considerado como um imóvel “em função das características do vetor, que preferencialmente se multiplica nas áreas mais baixas”. Assim, nos edifícios, são checadas as garagens, áreas comuns, coberturas (caixas d’água e piscinas) e áreas privativas do 1º andar.
Além Disso
Até o último levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), foram confirmados pouco mais de 800 casos de dengue em BH. Outros 672 casos notificados esperam de resultados e 7.516 foram descartados.
De acordo com os dados, Venda Nova teve o maior número de ocorrências, com 133 confirmados, seguida da regional Noroeste, com 124, e Nordeste, com 99 casos. No ano passado, foram confirmados 154.893 casos de dengue na capital, com 61 mortes.
Outras doenças
Só este ano foram comprovados 70 casos de chikungunya em BH. Dentre eles, 38 são importados, ou seja, contraídos fora da capital e 32 autóctones (contraídos no município). Há, ainda, 10 casos em investigação para a doença.
Já para a zika, foram confirmados 17 casos. São 134 notificados para a doença, sendo 98 de residentes da capital mineira e 36 de outros municípios. Dos casos de moradores de BH, 71 foram investigados e descartados os outros 10 continuam em investigação.
A fim de conscientizar a população, o grupo de arte e mobilização da SMSA, Mobiliza SUS-BH, vai realizar ações educativas em empresas, instituições de ensino e na Estação Central do Metrô nesta semana.