Por dia, 13 pessoas com até 14 anos morrem no Brasil em consequência de acidentes

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
11/09/2016 às 20:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:47
 (Cristiano Machado/Arquivo Hoje em Dia)

(Cristiano Machado/Arquivo Hoje em Dia)

Nos próximos dias, Márcio Júnior, de 7 anos, não poderá participar das oficinas de arte em uma escola do bairro das Indústrias, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele estava a caminho quando foi atropelado por um motociclista ao tentar atravessar a rua.

O garoto teve a tíbia fraturada em seis lugares e deixou o hospital com a perna direita engessada. “Foi um segundo de descuido. Fiquei desesperada, pois há dois anos o irmão gêmeo dele, Marcus Túlio, também foi atropelado”, lamenta a dona de casa Cristiane Goulart, de 33, mãe dos meninos.

O destino deles poderia ter sido mais trágico. Por dia, 13 crianças e adolescentes (até 14 anos) morrem no Brasil em decorrência de acidentes. A estatística foi apontada em estudo da ONG Criança Segura, com dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e do IBGE. A média equivale a 3.172 óbitos de janeiro a agosto deste ano.

Em Minas, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) trabalha com números do Sistema de Informações Hospitalares do SUS: 58 mortes em 2015 e 23 de janeiro a junho de 2016, por causas externas, ou seja, que não estão relacionadas a doenças.

Acidentes são a principal causa de óbitos de 1 a 14 anos. Até 1 ano, são as perinatais, ligadas à gestação e ao parto, segundo o Comitê de Segurança da Sociedade Mineira de Pediatria.

Fatores de risco

Acidentes de trânsito, incluindo os atropelamentos e os que ocorrem no transporte de crianças e adolescentes, são os que mais matam pessoas com até 14 anos, de acordo com o estudo da Criança Segura. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) também apontam quedas, sufocações, intoxicações, queimaduras e afogamentos como as principais causas das internações e óbitos nesta faixa etária.

“Os impactos são imensuráveis. Quando não perdem a vida, estão sujeitos a carregar sequelas pelo resto da vida”, lamenta a gestora de políticas públicas Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da Criança Segura.Flávio Tavares

HPS – Criança foi internada após engolir uma moeda

Balões de látex se transformam em vilões nas festas infantis

Na análise das causas de acidentes feita pela ONG Criança Segura, os indicadores de sufocações são os mais preocupantes. De 2001 a 2014, os óbitos por esse motivo aumentaram 7% no Brasil.

“É qualquer tipo de obstrução das vias aéreas. A criança engasga com alimentos, peças que se desprendem dos berços, pequenos objetos macios e partes de brinquedos”, alerta Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da entidade.

Segundo ela, os registros de sufocações são mais comuns nas regiões Sudeste e Sul. “Há alguns aspectos regionais que influenciam. As mortes por afogamento, por exemplo, ocorrem mais no Norte, e as por queimaduras no Nordeste, devido à tradição de festas juninas”.

Em BH, o HPS atende muitos casos desta natureza. Crianças ficam sufocadas após engolirem balões de látex de festas infantis, bolinhas de gude e moedas.

Também é comum engolirem baterias de relógio e de controle remoto, que são corrosivas e podem causar queimaduras no tubo digestivo, destaca o Comitê de Segurança da Sociedade Mineira de Pediatria.

Condenado por especialistas, andador continua fazendo vítimas

Referência nacional no atendimento a acidentados, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) tem uma movimentada ala infantil. Entre os casos mais comuns que chegam à pediatria estão as vítimas de quedas.

Quando as crianças caem de uma altura superior a 1,5 metro, o risco se agrava, segundo o Comitê de Segurança da Sociedade Mineira de Pediatria. Neste caso, os acidentes mais comuns são as quedas das lajes de residências, usadas como espaço de lazer, sobretudo para soltar pipas.

Crianças com até 2 anos estão mais sujeitas a quedas da própria altura, de sofás e camas. Os andadores são apontados por especialistas como grandes vilões na vida dos pequenos.

Eles não têm noção do perigo. Por isso, ao serem colocados num equipamento com rodas, ficam expostos a quedas, principalmente de escadas. É comum sofrerem traumatismos cranianos, destaca o Comitê.

No Canadá, a fabricação, comercialização e importação de andadores são proibidas por lei desde 2007. No Brasil, onde os pediatras fazem campanha com a mesma finalidade, dez marcas do equipamento foram reprovadas em testes de qualidade e segurança.

No topo

Nas estatísticas do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, usadas como referência pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), as quedas são responsáveis por quase a metade das internações de crianças e adolescentes (com até 14 anos) em Minas. Os dados se referem às causas externas, não relacionadas a doenças.

As quedas motivaram 47,7% das internações infantojuvenis em 2015 e 47,6% de janeiro a junho deste ano.

Leia na edição desta terça-feira (13): maior parte dos acidentes pode ser evitada
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