(Flávio Tavares)
Uma dor absurda e a possibilidade de não conseguir realizar nem tarefas simples, como pentear os cabelos. Assim vivem muitas pessoas com artrite reumatoide, doença autoimune que prejudica as articulações e pode comprometer movimentos corriqueiros.
“Quando você vê que não está conseguindo fazer tarefas básicas, o emocional abala”, relata a nutricionista Raquel Bié, de 37 anos, que convive com a doença há sete.
Novas opções de tratamento animam pacientes como ela e profissionais que lidam com a patologia. A expectativa é que medicamentos descobertos recentemente sejam mais efetivos e tenham menos efeitos colaterais.
Há a possibilidade de reduzir a quantidade de medicação também. “Tomo três medicamentos por dia. Um deles, injetável”, conta a nutricionista, que vê com bons olhos a possibilidade de amenizar os sintomas com apenas uma droga.
“Os medicamentos são fundamentais no tratamento. É com esse recurso que conseguimos diminuir um pouco a inflamação e aliviar a dor intensa que acomete os pacientes”, explica o presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia (SMR), Ênio Ribeiro Reis.
De acordo com o médico, as opções existentes hoje são antigas e, em alguns casos, não resolvem o problema. “Todas essas pesquisas são válidas, se levarmos em consideração a possibilidade de retardar ou amenizar os prejuízos da doença”, garante.
Opções
Conforme a SMR, existem no mercado pelo menos oito medicamentos para tratar a patologia. Como doença autoimune, a artrite ataca o próprio sistema imunológico como se as células fossem agentes prejudiciais ao corpo.
Um dos novos remédios – o Upadacitinibe da farmacêutica AbbVie – atuaria na inibição de uma das proteínas mais atacadas, a JAK1. Ela está amplamente envolvida em funções celulares e imunológicas e esse bloqueio amenizaria as agressões.
As consequências seguintes são benéficas. Com a queda, diminuem as dores e a progressão da doença pode se estabilizar. Esse componente está na quarta fase de pesquisa e ainda não há prazo para o início da comercialização.
Estabilização
Há 10 anos, a aposentada Mônica Lenira, de 64 anos, ex-coordenadora de um grupo de apoio à familiares de pacientes com a doença, tinha poucas opções. O filho, Gabriel Almeida, hoje com 21 anos, desenvolveu a doença ainda criança e era difícil explicar a ele o motivo de tantas dores por toda parte do corpo.
“Ele sentia muita dor, era algo absurdo. Depois de muito tempo de tratamento, isso se estabilizou, mas ela ainda existe”, diz. Tomando medicamentos injetáveis, o jovem estudante se acostumou a doença, que não tem cura. “São adaptações. Ele precisou aprender a conviver com ela”, explica Lenira.
Doença tem fator hereditário; hábitos saudáveis são obrigatórios
Além dos novos medicamentos, pesquisas e estudos sobre a vida de quem tem a doença são frequentes. Em um recente realizado pela Sociedade Brasileira de Reumatologia, um problema principal foi identificado: o diagnóstico tardio prejudica muito as possibilidades de tratamento.
De acordo com o estudo, a detecção da doença pode levar até 30 anos para alguns pacientes. A pesquisa ouviu 1.125 pessoas em centros de saúde de nove estados.
“É preciso ter atenção a um sintoma bem específico: dores articulares com calor e inchaços podem indicar a presença da artrite reumatoide. Se elas persistirem por mais de seis semanas, um especialista deve ser consultado”, alerta a reumatologista Celeste Magna, da Unimed-BH.
Segundo a especialista, a doença tem caráter hereditário, assim sendo, pessoas que já têm histórico da patologia na família devem se antecipar.
“Hoje, temos tecnologia suficiente para detectar em exames a pré-disposição de alguém à artrite. Isso nos garante um tratamento preventivo e mais assertivo”, detalha. Dois exames de sangue – o fator reumatoide e o anti CCP – são usados no diagnóstico. A avaliação clínica também auxilia na identificação da doença.
Aliado aos medicamentos, existem outras práticas que também podem favorecer os pacientes. Pilates e acupuntura são indicados. “Os dois garantem uma melhora na dor e nos movimentos”, descreve.
Estímulos à saúde mental como relaxamento e Yoga também são indicados. “É obrigatório que os pacientes da artrite reumatoide se preocupem com boa alimentação, atividades físicas regulares, não consumam álcool, cigarros ou drogas”, afirma a reumatologista Celeste Magna.