(Léo Rodrigues / Agência Brasil)
Uma pesquisa realizada por uma psicóloga da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que as mulheres foram as que mais sofreram as consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorrido em 2015. O resultado foi fruto da tese de doutorado de Débora Diana da Rosa, que passou cerca de dois anos e meio em trabalho de campo atuando com os atingidos pela tragédia.
Na tese, a pesquisadora ressalta que toda a população dos locais atingidos pelo rompimento é impactada por uma série de violências, classificadas como econômica/social e psicossocial, cujo eixo é o modelo de mineração em voga no Brasil. Os efeitos vistos entre as mulheres, no entanto, foram mais alarmantes e identificados como violências de cunho patriarcal, originárias do sistema estrutural machista de opressão. “O cartão de auxílio financeiro mensal, concedido como medida inicial de compensação, por exemplo, foi entregue prioritariamente aos homens, e as atividades informais que muitas delas exerciam, como corte de cabelo, produção de doces, artesanato, tarefas na lavoura e pesca não foram reconhecidas como perda de trabalho e renda para efeito de indenização”, afirma a doutora.
Outro ponto crítico observado pela pesquisadora em relação aos efeitos sobre as mulheres foi a sobrecarga de novos afazeres domésticos atribuídos a elas, como a incumbência de cuidar das pessoas que adoeceram em razão do rompimento da barragem. Débora Rosa também constatou que essas pessoas se isolaram socialmente, pois perderam a relação com vizinhas e familiares próximos que auxiliavam nas tarefas de cuidado.
A análise de Rosa também aponta a dificuldade que a mulher enfrenta para ser ouvida nos diferentes espaços de atuação.
O processo de pesquisa da doutora se baseou na análise de reportagens jornalísticas produzidas na época do rompimento e atas das primeiras reuniões. Rosa participou também de audiências públicas e assembleias convocadas pelo Poder Judiciário com as empresas e os afetados e entrevistou, em profundidade, cinco mulheres que relataram como o episódio marcou suas vidas e impôs nova rotina a partir daquele 5 de novembro de 2015.
Fonte: UFMG