(Frederico Haikal)
Do alto do Mangabeiras, aos pés da Serra do Curral, crianças e jovens soltam pipas, enquanto amigos e familiares cantam “parabéns pra você” na praça do Papa, zona Sul de Belo Horizonte. Na Savassi, o espaço público no cruzamento das avenidas Cristóvão Colombo com Getúlio Vargas serve de palco para shows, mostras culturais e degustação de legítimos petiscos mineiros regados a cerveja gelada. Em outras áreas, muitos aproveitam o verde e o ar livre para movimentar o esqueleto nas pistas de caminhada, ler, namorar e até trocar figurinhas.
Amplas ou aconchegantes, cercadas de árvores, sombra e bancos – algumas com equipamentos de ginástica –, praças revitalizadas ou bem cuidadas acolhem milhares de pessoas. E estão em alta na capital mineira.
Prova disso é o anseio dos moradores por manter conservadas essas áreas de democrático convívio social. Na última edição do Orçamento Participativo Digital, projeto da Prefeitura de BH no qual o cidadão escolhe obras a serem executadas, ficou decidido que metade das 18 intervenções previstas será nesses locais.
Uma das contempladas é a Praça Governador Israel Pinheiro, a praça “do Papa”. Ponto privilegiado para contemplação da capital, o cartão-postal receberá R$ 2,7 milhões para revitalização. Parte do piso da escadaria precisa ser trocada, e as pichações, removidas.
Porém, o paisagismo recebe manutenção constante e elogios dos visitantes. “Aqui é muito bonito”, afirma o universitário Renato Kiarelly, de 22 anos. Desde criança, ele solta pipa ali, incentivado pelo pai. Na última semana, “apresentou” o local ao amigo americano Andrew Cook, de 22, que passa férias na cidade.
Também considerada um dos principais atrativos turísticos de BH, a Praça da Liberdade, ladeada por museus e outros espaços culturais, é bastante visitada.
“Venho diariamente. Às vezes faço caminhada. Ou apenas me sento para ler”, conta a aposentada Helena Barbosa, de 52 anos, moradora da Savassi.
Ela também frequenta a praça perto de casa. “A Savassi passou por uma grande mudança com a revitalização. Sempre foi movimentada, mas agora está mais bela, privilegiando quem anda a pé”.
Modificações como essa fazem parte da história. Chefe do Departamento de Antropologia da UFMG, o professor Andrés Zarankin lembra que as praças passaram por diversas transformações, tanto no que se refere ao espaço em si quanto ao uso.
“No passado, esses locais representavam o espírito público da coletividade. A cidadania era exercida por meio de debates. Já no século 20, começaram a ganhar árvores, bancos e até pistas, o que modificou o uso”, diz. l
Conservação e segurança, aspectos indispensáveis
O bom estado de conservação das praças é determinante para que os espaços públicos sejam frequentados. Limpeza, manutenção, paisagismo, segurança e acessibilidade são os principais itens para garantir a constante utilização. A constatação é da presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em Minas (IAB/MG), Rose Guedes.
“Se há conforto e segurança, as famílias vão estar presentes. Mas esses são, apenas, os pontos fundamentais. Há outras formas de incentivar a frequência das pessoas”, afirma.
Segundo Rose, programações culturais e equipamentos como brinquedos são importantes. “Parcerias ou convênios com o setor privado, incentivando a adoção das praças, são as melhores formas para se garantir isso”, diz.
Adotada por uma empresa e revitalizada recentemente, a Praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, ganhou nova iluminação, brinquedos e aparelhos para ginástica, dentre outras melhorias.
O investimento nesses locais faz com que a população tenha prazer em frequentá-los. Casado e pai de três filhos, o publicitário Manuel Rolim, de 30 anos, sempre leva a mulher e os filhos José, Olívia e Pedro à praça.
sem atrativos
Quem também engrossa o coro de que a descaracterização do patrimônio e a imagem de espaço inseguro e degradado inibem a visitação é o antropólogo Andrés Zarankin. “Praças malcuidadas jamais serão frequentadas. Ao contrário, terão moradores de rua de um lado e, do outro, o favorecimento à criminalidade”.
Um exemplo é a Praça Rio Branco, em frente à rodoviária, no Centro de Belo Horizonte. Lá, é raro encontrar algum equipamento público sem pichações ou intacto. O piso também está bastante danificado.
O local integra a lista das nove praças que serão revitalizadas neste ano. O valor do investimento em cada uma é o mesmo: R$ 2,7 milhões.