Público feminino é maioria da população, o que pode ajudar a explicar o maior número de óbitos; outros fatores, porém, podem estar associados
Quase 70% das mortes por dengue no Estado em 2024 são de mulheres. Em menos de três meses, 60 mineiras perderam a vida. Não há evidências científicas capazes de explicar o atual cenário da epidemia. Especialistas apontam que os dados devem ser analisados com cuidado, mas destacam pontos que podem aumentar o risco de transmissão da doença entre o público feminino.
Desde janeiro, Minas soma 93 óbitos, sendo 33 de homens. Os números constam no último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), de sexta-feira. No caso das mulheres, as estatísticas apontam que as faixas etárias com mais mortes são as de 30 a 39 anos, seguidas por 40 a 49 e 70 a 79.
Para o infectologista Estevão Urbano, que integrou o Comitê de Combate à Covid em Belo Horizonte, o número chama atenção. No entanto, ele diz que não há maior predisposição para as mulheres morrerem mais por dengue. Segundo o médico, pode se tratar apenas de uma “possível coincidência”.
O também infectologista Carlos Starling, que ao lado de Estevão participou do mesmo comitê durante a pandemia na capital, diz que é preciso levar em conta que as mulheres são maioria no território mineiro. Conforme o censo demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas representam 51% (10,5 milhões) da população.
No entanto, o próprio médico diz que o dado não é suficiente para explicar o maior número de mortes. Segundo Starling, estudos mais aprofundados são necessários, levando em conta a faixa etária das vítimas e comparações com outras localidades.
De toda forma, ele cita fatores que podem favorecer a maior transmissão da dengue entre o público feminino. Dentre eles, o ciclo menstrual. “As mulheres em faixa etária reprodutiva apresentam uma vez por mês um período de ovulação, no qual terão uma temperatura corporal um pouco mais elevada e isso pode atrair mais mosquitos”.
Além disso, o infectologista acrescenta o uso mais frequente de saias e shorts em meio às altas temperaturas, o que reforça a necessidade do uso de repelentes nas partes do corpo que estão expostas. “O mosquito pica, na grande maioria das vezes, da cintura para baixo”.
A SES-MG também foi procurada para informar se existem análises sobre o percentual maior de mulheres entre as vítimas da dengue. Porém, a pasta não se manifestou.
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