(Divulgação/Utramig)
Importantes propriedades terapêuticas da fava d’anta, espécie recorrente da flora em regiões áridas do Norte do Estado, levaram o Governo de Minas a investir em uma pesquisa pioneira, realizada pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig) e da Associação de Múltipla Ação Social (Multiação), como o objetivo de desenvolver um amplo estudo sobre as capacidades medicinais, ecológicas, econômicas e sociais do cultivo, chegando até a entrega ao cliente final: as indústrias farmacêuticas.
Entre as 77 plantas medicinais do Cerrado catalogadas pela equipe responsável pelos estudos, a fava d’anta é a que mais se destaca, de acordo com o professor e pesquisador da Utramig, à frente da pesquisa, Fernando Madeira.
O cultivo da fava possibilita a criação de microclimas, a sustentabilidade ecológica dos locais de cultivo e alto rendimento econômico pelas substâncias. Elas possuem potenciais terapêuticos e curativos no tratamento de doenças circulatórias, oftalmológicas, dentárias, cirurgia, dermatologia e nutrição, entre outros. São utilizadas para a produção de remédios, cosméticos e alimentos.
“Conservar e ampliar a produção é fundamental para recuperação de áreas desertificadas por exercer o trabalho de nutrir e irrigar o solo, favorecendo a sustentabilidade da colheita e preparando o solo para cultivos de plantas companheiras e sucessoras. O cultivo da planta medicinal também possui uma das melhores taxas de retorno financeiro do mercado. No âmbito social, devemos ressaltar os avanços para a cadeia produtiva, além da melhoria na condição de vida de centenas de famílias produtoras rurais”, observa Madeira.
Mercado
A pesquisa favoreceu um aumento econômico da renda em cerca de 750% em cada tonelada do produto, sendo comercializada hoje a R$ 1,64 frente aos R$ 0,20 anteriormente. É o resultado da ampliação da produção de 24 toneladas para cerca de 980 toneladas anuais, com todo o benefício final transferido diretamente às famílias, que passaram a realizar outros trabalhos no arranjo produtivo.
O projeto já qualificou mais de 1.600 famílias e, hoje, conta com cerca de 400 famílias certificadas que produzem e comercializam os frutos da fava e se mantêm no grupo de produtores agroextrativistas, segundo as boas práticas de monitoramento no campo e nas indústrias.
A pesquisa, iniciada em 1999 e colocada em prática em 2004, teve a motivação inicial da observação da extração em áreas do Cerrado, onde várias famílias vinham coletando o fruto para envio às indústrias farmacêuticas sem o conhecimento das funcionalidades fitomedicamentosas e a aplicação do cliente final.
Colhendo
Nesse cenário promissor tanto para produtores, como investidores e o consumidor final, na primeira etapa do projeto foi desenvolvida uma metodologia de coleta que não interfere no crescimento sustentável da planta.
A partir daí, a segunda etapa se ateve na capacitação de produtores para instruir e difundir o manejo adequado da plantação para uma coleta sustentável.
Os agricultores passaram a adotar requisitos fundamentais para o trabalho. Entre esses estão o diagnóstico para realizar a verificação biológica da planta a ser coletada, que consiste na identificação do ponto de maturação ideal do fruto para extrair o máximo teor do fitomedicamentos e maximizar os resultados.
“A situação econômica e social vem melhorando a qualidade de vida de cerca de 400 famílias. Antes existiam os atravessadores , não havia capacitação nem conhecimento nem controle de preço ou de preservação”, afirma Gilvan dos Reis, produtor rural e coordenador da produção da região do São Francisco.
Tendência mundial de consumo de produtos naturais reforça importância de novos estudos
Agregar valor aos produtos naturais do Cerrado é um benefício para o crescimento econômico da comercialização. No exterior existem mais de 500 produtos derivados da faveira, desde cremes, pomadas, xampus, aditivos, conservantes, medicamentos e outros materiais inovadores, favorecendo uma tendência cultural do uso de medicamentos naturais, sem contraindicações, que está começando a ser absorvida pelo Brasil.
“A grande importância desta pesquisa é dar sustentabilidade a toda a cadeia produtiva da fava d’anta, desde o produtor rural até as grandes indústrias, e conservar o Cerrado”, ressalta Fernando Madeira, da Utramig.
As empresas estão vendo no mercado oportunidades de negócios neste cenário onde o uso de produtos cosméticos e fito-medicinais é crescente. A dispersão desse conhecimento, segundo Madeira, vai “automaticamente gerar mais interessados em investir, pois esse mercado é muito promissor”.
Com a ampliação das pesquisas e resultados, o planejamento do Governo de Minas Gerais é criar um Centro de Referência de Plantas do Cerrado para que seja implantado um espaço de encontro e discussão entre todos os agentes da cadeia produtiva da fava d’anta e outros frutos do Cerrado.
Além Disso
Além dos nomes típicos fava d’anta, faveira e favela, em alguns locais a planta é conhecida como faveiro-do-campo, falso-barbatimão, barbatimão-de-folha-miúda, angiquinho, cinzeiro, angelim, canafístula, enche-cangalha.
O fruto, do tipo vagem, de polpa amarelada, carnoso, duro, marrom-vinoso e achatado, quando partido exala odor semelhante ao do chocolate. Seu uso medicinal envolve uma extensão na medicina interna, oftalmologia, cirurgia e odontologia, além de cosméticos e alimentos.
Na linha de fitomedicamentos é utilizada no tratamento de doenças circulatórias, como varizes, hemorroidas, circulações periféricas, problemas típicos no Brasil, mas também no resto do mundo, e a administração de flavonoides é recomendada. Chás, comprimidos, farinhas, gomas e a administração em alimentos diretamente pode ser feita – a depender da necessidade médica.