Remédios básicos "somem" dos postos de saúde de BH

Renata Galdino e Giselle Araujo - Hoje em Dia
06/11/2013 às 06:41.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:57
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

A falta de medicamentos essenciais nos centros de saúde de Belo Horizonte tem forçado pacientes a interromper ou começar tardiamente o tratamento médico. Uma lista repassada internamente na Farmácia Distrital Nordeste aponta carência de antibióticos, anti-hipertensivos e remédios para tratar o colesterol alto.   A partir do documento, atualizado na semana passada, o Hoje em Dia descobriu que farmácias de postos de saúde espalhados pela cidade apresentam problema semelhante.    Na terça-feira (5), a enfermeira Elizângela da Conceição Gomes, de 35 anos, voltou para casa sem o antibiótico Azitromicina, depois de tentar o medicamento no Centro de Saúde do bairro São Paulo, região Nordeste. A filha dela, de 8 anos, tem sinusite, rinite e amigdalite. “Nem sei como vou arranjar dinheiro para comprar. Falta prioridade para a saúde”, diz. Na última sexta-feira, foi a vez da mãe da enfermeira ficar sem o anti-hipertensivo Losartan, indisponível na mesma unidade.   A falta dos antibióticos Amoxicilina e Clavulanato é recorrente, segundo um médico que trabalha em um posto de saúde na região Norte e que pediu anonimato. “Esses dois princípios formam um eficaz tratamento contra pneumonia, mas, frequentemente, tenho que trocar a receita porque não estão disponíveis”.   Na região Oeste, funcionários denunciam a falta de Furosemida e de Sinvastatina, que tratam, respectivamente, pressão e colesterol altos.    O problema da falta de medicamentes também foi constatado pela Câmara Municipal. A Comissão de Saúde da Casa visitou nove postos em setembro e, para cobrar soluções ao déficit, realizou uma audiência pública na última semana. “Fui gerente regional de Saúde na prefeitura por sete anos. A justificativa para a falta de medicamentos sempre é a mesma: problemas com fornecedor”, diz o presidente da comissão, vereador Dr. Nilton.   Para a Secretaria Municipal de Saúde, o problema é pontual. “Por exemplo, faltou AAS no dia 24 na região Nordeste, mas o estoque foi reposto no dia seguinte”, diz o secretário-adjunto da pasta, Fabiano Pimenta. Ele rebate a lista da falta de 67 medicamentos na Nordeste, mas reconhece que o fornecedor do Losartan fez uma entrega parcial em três distritos sanitários e está em atraso com outras áreas. Pimenta explica que o planejamento da compra de remédios é anual, mas contratos emergenciais podem ser assinados.    Mea-culpa no Farmácia de Minas   Em relação às falhas no Farmácia de Minas, apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e mostradas no Hoje em Dia, o próprio governo do Estado detectou irregularidades no programa de distribuição de remédios.    A auditoria foi realizada entre 2008 e 2011. “Alguns problemas já foram solucionados. A Secretaria de Estado de Saúde está atenta e atuante para atender às recomendações do TCE”, afirma superintendente de Assistência Farmacêutica, Graziele Dias.    Em nota, a SES informou que 513 municípios contam com uma “farmácia adequada ao atendimento humanizado, com mobiliário padrão e um profissional farmacêutico”.   SES aponta vantagens em novo endereço   A mudança de endereço da central de distribuição de medicamentos de alto custo do SUS, em Belo Horizonte, terá benefícios maiores que os transtornos. Quem garante é a superintendente de assistência farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Graziele Dias. “O ganho na qualidade de atendimento vai superar a distância. Vamos passar de 20 para 60 fichas por dia, em um espaço maior e melhor estruturado”, afirma.   Os usuários discordam. A central vai deixar a rua dos Otoni para um ponto a mais de 5 km da Região Hospitalar – na avenida do Contorno, próximo à Raja Gabaglia.    No atual endereço, será mantido apenas o atendimento a demandas de medicamentos via ação judicial.  A data da transferência ainda não foi definida. Uma ação para informar o novo endereço será realizada com antecedência, segundo a SES, para que ninguém seja pego de surpresa.    Como o Hoje em Dia mostrou na edição de sábado, funcionários e usuários estão preocupados, principalmente, com a dificuldade de deslocamento. Aqueles que usam um ônibus para chegar à Região Hospitalar e aproveitam o mesmo dia da consulta para buscar remédios terão que gastar mais tempo e dinheiro.

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