A Justiça Federal em Ponte Nova prorrogou o inquérito instaurado pela Polícia Federal para investigar o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Mariana. No pedido enviado, a PF conseguiu mais 60 dias para concluir o caso. Cerca de 20 pessoas já foram ouvidas.
Pela primeira vez, o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, será interrogado, nos próximos dias, na sede da superintendência da PF em Belo Horizonte. No fim do mês passado, Vesconi já havia sido ouvido no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Civil.
Antes de iniciar as oitivas, os federais sobrevoaram Bento Ribeiro, distrito de Mariana, que ficou completamente destruído pelo mar de lama da mineradora.
Na qurta-feira, foi reconhecido o corpo da 17ª vítima do maior desastre ambiental do país. Segundo a Polícia Civil, trata-se de Vando Maurílio dos Santos, de 37 anos. Ele era funcionário da empresa terceirizada Integral Engenharia e estava na lista de desaparecidos, que agora passa a ter dois nomes.
Sócios da mineradora Herculano são indiciados
Três sócios da mineradora Herculano, proprietária de uma barragem de rejeitos que se rompeu em setembro do ano passado, em Itabirito (região Central), foram indiciados pela Polícia Civil. Jairo Herculano Antunes, Mardoquel Herculano Antunes e Gláucio Herculano Antunes vão responder por homicídio com dolo eventual (quando assume-se o risco de matar), além de sete crimes ambientais, dentre eles o fornecimento de informações falsas à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).
O engenheiro de minas Nivaldo José Machado e o gerente-geral Renato Mariano Antunes Herculano também foram acusados pelos mesmos crimes. No desastre, três funcionários da Herculano morreram levados pela lama.
Marcos Naves Branco, sócio-diretor da empresa Engeo, que presta consultoria à mineradora, responderá apenas por fornecimento de informações falsas à Feam. O inquérito policial segue agora para o Ministério Público, responsável por oferecer a denúncia à Justiça. Conforme a investigação, a empresa cometeu uma série de falhas que levaram ao desabamento, todas de conhecimento dos indiciados, informou a delegada Melina Clemente.
A barragem B1 estava desativada desde 2010 por ter atingido o limite da capacidade de armazenamento de rejeitos de minério. Como alternativa, a Herculano construiu a barragem B4, mas problemas inviabilizaram sua utilização. A empresa, então, voltou a impactar a B1 com o depósito de rejeitos, mas sem autorização das autoridades, concluiu o inquérito.
A delegada explica que foram construídas na antiga estrutura espécies de piscinas, de onde eram retirados rejeitos já solidificados para a colocação de novos materiais. “Problemas graves na drenagem durante esse processo levaram ao rompimento da barragem”, afirmou a delegada.
ALERTA IGNORADO
Ainda de acordo com as investigações, duas semanas antes do desastre, o funcionário Adilson Aparecido Batista, que morreu na tragédia, procurou a engenharia de segurança para contar que seu local de trabalho estava sob risco.
écnicos fizeram fotos e um laudo, alertando para o perigo. “O documento foi encaminhado à direção, que nada fez. Houve uma omissão deliberada da empresa. Havia água escorrendo a olho nu. Eles assumiram o risco do rompimento”, disse Melina.
O perito Otávio Guerra reforçou que a barragem se rompeu pelo excesso de água. A Herculano foi procurada ontem pela reportagem, mas não atendeu aos telefonemas nem respondeu aos questionamentos feitos por e-mail.