Piratas de luxo cruzam as estradas de Minas

Rosildo Mendes - Hoje em Dia
05/11/2013 às 06:38.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:55
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Ônibus limpo, com banheiros feminino e masculino, geladeira cheia de água mineral para os passageiros, ar-condicionado, TV, som ambiente, certificado de dedetização recente, dois andares e muito conforto. Assim são alguns dos veículos que fazem o transporte clandestino de Belo Horizonte ao Norte de Minas.  As excursões “piratas” são oferecidas por empresas autorizadas a funcionar como estabelecimentos de turismo, ou seja, com atividade restrita à venda e à realização de excursões.    Pelas regras da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), quem atua no ramo turístico não pode negociar viagens intermunicipais avulsas. Mas a oferta clandestina de trechos – só ida ou volta – em vez de pacotes se tornou comum no Estado.    No último dia 28, a equipe do Hoje em Dia embarcou em um ônibus irregular na área central de BH. O destino: Porteirinha, no Norte de Minas, a 580 quilômetros.    Da capital até lá, a viagem de nove horas e meia foi tranquila: sem correria, em um ônibus confortável. Houve uma parada para lanche e nenhuma abordagem nos postos de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). O ônibus passou pelas BRs 040 e 135.   Para fazer o caminho de volta, era possível escolher uma dentre outras cinco empresas que lucram alto vendendo passagens mais baratas do que as cobradas pelos ônibus “legais”.   Todo o Norte   Quem deixa a capital pode ir para Janaúba, Salinas, Grão Mogol, Montes Claros, Nova Porteirinha, Espinosa, Mato Verde, São Francisco ou Jaíba. Em qualquer caso, encontrará prestadores de serviço que oferecem, ilegalmente, comodidade e economia.   Na ida e volta para Janaúba, por exemplo, quem opta pelo serviço clandestino poupa R$ 110. Preço do transporte ilegal: R$ 80 cada trecho, contra R$ 135 do convencional na empresa mais barata. A outra firma autorizada a fazer o mesmo itinerário cobra R$ 143.    Olé   Uma das formas de driblar a fiscalização é manter pontos de partida em locais diferentes de BH: quatro no Centro e um em Venda Nova. Os ônibus saem lotados, mas só à noite. Outra estratégia das empresas piratas é vender as passagens somente por telefone. O pagamento é feito dentro dos ônibus.    Nos coletivos, usuários admitem saber que rodam em um veículo ilegal, mas ressaltam que a economia e a qualidade do serviço contribuem para a escolha. “Sempre que um amigo quer viajar, dou o telefone das empresas”, afirmou uma professora de história que seguia para Janaúba.    Bagagem livre da balança seduz passageiro   Moradora de Porteirinha, a comerciante Heloísa Andrade sempre recorre às viagens clandestinas para vir a Belo Horizonte. Ela afirma não levar em conta somente o preço das passagens, mas também a “conservação” dos veículos.  “A empresa (legalizada) que faz o trajeto até Belo Horizonte é a Transnorte. Mas os ônibus dela são velhos e desconfortáveis”, diz.    Um homem que não se identificou retirava do bagageiro caixas com compras feitas na capital. “Se fosse pagar um ônibus convencional, gastaria um absurdo pelo excesso de peso. No clandestino, não. Nem balança há para saber quantos quilos você está levando”.    A precariedade dos veículos da Transnorte, que atende Porteirinha, foi confirmada por um funcionário da empresa, que pediu anonimato.  Segundo ele, os veículos que cumprem esse itinerário partem de Espinosa, fazem conexão em Porteirinha e de lá seguem para Montes Claros. Na última cidade, pode acontecer de os passageiros serem transferidos para um veículo mais moderno, que irá até BH.    O advogado da Transnorte, Victor Marcondes de Albuquerque Lima, afirmou que os veículos da empresa atendem aos padrões de qualidade exigidos pelos órgãos competetentes.   Ponto a ponto   Apesar dos “atrativos”, o diretor do DER-MG, João Afonso Baêta, lembra que o transporte clandestino tem uma série de desvantagens e perigos:   - Ônibus sem o seguro de responsabilidade civil (exclusivo para cobrir danos aos passageiros em caso de acidente) - Manutenção da frota pode não ser adequada - Falta de gratuidade - Traficantes podem usar os veículos para transportar drogas - Risco de desvio ou roubo de bagagens  - Transporte de mercadorias contrabandeadas - Motorista inabilitado - Problemas mecânicos nos ônibus podem deixar o passageiro no meio do caminho

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