O desafio de gerir o lixo urbano investindo na reciclagem parece uma missão cada vez mais impossível para Belo Horizonte. Hoje, somente 1% das quase duas mil toneladas coletadas diariamente na capital é reciclado, conforme dados da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). A meta estabelecida para elevar o índice de reaproveitamento dos resíduos urbanos para 11% tem um prazo de 20 anos. Considerando que esse ritmo seja mantido e o volume gerado não cresça, a capital levará 181 anos para conseguir reciclar todo o lixo que produz.
No período chuvoso, o problema se torna mais evidente. Grande quantidade de lixo nas ruas favorece os alagamentos, como ocorreu na avenida Vilarinho, em Venda Nova, na segunda-feira. De acordo com a Defesa Civil estadual, o sistema de drenagem do local não funcionou na capacidade total devido ao excesso de resíduos depositados nos locais de vazão da água.
No que depender do engajamento popular, a resolução do problema vai demorar ainda mais para acontecer. A consulta pública do Plano Municipal de Resíduo Sólidos, disponível no site da PBH para receber sugestões da população, teve apenas 13 manifestações até ontem. O prazo para envio termina hoje.
O documento cria diretrizes para gestão do lixo nas próximas duas décadas e é requisito para que a capital receba verbas da União destinadas à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos. As mudanças efetivas, no entanto, devem acontecer no longo prazo.
O cenário ideal parece algo distante, e não é por acaso. Segundo especialistas, é necessário um grande esforço de educação ambiental que mude a forma como as pessoas consomem e descartam produtos. “Isso implica mudanças de hábitos da sociedade, mais participação e uma logística reversa (para as empresas), com o retorno de produtos descartados para o setor produtivo”, explica a responsável pelo plano, Patrícia Dayrell, da SLU.
Continuidade
Com a mudança de gestão na PBH, o cumprimento das metas estabelecidas no projeto também pode ser colocado em xeque. O futuro secretário municipal de Meio Ambiente, Mário Werneck, explica que o principal é buscar uma gestão integrada do lixo que é produzido em BH.
“Nós temos pessoas dos municípios vizinhos que acabam gerando lixo em Belo Horizonte quando frequentam a cidade. Quando essas pessoas estão internadas em um hospital ou frequentam um shopping na capital, elas geram resíduos. Portanto as cidades (da Grande BH) precisam trabalhar em parceria”, explica.
Werneck afirma que a nova equipe trabalhará para que a gestão dos resíduos sólidos seja melhorada na capital, no entanto, não há como garantir que o estudo elaborado pela atual gestão seja executado por completo. “Uma coisa é a atual administração propor, outra coisa é a nova gestão tratar isso como legado. Principalmente porque já vivemos uma realidade em que é preciso fazer com poucos recursos”.
Se os recursos dos cofres públicos estão reduzidos diante do cenário de recessão econômica, os custos com a limpeza urbana caminham na direção oposta. De acordo com a SLU, essas despesas saltaram de R$ 272 milhões em 2010 para R$ 428 milhões em 2016.