Quarentena faz triplicar interesse por ensino domiciliar; a cada dia, 30 famílias buscam informações

Luiz Augusto Barros
luiz.junior@hojeemdia.com.br
25/12/2020 às 15:08.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:24
 (August de Richelieu/Pexels)

(August de Richelieu/Pexels)

A pandemia de Covid-19 não apenas fechou escolas, obrigando alunos a adotar o ensino a distância (EaD), mas fez crescer o interesse pelo homeschooling. Diariamente, cerca de 30 famílias buscam informações sobre o modelo de aprendizagem dentro de casa, garante a Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned). Em 2019, eram cerca de dez consultas.

O formato que foi parar na Justiça ainda divide opiniões. Há quem não acredite no colégio como a melhor alternativa para crianças e adolescentes. Já outros afirmam que a proposta limita a convivência, podendo causar transtornos.

Em meio à interminável polêmica, o tema volta a ganhar força. Conforme o presidente da Aned, Ricardo Dias, o homeschooling está em ascensão desde 2018. Para ele, a procura maior, nesse momento, é justificada pelo fato de os pais passarem mais tempo com os filhos na residência. Segundo ele, as famílias teriam notado um potencial de aprendizado maior.

Dificuldade
Mas encontrar famílias dispostas a admitir o interesse não é tarefa fácil. Muitas preferem não se expor, com medo de uma repercussão negativa.

Para os que já adotam a educação domiciliar, o novo coronavírus também causou transtornos. Caso da advogada Lucilene Vasconcellos, de 44 anos, que adotou essa forma de ensino com os filhos, de 8 e 12, há dois anos.

“Meus filhos iam três vezes na semana ao futebol, faziam inglês. Uma vez por semana, no mínimo, nos reuníamos com outras famílias para o homeschooling. Parou tudo”, lamentou.

Segundo Lucilene, as aulas, ministradas por ela e outras mães, nem sempre eram feitas no âmbito familiar. Era comum frequentarem museus e parques, que acabaram fechados devido à Covid-19. 

Escritora e mestre em educação, a psicopedagoga Jane Haddad alerta para possíveis consequências desse completo isolamento. Os mais prejudicados, diz, são as crianças de até 7 anos, pois demandam muita atenção. “Pode haver aumento de ansiedade e diminuição na concentração, atenção e foco”.

Crítica
Um dos mais renomados pesquisadores de Minas, o professor universitário Carlos Roberto Jamil Cury, diz que o homeschooling pode afetar o desenvolvimento pessoal. Para ele, a escola é um lugar de convivência, onde se aprende a respeitar o outro nas diferenças. 

“Na família, isso não ocorre, porque ali são relações distintas. Na instituição, você se defronta com diferenças religiosas e físicas, e aprendemos a tolerância”.

De acordo com Cury, o ensino domiciliar também atrapalha os estudantes quanto à educação propriamente dita, por não ser acompanhado por profissionais especializados.

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