(Flávio Tavares/Hoje em Dia/Arquivo)
A Polícia Civil, alertada por serviços de inteligência de outros países, já se prepara para a provável vinda de black blocs estrangeiros. Lembra o delegado Anderson Alcântara, da 1ª Região Integrada e coordenador das investigações sobre a atuação dos vândalos em Minas Gerais, que os black blocs existem em várias partes do mundo e agem de forma semelhante ao que acontece no Brasil, sempre aproveitando-se de manifestações públicas. Em intenso intercâmbio com polícias de países que já sediaram Copas do Mundo, como Alemanha, Estados Unidos e Espanha, além de Israel, a Civil prepara-se para identificar e monitorar esses turistas indesejáveis. Segundo Alcântara, a Polícia Federal está concentrada em investigações sobre a hipótese de atentados terroristas. Aos policiais brasileiros, se somarão os estrangeiros que virão com as delegações que participarão da Copa. A partir das apreensões de membros dos black blocs, realizadas nas manifestações de 7 de setembro último, Alcântara revela que alguns traços da organização já foram identificados. “Eles agem como milícias militares: concentram-se primeiro, partem em formação militar contra a PM, provocam a tropa para conseguir a reação e começar o tumulto, dispersam-se em seguida para iniciar o quebra-quebra”, relatou o delegado. Os jovens apreendidos durante as últimas manifestações, para surpresa do delegado, “não se constrangeram em dizer, na delegacia, que seu objetivo era quebrar tudo”, disse o delegado. Com eles foram encontrados guias impressos em papel ofício, com as tarefas de cada um dos membros do grupo durante as manifestações, além de bolinhas de gude e de chumbo e bodoques. Segundo Alcântara, há indícios de que pessoas de nível superior arregimentam meliantes e dão a eles treinamento, oferecendo como recompensa as oportunidades de furto geradas pelos quebra-quebras. Seriam, os líderes, de acordo com o delegado, “anarquistas que procuram se autoafirmar nas manifestações, como fazem em outras partes do mundo, e querem a destruição do Estado”. Legislação frágil Um dos principais problemas enfrentados pelos policiais é a fragilidade da legislação brasileira para tipificação deste tipo de crime. O enquadramento por danos ao patrimônio resulta em penas pequenas, de detenção de um a seis meses ou, quando qualificado, de seis meses a três anos. Por isso, o enquadramento dos black blocs tem sido por formação de milícia e grupos paramilitares para a prática de crimes, cuja pena prevista é de quatro a oito anos de prisão. Enquanto não há mudança na legislação, a Polícia Civil vem monitorando os black blocs já identificados e pretende prendê-los pela prática de qualquer delito. “O infrator sempre reincide”, aposta Alcântara. O objetivo é tirá-los de circulação antes da Copa do Mundo. Nas viagens ao exterior para treinamento, bem como na recepção de policiais estrangeiros para o mesmo fim, a Polícia Civil vem dedicando especial atenção em táticas alternativas de investigação e técnicas para formação de provas. Novos equipamentos e tecnologia vêm sendo comprados. “As investigações estão evoluindo e, em breve, teremos novidades para contar”, disse o delegado.