Ainda era noite quando uma equipe de policiais do Departamento de Operações Especiais de Minas Gerais (Deoesp), sob o comando do diretor-geral Wanderson Gomes, partiu rumo ao Espírito Santo com um objetivo: prender o criminoso mais procurado do Estado de Minas Gerais e colocar fim a um erro da Justiça Federal. No último domingo (7), a equipe de policiais civis chegou a Vitória para três dias de caçada.
O alvo era Marcelo Tadeu Alves Pereira, conhecido como Dupel. Ele é especialista em sequestro de famílias de gerentes de bancos. Desde junho de 2012, Dupel conseguiu mais de R$ 2 milhões, segundo cálculos das polícias, com essa modalidade de crimes e espalhou terror entre as famílias sequestradas. Neste mesmo período, baleou um policial militar, é suspeito de atirar em uma criança, e matar ao menos três pessoas, uma delas o comparsa Rodrigo Moisés de Deus.
Isto poderia ter sido evitado, não fosse a decisão da juíza da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, Raquel Vasconcellos, que mandou soltar o acusado, preso no dia 25 de abril de 2012 pela Polícia Federal (PF). Era a segunda vez que os federais o prendiam. O mandado foi concedido após Dupel ter sequestrado a família de um gerente da Caixa Econômica Federal.
O caso
A prisão era temporária. Valia por 30 dias. O Hoje em Dia teve acesso ao processo na Justiça Federal. Consta nos autos que, no dia 16 de maio de 2012, portanto oito dias antes de expirar o prazo da temporária, a PF protocolou pedido para que a juíza revertesse a prisão para preventiva. Deste modo, Dupel ficaria preso por tempo indefinido, até o julgamento.
O delegado que assina o pedido classifica o acusado como “criminoso violento e contumaz”. Mas a juíza só não julgou o pedido como, no dia 12 de junho, mandou soltar Dupel. No mesmo dia, o Ministério Público Federal protocolou denúncia reiterando a necessidade da prisão. No dia 14 do mesmo mês, ele saiu da cadeia pela porta da frente.
Apenas em 21 de junho Raquel Vasconcellos decidiu julgar o pedido da PF e do MPF. Chegou à conclusão semelhante a dos pedidos, mas tardia. “O modo como ele teria participado da ação indica sua periculosidade, sua personalidade voltada à conduta criminosa, o que leva a crer que, se colocado em liberdade, voltará a delinquir”, diz despacho da juíza. Mas já era tarde.
“Ele faz atos de terror e barbaridade. No momento da prisão, admitiu de forma cínica que efetuou o disparo contra o soldado Caetano”, disse o delegado Wanderson. Ele e sua equipe passaram dias à procura de Dupel. A espera e as noites sem dormir foram recompensadas na última quarta-feira. Em Guarapari, após três dias no Espírito Santo, Dupel enfim foi preso de novo.