(Ricardo Bastos)
Novas denúncias dão conta de uso e tráfico de drogas e de furtos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dessa vez, o problema foi relatado no prédio da Faculdade de Direito, por onde circulam desembargadores, juízes, promotores e até delegados, na região Centro-Sul de BH. Alunos e ex-alunos que ainda frequentam o espaço se dizem assustados com a situação, que vem se agravando nos últimos meses, segundo relatos.
Aberto à livre circulação, mesmo de pessoas que não têm ligação com a instituição, o edifício tem sido o local escolhido por jovens usuários de drogas – muitos deles, alunos de escolas da região –, mendigos e até traficantes.
A reportagem do Hoje em Dia esteve no local e confirmou as denúncias. No terceiro andar, onde está instalada a cantina e há um espaço de convívio, a venda de drogas acontece livremente. Em uma área mais reservada, ficam os usuários, que quebraram lâmpadas para dificultar a identificação.
Gravidade
“Já vi gente fumando maconha e cheirando cola, e várias pessoas presenciaram a venda lá dentro. Muitos usuários são alunos de fora, do ensino médio, que vão para o prédio usar droga”, conta uma aluna do 8º período, que pediu para não ser identificada.
Segundo ela, o ambiente é hostil, embora não haja relatos de provocações aos estudantes. No terceiro andar, o problema é mais acentuado, de acordo com a aluna.
“A gente chega lá e se depara com traficantes, usuários e até mendigos morando naquele espaço. Isso está afastando os alunos. Eu e meus amigos não vamos mais a essa área de convivência”, afirma a jovem.
Para piorar, existem relatos de furtos. Um estudante do 10º período, que também preferiu não ter o nome revelado, conta que ter objetos levados é algo corriqueiro na faculdade. “Porteiros e equipe de segurança estão incomodados com essa movimentação”.
Embora contrariados, seguranças do prédio são impedidos de agir, já que existe resistência da direção em restringir o acesso a estranhos, conforme o estudante.
“Qualquer pessoa pode usufruir do espaço público. Se restringirem a entrada de quem é de fora, alguns movimentos sociais, por exemplo, vão ficar impedidos de se reunir no local. Muitos utilizam o espaço para assembleias”, diz o aluno.
Posicionamento
A direção da Faculdade de Direito foi procurada para comentar as denúncias. Em nota, a instituição limitou-se a dizer que está “apurando as denúncias internamente, com o intuito de esclarecer e sanar possíveis problemas”.
O texto diz também que “a instituição avalia mecanismos que possam garantir a segurança para toda comunidade acadêmica”.
Pichações contribuem para deteriorar ambiente de estudo
Não bastassem as cenas comuns relatadas pelos alunos da Faculdade de Direito da UFMG, um ex-aluno que optou pelo anonimato por temer represálias destaca outro problema: pichações. Segundo ele, que utiliza a biblioteca para estudar para concursos, nada tem sido poupado da ação dos vândalos, desde a fachada até as salas de aula.
“Não tem onde pichar mais, o prédio está completamente tomado, as escadarias, paredes, banheiros”, revela, ressaltando que o contingente de seguranças é pequeno e que os funcionários da instituição estão de mãos atadas, sem poder fazer nada.
Recorrente
O problema relatado na Faculdade de Direito é semelhante ao que foi descrito por alunos e professores da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. No fim de março, estudantes do curso de história chegaram a ter as aulas suspensas por falta de segurança no campus.
“Não tem como não perceber. Hoje não fazem nem questão de esconder, de ser mais discretos” - Ex-aluno da Faculdade de Direito da UFMG