(Maurício Vieira)
Até pouco tempo assunto restrito ao consultório dos nutricionistas, a alimentação saudável vem sendo preconizada também pelos médicos. Meio caminho andado para prevenir e até reverter doenças, tem sido “receitada” por profissionais que enxergaram na “comida de verdade”, preparada em casa, a fórmula da saúde perfeita.
Um grupo de especialistas brasileiros decidiu, inclusive, aprofundar no tema para influenciar os pacientes por meio do exemplo. E há quem prove que ir para a cozinha é, de fato, a maneira mais prática de cuidar do organismo.
Desde que mudou os hábitos alimentares e passou a cozinhar, há quase três anos, a jornalista e coach Karina Castro, 35, livrou-se não só da obesidade, mas de problemas no fígado e de outros que impactavam a fertilidade dela. “Estava a um triz de uma cirrose, além de colesterol, triglicérides e glicose altíssimos. Era um corpo tomado por problemas”, conta.
Recentemente, a moça, que aprendeu e passou a ensinar sobre o assunto, também detectou na rotina alimentar a causa de uma insônia persistente. “Passei por um momento difícil e acabei me descuidando da comida. Tudo o que precisei foi cortar o açúcar e suplementar magnésio e vitamina C”, resume.
Na pele
O clínico e nefrologista José Neto, de Belo Horizonte, também viveu na pele e levou para o consultório uma experiência pessoal com a mudança alimentar. Diabético, modificou completamente o que colocava na geladeira, tomou gosto por pilotar o fogão e, há cinco anos, livrou-se da doença crônica – adquirida há quase uma década.
Adepto da dieta low carb (ingestão de pouco carboidrato) ou simplesmente da “comida de verdade”, como prefere dizer, orienta os pacientes em consultório, nas redes sociais e até no próprio site, onde dedica um espaço para ensinar receitas culinárias.
“Gasto muito tempo com o paciente mostrando que o caminho está muito mais em mudar os hábitos de vida e a alimentação do que em tomar remédio. A medicina tradicional é boa para tratar doenças agudas e traumas, mas as doenças crônicas não param de crescer. Comer comida de verdade é quase como ensinar boi a pastar”, reforça o especialista.
Segundo José Neto, inúmeras enfermidades crônicas podem ser prevenidas ou revertidas por meio da alimentação, dentre elas esteatose hepática não alcoólica, doenças renais, gota, ovário policístico, além de alergias e problemas de pele, como psoríase.
Faça sua comida
Otorrinolaringologista em BH, Dário Antunes é também idealizador de um projeto cujo objetivo é colocar os pacientes em contato com a natureza – a horta-terapia. Para ele, o benefício de cozinhar e alimentar-se bem vai além de nutrir o corpo com ingredientes de qualidade. Maurício Vieira
GUINADA - Karina mudou a dieta, ajustou os ponteiros da balança e livrou-se da obesidade e dos problemas no fígado
“O ato de cozinhar remonta ao surgimento da humanidade, coloca o cérebro em um modo primitiva que nos desconecta do mundo atual, tão complexo e agressivo. É como um oásis para nossas conexões cerebrais e nos ajuda a restabelecer o bom humor e a própria imunidade”, explica o médico.
Para o profissional, comer mal é só a ponta de um iceberg. “Cuidar de tudo à sua volta significa cuidar menos de você. De um modo geral, as pessoas mais afetadas são as ‘de sucesso’, pois venderam mais e mais caro a única coisa que realmente pertence a elas: a própria vida”, adverte.
Brasileiros lançam livro de ‘receitas’ para vida saudável
Um grupo de médicos brasileiros decidiu ir além da teoria dos consultórios e buscar, na prática, a mudança que queriam ver nas próprias vidas e nas dos pacientes. Os especialistas viajaram para os Estados Unidos, onde fizeram um curso em Harvard, lançaram, no Brasil, um livro com dicas, inclusive culinárias, e agora prometem percorrer o país replicando conhecimento.
Uma das idealizadoras do Médicos na Cozinha, como foi batizado o projeto, a endocrinologista e metabologista Tassiane Alvarenga, de Passos, no Sul de Minas, explica que o objetivo é inspirar por meio do exemplo. “Não adianta falar para comer saudável. Isso todo mundo já sabe. É preciso traçar estratégias para que a pessoa transforme a teoria em realidade”.
No livro, cuja primeira edição está esgotada, e nos cursos ministrados pelo Brasil, o grupo, encabeçado também pela endocrinologista Paula Pires, de São Paulo, aborda os cinco pilares para uma vida mais saudável: alimentação, gerenciamento de estresse, saúde do sono, felicidade e prática de atividade física.
“É preciso desconstruir a ideia de que alimentação é assunto só para nutricionista e endocrinologista. Outras especialidades podem e devem ser protagonistas dessa história. Pacientes não mudam por medo, por ter alguém em posição superior influenciando, mas pela parceria com um profissional em quem confiam”, enfatiza.
A ideia agora é, a exemplo do que já aconteceu na capital paulista, em Campinas e no Rio de Janeiro, formar turmas com profissionais de diversas especialidades e, então, ensiná-los o que foi aprendido na universidade norte-americana. “Também queremos falar em faculdades, ensinar os alunos de medicina sobre como é possível que eles mesmos influenciem os pacientes”, diz Tassiane Alvarenga.Riva Moreira
EQUILÍBRIO - Alimentos in natura e pouco processados devem ser privilegiados na dieta, afirma a nutricionista Natália Teixeira, das Faculdades Kennedy
Saúde de ferro
Doutora em Ciência de Alimentos e coordenadora do curso de Nutrição das Faculdades Kennedy, em Belo Horizonte, Natália de Carvalho Teixeira reforça que alimentar-se adequadamente é passo fundamental não só para sentir-se mais bem disposto, como fórmula perfeita para prevenir enfermidades e conquistar uma saúde de ferro.
“A maior parte das doenças crônicas não transmissíveis, isto é, que a gente não pega, mas adquire, tem relação com nossos hábitos e podem ser controladas com boa alimentação”, garante.
Natália Teixeira ressalta que um plano alimentar equilibrado deve privilegiar alimentos naturais ou minimamente processados, como arroz e feijão. “É preciso reconhecer o sabor natural dos alimentos in natura e minimamente processados e conseguir apreciá-los melhor para não nos tornarmos reféns da indústria”, reforça a profissional da Kennedy.
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