(Simon Nascimento)
Seis pessoas foram presas suspeitas de integrarem uma quadrilha que invadia contas bancárias para pagamento de taxas do IPVA e outros débitos públicos. De acordo com a Polícia Civil, os boletos eram de clientes angariados pelos criminosos por meio de fraudes eletrônicas. O grupo também realizava abordagens presenciais, em que os integrantes se passavam por amigos de funcionários da Secretaria de Estado e Fazenda.
Eles usavam a justificativa de que as contas seriam pagas com 30% de desconto, oriundos de benefícios fiscais da pasta. Conforme a delegada Sinara Rocha, a organização era chefiada por um hacker, de 32 anos, que já havia sido preso em 2002 por estelionato. Um outro homem apontado como chefe do grupo é um motorista da Prefeitura de Betim, de 33 anos.
Os criminosos começaram a ser investigados no início do ano passado, quando um banco denunciou que clientes tiveram contas invadidas. À época, a informação era de que eles movimentaram R$ 90 mil. “Onze clientes da quadrilha foram localizados e informaram que foram atraídos por um benefício fiscal que estava sendo oferecido pela Secretaria da Fazenda”, disse a delegada.
Segundo ela, os clientes repassavam aos criminosos 70% do valor total do boleto. “O grupo criminoso, através do hacker, fazia o pagamento do valor total do boleto, mas usando o dinheiro da conta corrente de uma terceira pessoa de boa fé que foi invadida”, acrescentou.
A delegada não soube precisar o período de atuação da quadrilha. Entretanto, a corporação acredita que os crimes são praticados desde 2002, período em que o hacker foi preso. “Eles atuam há bastante tempo. Por enquanto, temos indícios de que a atuação tenha sido só em Belo Horizonte. O público-alvo eram pessoas que estavam em grupos de compra e venda de veículos, além de vendedores de automóveis", informou a delegada.
Além dos presos, seis carros de luxo, como BMW e Porshe, foram apreendidos em mansões. Os mandados de prisão e busca e apreensão foram cumpridos em Juatuba, Sarzedo, Betim, BH e Contagem. Os carros deverão ser usados para ressarcir as vítimas do golpe, garantiu Sinara.
Conforme as investigações, um dos mecanismos utilizados pela quadrilha era o de envio de e-mails, como se os membros fossem funcionários de instituições financeiras, solicitando alteração de dados cadastrais. Um link era gerado às pessoas. Ao clicar, o hacker conseguia obter os dados bancários para invadir as contas.
Aos policiais, ele disse que utilizava um software que impedia o envio da localização do computador usado por ele. Entretanto, em determinado momento da investigação o programa foi desativado, permitindo assim a localização do criminoso.
“A princípio, temos identificado o crime de violação de dispositivo eletrônico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Eles estão presos temporariamente, mas provavelmente haverá conversão em prisão preventiva”, finalizou a delegada. As pessoas que contrataram o serviço também podem ser presas pelos mesmos delitos, caso a Polícia Civil identifique que elas tinham ciência de que estavam participando de um golpe.
A prefeitura de Betim informou, por nota, que "não há registro de servidor ou colaborador terceirizado nos quadros do setor da Superintendência de Transporte, com o nome citado".
A Secretaria de Estado de Fazenda informou, também por nota, que os únicos descontos em impostos e taxas "são aqueles previstos na legislação tributária, e vale frisar que nenhum servidor público tem autonomia para conceder benefícios além dos já previstos". O órgão ressaltou que, no próprio site, é possível consultar os valores devidos e emitir guias para pagamento "sem a necessidade de intermediários".
Também por meio de nota, a Federação Brasileira dos Bancos disse que as instituições bancárias investem anualmente cerca de R$ 2 bilhões em sistemas de tecnologia voltados à segurança da informação. “A Febraban recomenda que a população mantenha atitude de permanente alerta, em especial em relação a mensagens de origem duvidosa, com arquivos anexados ou indicação de links para acesso. Também deve desconfiar de qualquer oferta ou proposta muito vantajosa, pois certamente é uma tentativa de obter dados para uma fraude”, diz o comunicado.
Recomendação
Um dos delegados responsáveis pela investigação, Francisco Abelha alertou que a população não deve clicar em links suspeitos. Segundo ele, em grande parte dos crimes digitais, os bandidos conseguem ter acesso aos dados dos usuários por meio de falsas correspondências eletrônicas.