(Lucas Prates)
No mesmo ano em que 70 mil veículos a mais passaram a circular nas ruas de Belo Horizonte, pelo menos 4 mil pessoas deixaram de utilizar o metrô da capital, diariamente. A média de passageiros em 2016, de 198 mil a cada 24 horas, foi a menor dos últimos cinco anos.
Para especialistas, a queda comprova a ineficiência do sistema e a necessidade urgente de expansão da malha, o que esbarra na falta de recursos. Atualmente, são apenas 28,1 quilômetros ligando a estação Vilarinho, na região Norte da capital, ao Eldorado, em Contagem, na Grande BH.
Além da limitada extensão dos trilhos, que precariza o modal, a implantação do Move também contribuiu para o recuo de usuários. “O metrô é bem mais rápido, mas, além de não nos levar a todos os lugares, é menos confortável que o BRT”, afirma Rayane de Jesus Pereira, de 22 anos. Moradora do bairro Mantiqueira, em Venda Nova, Rayane precisa pegar um ônibus para chegar à estação mais próxima do metrô. O caminho é feito diariamente para que ela chegue ao estágio.
Justificativa
Além da implantação do BRT em BH, que dá mais opções aos usuários, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) alega que a queda também é resultado da crise econômica e o aumento do desemprego.
“A crise é sim um dos componentes, mas tem também uma transferência desses usuários para os carros particulares, em várias partes do país, por causa da ineficiência do transporte público”, afirma o consultor em transporte e trânsito Osias Batista Neto.
Expectativas
A novela do metrô em BH se arrasta há décadas. No papel, o plano é construir outras três linhas e ampliar a já existente. Segundo a Empresa Pública Trem Metropolitano de Belo Horizonte (Metrominas), ligada ao Governo do Estado e responsável pela formulação desses projetos, além da revitalização do atual traçado, será implantado um trecho de 1,5 quilômetro entre o Eldorado e o Novo Eldorado, em Contagem. Os projetos de engenharia estão prontos.
Também já foram finalizados os projetos da Linha 2, com 10,5 quilômetros, ligando o Barreiro à Nova Suíça, e da Linha 3, de 4,9 quilômetros subterrâneos, entre Lagoinha e Savassi. O órgão elabora projetos do trajeto de 20,5 quilômetros entre o Novo Eldorado e Betim. A previsão é que fique pronto no primeiro semestre de 2018.
Problema é que tais obras não têm data para ocorrer, avisa o Ministério das Cidades. Nem há verba para qualquer intervenção neste ano, como mostra documento no site da CBTU.Lucas Prates / N/A
Dados preliminares mostram, em 2017, uma média diária de 195,4 mil passageiros
Sem regionalização, Metrominas será empresa fantasma e sem função, diz especialista
Além da falta de recursos, os investimentos na ampliação do metrô de BH esbarram em outra limitação: a burocracia. Não há sequer a definição de qual órgão ficará responsável pelo gerenciamento do sistema.
Atualmente, o metrô é administrado pela CBTU, ligada ao Ministério das Cidades. Porém, conforme a pasta federal, novas obras dependem da descentralização da companhia e da transferência das responsabilidades para a Metrominas, que assina os projetos de engenharia. “As tratativas estão em andamento e o governo federal estuda a estratégia para viabilizar a operação”, resumiu o ministério na nota enviada.
“Não vamos ter expansão de metrô se ficar na esfera federal. A Metrominas foi criada justamente para assumir esses projetos”, afirma o pesquisador da Fundação João Pinheiro e ex-diretor da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana, José Osvaldo Lasmar.
Ele acredita que a regionalização do metrô é a solução. Porém, Lasmar defende que, durante um prazo, o governo federal continue arcando com os gastos.
“Com a regionalização, a Metrominas poderá ser um núcleo de inteligência para pensar melhor os investimentos a serem feitos. Caso contrário, vai ser uma empresa fantasma e sem função”, afirma Lasmar.Lucas Prates / N/A
Estações do metrô de BH estão vazias
20 anos de tratativas
Implantada em 1997, durante o governo Eduardo Azeredo, a Metrominas foi criada para operar o transporte de passageiros sobre trilhos da Grande BH. Logo nos primeiros anos começou o debate sobre a necessidade de regionalização do metrô de BH, mas sem conclusão.
Exemplo de estaduali-zação bem-sucedida é o metrô de Salvador, na Bahia. Lá, a mudança no gerenciamento do modal começou em 2013, por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP). Melhorias estão previstas até 2043.
Além Disso
Com as receitas em queda devido à redução de passageiros e cortes nos repasses federais, a CBTU teve que ajustar os contratos firmados com fornecedores. Segundo o presidente do Sindicato dos Metroviários, Romeu José Machado Neto, o órgão já sinalizou que irá reduzir o número de funcionários. Em nota, a CBTU explica que o quadro de pessoal é gerenciado pelo governo federal. Um Plano de Demissão Voluntária (PDV) está sendo negociado com a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST) em todo o país, ainda sem definição de data e desligamentos.Editoria de Arte / N/A