Radar indicou grande movimentação em barragem dias antes do rompimento, diz funcionário da Vale

Cinthya Oliveira
01/07/2019 às 19:03.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:21
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Uma grande movimentação foi detectada por meio de um radar na barragem B1 do Córrego do Feijão, em Brumadinho, 11 dias antes do rompimento que matou pelo menos 246 pessoas. Essa foi a informação transmitida pelo operador de radar interferométrico Tércio Costa, em depoimento prestado na tarde desta segunda-feira (1º) à CPI de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

O funcionário relatou aos deputados que as medições anteriores variavam entre 200 e 400 metros quadrados. No dia 14 de janeiro, ao inspecionar toda a barragem com o radar, ele detectou uma deformação em uma área de 14.800 metros quadrados. O dado apontaria para uma movimentação considerável na estrutura.

Costa disse que, imediatamente, reportou o caso aos superiores. Pouco tempo depois, um dos chefes teria lhe procurado para informar que outros parâmetros e medições não apontavam alterações. O operador de radar explicou que era um funcionário de baixo escalão e não poderia emitir qualquer alerta de segurança.

Tales Bianchi, gerente de planejamento da Vale, que teria confiscado o computador de Tércio Costa logo após a tragédia, também prestou depoimento e afirmou aos deputados que entregou o equipamento às autoridades policiais sem alterar os dados. 

Procurada pela reportagem, a Vale afirmou que o radar interferométrico era utilizado em conjunto com as demais ferramentas de monitoramento da barragem, sendo um instrumento complementar de verificação de possíveis alterações na deformação da estrutura. "O radar estava operando em modo de teste para futura utilização durante o processo de descomissionamento da barragem B1. A orientação era que os resultados apontados pelas ferramentas de monitoramento fossem posteriormente analisados in loco pela inspeção da equipe de geotécnicos para confirmação ou não de anomalias observadas nos instrumentos", informou a mineradora por meio de nota.

Acareação

Para alguns deputados presentes, esse depoimento foi fundamental para sustentar a teoria de que a Vale sabia que havia instabilidade na barragem B1 antes de 25 de janeiro e que teria se omitido ao não realizar procedimentos padrões de segurança.

A intenção dos membros da CPI é fazer uma acareação entre pelo menos quatro gerentes da Vale responsáveis pela barragem para confrontar as versões do que aconteceu nos dias que antecederam a tragédia. A data da acareação ainda não foi marcada.

Na manhã desta quinta-feira (4), a CPI recebe, na condição de investigados, Lúcio Cavalle e Silmar Silva, diretores da Vale. Eles coordenam gerências de geotecnia, sendo uma operacional e outra corporativa. As duas áreas, segundo apurações da CPI, estão empurrado uma para a outra as responsabilidades pela tragédia.

 Fonte: ALMG

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