(Leonardo Morais/Arquivo Hoje em Dia)
Uma matéria publicada pela BBC Brasil neste sábado (28) surpreendeu os leitores com a afirmação de que o rio Doce poderá “ressuscitar” em apenas cinco meses, ao contrário do que vêm dizendo especialistas desde o rompimento da barragem Fundão, da Samarco, em 5 de novembro.
O cenário otimista foi desenhado pelo professor de Engenharia Costeira do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Paulo Rosman, autor de um estudo que teria sido encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para dimensionar o impacto e a extensão da chegada da lama ao mar capixaba.
Segundo o professor, acidentes mais graves do que o episódio de Mariana, na região Central de Minas, já foram registrados e não impediram o restabelecimento da fauna e da flora locais. Ele cita como exemplo a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estado Unidos, em 1980.
“As fortes chuvas entre novembro e abril 'lavarão' o rio Doce, num processo natural”, afirma Rosman na entrevista.
Contraponto
O gerente-geral do departamento de Meio Ambiente da Fundação Gorceix, professor Wilson José Guerra, contesta essa teoria. Uma semana após a enxurrada de lama descer pelo curso d'água a caminho do Espírito Santo, ele percorreu o rio Doce, da foz à montante, em Minas, coletando amostras e conferindo de perto a destruição.
Segundo ele, apenas a chuva não seria capaz de reverter a situação. “Se a montante do rio e a mata ciliar estiverem limpas, naturalmente a água que descer será limpa também. Mas se estiverem sujas, a chuva vai fazer com que a lama que está mais perto do local do impacto siga pelo rio. A chuva, hoje, a montante, não seria ideal”.
De acordo com Guerra, cinco meses seria um “tempo milagroso”, levando em consideração que quase 30 dias após o rompimento da barragem ainda há muita lama depositada no rio e nas imediações dele. O professor ainda ressalta que é preciso ir além do foco principal.
“Todo mundo fala muito no rio Doce, mas os afluentes e as respectivas nascentes também têm que ser cuidados, para que desça muita água limpa e acelere a recuperação”.