Projeto filantrópico ajuda portadores de doenças neurológicas a vencerem barreiras

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
12/04/2017 às 23:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:07

O sorriso estampado no rosto do pequeno Miguel escancara a alegria de quem tem muito o que comemorar. Aos 9 anos, o garoto que nasceu prematuro e, ainda na incubadora, teve uma hemorragia que motivou a paralisia cerebral, é um dos inúmeros casos de sucesso do projeto Instrumentalizar para Incluir, da Associação Mineira de Reabilitação (AMR).

Antes de chegar à instituição, o menino mal abria as pernas, tamanho o comprometimento motor causado pela lesão. Hoje, além de praticar esportes como o tênis de mesa, ele sonha em ser designer de games. Para a mãe, Juliana Silva, a oportunidade de receber atendimento na AMR foi “coisa de Deus”.

Sem vínculo com o SUS, a Associação Mineira de Reabilitação conta com a ajuda de parceiros para manter o atendimento às 487 crianças e adolescentes; 170 crianças aguardam na fila de espera por uma vaga para iniciarem os tratamentos na instituição

A evolução de Miguel, assim como das centenas de crianças atendidas pela associação, está ligada à quantidade de terapias às quais ele foi submetido desde os 5 anos, quando chegou à instituição. Além da fisioterapia, o garoto frequenta atualmente sessões de terapia ocupacional, esporteterapia, fonoaudiologia, psicologia e muitas outras práticas.

A mesma superação está sendo vivida pelo garoto Vitor, melhor amigo de Miguel e também vítima da paralisia cerebral. O menino, que chegou a ter um comprometimento de quase 90% do sistema motor, é hoje um jogador assíduo de basquete.

O ‘Instrumentalizar para Incluir’ engloba a esporteterapia e a inclusão escolar

Para a mãe, Ana Paula Alves, a convivência com outras crianças e profissionais de especialidades distintas transformou a vida de Vitor. “Todo esse período foi excelente. Não imagino o desenvolvimento dele sem esse lugar”, comemora.

Desafios

Apesar do sucesso, garantir atendimento às 487 crianças atendidas pela instituição não é tarefa fácil. Uma das razões é a dificuldade em conseguir verbas para bancar o trabalho filantrópico que não tem vínculo com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Com a demanda crescente por atendimento e a necessidade de oferecer cada vez mais especialidades, a saída encontrada pela instituição é buscar formas de arrecadar recursos.

A AMR recebe crianças e adolescentes de 0 a 17 anos e 11 meses com disfunções neurológicas; a maioria dos diagnósticos é de paralisia cerebral e síndromes associadas

Superintendente da AMR, Márcia Castro Fernandes explica que há uma busca constante por parcerias e convênios que ajudem a levantar verba para a instituição. O sufoco financeiro, no entanto, ainda é um problema frequente.

“Buscamos sempre o equilíbrio financeiro. Não fazemos despesas desnecessárias e otimizamos todo custo. Então, temos uma preocupação grande porque não imaginamos nunca dispensar os pacientes por incapacidade de pagar os salários dos terapeutas. Isso seria a morte para nós”, avalia Márcia.Flávio Tavares / N/A

NOS PALCOS – Fã de Leonardo di Caprio, Juan Ferreira sonha em trabalhar como ator profissional

Demanda

Outro desafio enfrentado pela entidade é prestar assistência à todas as famílias admitidas pela instituição. Na maioria dos casos, são pessoas que vivem longe na instituição, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e que dependem exclusivamente do transporte público para chegarem ao local.

“Temos famílias aqui que passam fome. Por isso realizamos campanhas para arrecadar mantimentos para que o tratamento tenha efeito. Não adianta uma criança desnutrida fazer fisioterapia”, explica a superintendente.Flávio Tavares / N/A

PROJEÇÃO – Autor de livros de aventura, Judá quer ser um escritor renomado

Próximos da maioridade, jovens sonham com profissões

A hora de partir e seguir o próprio caminho também chega para os jovens atendidos pela AMR. Aos 18 anos, eles são automaticamente dispensados para que a oportunidade seja oferecida a crianças com algum comprometimento neurológico e que ainda vão começar a caminhada de superação.

“Quando vim para cá, eu não abria as mãos e não tinha quase nenhuma coordenação motora. Agora, já caminho com ajuda do andador e toda essa evolução aconteceu graças aos tratamentos que eu tive aqui” (Judá Luciano)

Quem está prestes a sair do ninho lamenta o desligamento. Ao mesmo tempo, porém, comemora todos os benefícios conquistados. É o caso de Judá Luciano, um jovem de 16 anos que chegou à associação com apenas seis meses de vida. Na primeira infância, ele foi diagnosticado com paralisia cerebral e quadriplegia espástica, um quadro de grande comprometimento da coordenação motora.

Hoje, o jovem é autor de livros de aventura e sonha em ser um escritor renomado. “Isso começou porque eu criava histórias para brincar com meus bonecos. Ao longo do tempo comecei a escrever essas ideias, que viraram uma série e depois livros. Eu escrevo quando estou no ônibus, às vezes no celular e também no caderno. E não consigo escrever pouco. São sempre histórias compridas”, explica.Flávio Tavares / N/A

CUIDADO COM O PRÓXIMO – Assim que deixar a AMR, Lara vai começar o ensino médio e quer fazer medicina

Lara Moura, de 15 anos, também vislumbra um belo futuro depois que deixar a AMR. Ela espera poder ajudar pessoas assim como tem sido ajudada por inúmeros profissionais de saúde. “Ano que vem inicio o ensino médio. Quando me formar, quero cursar medicina”.

Já o jovem Juan Ferreira, fã declarado de Leonardo di Caprio, quer se dedicar ao teatro e se transformar em um grande ator logo que deixa a instituição. “Eu adoro ver filmes de ação. Amo o cinema. Quero aprender a contracenar e me tornar um profissional”, sonha.

  

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