( )
Dengue, zika, chikungunya, encefalite de Saint Louis e as febres amarela, do Nilo e do Mayaro. Sete pragas contemporâneas que, assim como as que atacaram o Egito, no antigo testamento bíblico, têm em Minas – e no restante do país – o ambiente propício para fazer estragos incalculáveis.
A combinação de ocupação urbana desordenada, clima tropical e um fluxo de pessoas indo e voltando de todas as partes do mundo é, segundo especialistas, o cenário ideal para que os mosquitos transmissores dessas doenças se propaguem.
A situação se torna ainda mais grave diante da ausência de vacinas para a maioria das enfermidades. Hoje, apenas a imunização contra a febre amarela é comprovadamente eficaz e está disponível para a população.
Soma-se a isso a pouca efetividade das práticas mais comuns de combate aos vetores. Virologista e professor da UFMG, Flávio Guimarães da Fonseca explica que não há solução a curto prazo para o problema.
“O que existem são paliativos para o controle da população de mosquitos, mas é uma estratégia pouco eficaz, já que o ambiente urbano favorece essa proliferação”, explica.
Em 2016, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Minas registrou um dos maiores surtos de dengue dos últimos anos, com mais de 519 mil casos e 276 mortes.
Para Flávio Fonseca, a tendência é piorar, já que novas arboviroses (males causados por mosquitos) foram registradas isoladamente no país, o que acende o alerta para o risco de epidemias até então inéditas.
“Já detectamos a presença da encefalite de Saint Louis e da febre do Mayaro, que são transmitidas pelo mesmo inseto. Portanto, é muito provável que, em questão de tempo, outros surtos aconteçam”, avalia o pesquisador.
Lilian Diniz, infectologista e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, ressalta que enquanto existirem vetores haverá pessoas doentes. Para ela, além do desenvolvimento de vacinas, é necessário repensar a expansão urbana.
“Essas enfermidades são geralmente silvestres, mas o homem penetra cada vez mais essas áreas, onde os vírus já circulam, o que é muito ruim”.
Vulneráveis
A dificuldade de diagnóstico rápido devido à semelhança entre as doenças também é um dificultador para que a intervenção médica seja rápida.
O infectologista Dario Ramalho, do Hospital Eduardo de Menezes, na capital, explica que os vetores geralmente “não deixam a assinatura”, prejudicando a identificação do inseto de forma instantânea.
O especialista ressalta, no entanto, ser necessário reforçar a prevenção existente. “Precisamos desenvolver com urgência outras medidas de combate aos vetores, mas sem relaxar com a tecnologia atual. Isso é tudo que temos disponível no momento”, frisa. O Ministério da Saúde foi procurado, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.