Quarentena afrouxada em cidades vizinhas pode afetar sistema de saúde em BH

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
02/04/2020 às 20:48.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:10
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O afrouxamento da quarentena em cidades da Grande BH pode refletir no sistema de saúde da capital. Hoje, cerca de 25% dos atendimentos de média e alta complexidades na metrópole referem-se a pacientes de outras localidades. Porém, em época de picos de doenças, como foi com a dengue em 2019, a demanda chega a 40%.

O cenário é ainda mais temeroso se confirmadas as projeções de um estudo feito pela Universidade de Harvard (EUA) em parceria com a UFMG e o Ministério da Saúde. Segundo o levantamento, compilando os 12 cenários possíveis analisados pelos cientistas, a macrorregião de Belo Horizonte já poderá sofrer com a escassez de leitos de CTI até o próximo dia 13 por conta da demanda da Covid-19.

Casos suspeitos de coronavírus vindos de municípios vizinhos já chegam às Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da capital, disse o gerente de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Alex Sander Sena.

A demanda é mais perceptível nas localizadas no Vetor Norte, que historicamente recebem doentes de cidades como Ribeirão das Neves e Santa Luzia, dentre outras. 

O atendimento deve ser garantido, conforme prevê pactuação entre Belo Horizonte e outras 85 localidades. “Se alguém de Jaboticatubas, por exemplo, precisa de CTI, ele é cadastrado e vem para cá”, explica Alex Sander.

Novas regras
Mas enquanto a metrópole mantém linha dura na quarentena, cidades do entorno, e que muitas vezes dependem do socorro em BH, flexibilizam o isolamento social. 

Foi o que fez a administração municipal de Lagoa Santa ao autorizar nesta semana, por meio de um decreto, a reabertura de parte do comércio, como academias e salões de beleza, desde que os profissionais adotem medidas preventivas.

Em resposta, ontem o prefeito da capital, Alexandre Kalil, determinou a proibição, a partir de segunda-feira, da entrada de ônibus com passageiros vindos de lá. Em nota, a prefeitura vizinha afirma que “respeita a autonomia do município de Belo Horizonte e reitera que prevalecerá, em Lagoa Santa, o diálogo profícuo e a busca de soluções de consenso que possam atender o interesse da nossa população”.

Secretário-geral do Conselho de Saúde de Belo Horizonte, o médico Bruno Pedralva reforça que, neste momento, a quarentena mais rigorosa é essencial para dar tempo de preparar a rede de saúde para pacientes com Covid-19.

Segundo o médico, que atua há dez anos no programa Saúde da Família, “todas as evidências disponíveis sobre os países já em estágio avançado da epidemia indicam que a demanda por CTIs cresce uma média de 250%”. 

“Se as cidades da região metropolitana não adotarem medidas mais rigorosas, certamente vamos ter a sobrecarga no sistema de saúde da capital”, alerta Bruno Pedralva.

Em nota, o governo de Minas esclareceu que permanecem em vigor o decreto de calamidade e a deliberação que determina o isolamento social, salvo em casos excepcionais, como os serviços essenciais.

Sete Lagoas
Oito horas depois de autorizar o funcionamento de parte do comércio, a Prefeitura de Sete Lagoas voltou atrás e novamente suspendeu as atividades de segmentos como salões de beleza, bares e lanchonetes. A decisão, anunciada ontem, ocorreu um dia após o Ministério Público recomendar ao município rever o afrouxamento. O órgão também notificou a PM a autuar quem estivesse descumprindo o decreto estadual 

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