(André Brant - Hoje em Dia)
O chefe do Estado Maior da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Divino Pereira de Brito, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, negou que esteja faltando combustível para o abastecimento de viaturas da corporação. De acordo com o oficial, ocorreu, sim, um atraso pontual na entrega do produto pela distribuidora.
“Foi no início deste mês e logo foi resolvido. Não houve falha nem falta do produto. Além disso, estamos desde o fim de novembro com a responsabilidade de abastecer também os veículos da administração direta do Estado”, esclareceu.
A edição da última quinta-feira (4) do Hoje em Dia trouxe depoimentos de vários militares que relatavam a escassez e racionamento de combustível para as viaturas em Belo Horizonte e no interior do Estado.
Segundo os militares ouvidos pela reportagem, viaturas de vários batalhões da capital e de cidades das regiões Central, Zona da Mata e Norte do Estado estariam recebendo quota máxima de 20 litros de combustível para o trabalho semanal.
O coronel Brito informou que o Estado investe R$ 24 milhões por ano no abastecimento de todas as viaturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. “São R$ 2 milhões por mês, gastos apenas com combustível”, reforçou.
O oficial destacou que a PM possui 11.500 viaturas em pleno funcionamento em Minas. “A demanda da corporação é grande. Temos o reforço na Operação Natalina na Região Metropolitana de Belo Horizonte e nos grandes centros do interior. Estamos prestando serviços normalmente nas ruas, viaturas estão empenhadas nas ocorrências e não houve nenhuma diminuição dos patrulhamentos preventivo e ostensivo”, garantiu.
Parceria
Prefeituras do interior de Minas informaram, na última quinta-feira (4), que já estão ajudando a corporação para manter as viaturas em plena atividade.
Os municípios de Viçosa, na Zona da Mata, e São Lourenço, no Sul de Minas, confirmaram convênio com o Estado para a manutenção dos veículos. Essa contribuição estaria prevista nos orçamentos municipais.
O presidente da Associação dos Praças da Polícia Militar (Aspra), Marco Antônio Bahia, salientou que a prática de parceria entre as corporações e o município é comum. “Em muitos casos, garante que a unidade não fique totalmente sem equipamentos”, disse.
O coronel Divino Pereira de Brito também confirmou a parceria e esclareceu que o convênio é feito em vários municípios do Estado. “Essa parceria prevê, além do abastecimento, o reparo das viaturas. Isso acontece quando o município manifesta a vontade de compartilhar esses gastos, já que a Segurança Pública não é um dever só do Estado, mas de todos”, explicou.
Aeronaves também sob economia
Militares ouvidos pela reportagem do Hoje em Dia relataram que também haveria problemas para abastecer as aeronaves da corporação. Segundo um oficial da PM, que pediu para não ser identificado, os helicópteros só teriam autorização para o deslocamento em ocorrências consideradas “de grande repercussão”.
De acordo com o militar, oito aeronaves – cinco em Belo Horizonte, uma em Montes Claros (Norte de Minas), uma em Uberlândia (Triângulo Mineiro) e uma em Juiz de Fora (Zona da Mata) – estariam com a atuação limitada.
Na última quinta-feira (4), devido ao grave acidente com um ônibus na BR-381, próximo a João Monlevade (região Central), equipes em helicópteros foram acionadas para auxiliar no salvamento dos feridos. Cinco pessoas morreram. Mesmo diante da urgência do caso, informou o policial, foi preciso contactar antes o comando, na Praça da Liberdade, para receber o aval.
A informação é a de que os responsáveis pelos grupamentos de patrulhamento aéreo da Pampulha e das cidades do interior não têm, pelo menos por enquanto, autonomia para decidir.
A situação também seria preocupante no Corpo de Bombeiros. Segundo um sargento, que pediu anonimato, o racionamento de combustível afeta as três aeronaves. “Os resgates estão sendo feitos normalmente, porém, em todos os batalhões do Estado, a ordem é economia, tanto no combustível dos helicópteros quanto das viaturas”, disse.
O deslocamento do helicóptero Pégasus, da PM, estaria atrelado a outra condicionante. “Agora, o suporte aéreo acontece quando temos outra equipe em terra, em viatura, fazendo o contato visual. Assim, conseguimos reduzir a viagem e garantir a economia de combustível”, informou outro militar, também sob a condição de que não fosse revelado o nome.
INTERIOR
Em Montes Claros, no Norte de Minas, e, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a operação dos helicópteros Pégasus estaria comprometida desde a temporada de seca. Os veículos são utilizados não apenas na segurança pública, mas no suporte a incêndios florestais, com o transporte de bombeiros e brigadistas aos locais de difícil acesso.
O coronel Divino Pereira de Brito, chefe do Estado Maior da PM, esclareceu que não há também falta de combustível para as aeronaves nem a limitação de atuação. “Todos os serviços estão sendo feitos de acordo com a demanda, como operações, eventos, patrulhamentos e socorros”, disse.
Em relação ao pedido de autorização para a decolagem dos helicópteros, o oficial negou essa prática e disse que cada comandante dos grupamentos aéreos tem autonomia para decidir sobre os voos. “Isso acontece apenas em solicitações fora da serviço habitual”, afirmou.
Fragilidade
Para o coordenador de estudos em segurança pública e direitos humanos da Universidade Federal do Paraná (UFP), Pedro Bodê, um racionamento poderia fragilizar a segurança pública em Minas. “Esses equipamentos fazem parte de um esquema que garante o combate à criminalidade. Sem eles, a violência se torna mais evidente”, destacou.