(Reprodução/TV Globo )
Um professor universitário é investigado por suspeita de manter uma mulher, de 46 anos, em condições análogas à escravidão em Patos de Minas, na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais. Após as denúncias, ele foi afastado, nesta segunda-feira (21), das atividades que exercia em uma instituição de ensino da cidade (confira nota abaixo). A mãe e a mulher dele também estão sendo investigadas.
Segundo informações obtidas e divulgadas por uma reportagem do Fantástico, no domingo (20), a suspeita é de que a mulher, uma empregada doméstica, era mantida sob a vigilância dos patrões (o professor a mulher dele), sem registro em carteira, salário mínimo ou descanso semanal remunerado.
Ela foi resgatada no último dia 27 de novembro, após denúncias, por auditores fiscais do trabalho e pela Polícia Federal (PF). A mulher vivia no apartamento do suspeito, em um quarto pequeno, “sem janelas, abafado e sem ventilação”, segundo o auditor fiscal do trabalho Humberto Moteiro Camasmie.
Depois de ser resgatada, a empregada doméstica passou a viver em um abrigo para mulheres vítimas de violência.
O professor e a mulher dele são investigados por submeter uma pessoa à condição de trabalho análogo ao escravo, além de tráfico de pessoa. Eles também podem responder por apropriação indébita, com pena de até 20 anos de prisão. A mãe dele, primeira patroa da empregada doméstica, também pode ser responsabilizada.
Entenda a história
À reportagem, a mulher contou que chegou à casa da mãe do professor ainda aos oito anos de idade, lembrando que foi ao local para pedir comida, mas que a dona da casa se ofereceu para adotá-la. A adoção nunca foi formalizada.
Desde então, ela trabalhava como empregada doméstica, sendo obrigada a largar os estudos. Depois de 24 anos, a diarista foi levada para trabalhar na casa do professor, onde foi mantida até novembro.
Depois de 38 anos, ela foi resgatada após vizinhos desconfiarem da situação e denunciarem ao Ministério Público do Trabalho que, por meio da procuradoria de Patos de Minas, ajuizou uma ação cautelar para ter acesso à residência e fazer o resgaste da mulher.
Segundo informações, até o momento, apenas o professor foi ouvido durante as investigações. Por conta de ameaças, a família não está mais morando em Patos de Minas.
Defesa
Em nota, a defesa da família, por meio do advogado Brian Epstein Campos, informou que ainda não teve acesso a todos os elementos que envolvem a possível vítima, e que a divulgação “prematura e irresponsável” da investigação “viola direitos e dados sensíveis da família”.
Confira a nota na íntegra:
“Com respeito a todas as interpretações e ao direito de manifestação possíveis e válidas numa democracia, a defesa informa que ainda não teve acesso a todos os elementos que envolvem a vítima. A divulgação prematura e irresponsável, pelos fiscais e agentes do Estado, antes de um processo que por sentença reconheça a culpa, viola direitos e dados sensíveis daquela família e vulnera a segurança pessoal deles. A defesa seguirá, discreta e séria, atuando exclusivamente nos limites constitucionais e do Devido Processo Legal. Estamos em um momento de confraternização cristã e uma reflexão cautelosa, após conhecimento de todos os fatos nunca criará prejuízos”.
Professor é afastado
Após as denúncias, o professor foi afastado das atividades que exercia em uma instituição de ensino na cidade. Por meio de um comunicado, o centro universitário informou que não concorda com os atos relatados e que, por isso, optou pelo afastamento.
Confira:
“Tomamos conhecimento de uma notícia, referente a um caso análogo à escravidão, envolvendo um docente da instituição, somente, ontem, pela mídia, e informamos a todos que não comungamos com os atos ali relatados. Tranquilizamos a todos: corpo discente, docentes e funcionários, bem como a comunidade em geral, de que todas as medidas cabíveis e legais já estão sendo tomadas. Ademais, informamos que o referido docente já se encontra afastado de suas atividades, na instituição”.