(Marizilda Cruppe/Divulgação)
Uma estratégia inovadora de conservação de ecossistemas, que consiste em integrar a biodiversidade aquática e a terrestre nas diferentes regiões, é capaz de aumentar em sete vezes a preservação de rios ao redor do mundo. A descoberta, que acaba de ser divulgada internacionalmente, tem pesquisadores mineiros entre seus autores, ligados às universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de Lavras (Ufla).
A pesquisadora da Ufla Cecília Leal explica que o planejamento da conservação é feito considerando só as espécies terrestres - aves, mamíferos, plantas. “No nosso estudo, a gente viu que essas abordagens atuais, que levam em consideração, digamos, só o que é bom para as espécies terrestres, contemplam apenas cerca de 20% da biodiversidade aquática”.
Ela pondera que prevalece uma divisão, “na nossa cabeça ou na ciência, por conveniência e por questões históricas”, entre ambientes terrestres e aquáticos. E isso é mundial, afirma. Por exemplo: quando se vai definir a instalação de uma hidrelétrica ou, ainda, o estabelecimento de uma área de preservação, observa-se muito mais as características do ecossistema terrestre envolvido. Avalia-se, detalha a cientista, a fauna e a flora terrestres daquele entorno. Diante disso, os ecossistemas aquáticos ali inseridos acabam ficando mais desconhecidos e menos preservados.
Parceria mundial
Após 10 anos de estudos a esse respeito, pesquisadores de diferentes países, como o Brasil, concluíram, revela Cecília Leal, que, “ao escolher uma área, se for dada a mesma importância ao ecossistema aquático que se dá ao ecossistema terrestre, a preservação do primeiro se multiplica”.
A ideia, afirma, é conhecer o ambiente aquático para preservá-lo melhor. “Nosso trabalho foca em como escolher bem as áreas, de forma mais inteligente. À medida em que a gente mostra o que cada ecossistema é ou protege um e o outro e que o olhar é mais voltado para o aquático, há um retorno maior para todos”, defende.
Bacias hidrográficas
Cecília Leal esclarece que o que ocorre hoje é que, como a ciência tem mais conhecimento das espécies terrestres, o planejamento é feito a partir desses ecossistemas. O raciocínio que prevalece, diz ela, é o seguinte: “Se há um rio na área, se está dentro de uma bacia hidrográfica, ela vai ser beneficiada também e está tudo certo”. No entanto, argumenta a pesquisadora, o que acontece é que os rios, nesse tipo de abordagem, entram apenas como uma parte, e, às vezes, as cabeceiras ficam desprotegidas.
“Não é considerada a conectividade dos rios. É preciso olhar para essa conectividade. Se a gente faz alguma coisa nas cabeceiras, para protegê-las, isso dá mais impacto, inclusive, sobre o ecossistema terrestre”, alerta.
Segundo Cecília Leal, o estudo supera uma limitação no planejamento de conservação da biodiversidade.
Além disso
No levantamento, pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável avaliaram mais de 1.500 espécies de água doce e terrestres na Amazônia brasileira, mapeando peixes, libélulas, besouro rola-bosta, entre outros. A pesquisa confirmou que a combinação de informações integradas sobre ecossistemas terrestre e aquático pode aumentar proteção dos ecossistemas de água doce, com gasto baixo de recursos.
Foram avaliados três cenários com microbacias hidrográficas. Primeiro, os cientistas coletaram dados de áreas terrestres, como é feito no mundo inteiro, e cruzaram com dados aquáticos. Eles aferiram também o mapeamento aquático isoladamente e, ainda, o método tradicional terrestre, somado à conectividade entre os rios. Foi assim que concluíram que os melhores resultados de preservação têm origem no planejamento integrado e, nos casos em que isso não for possível, deve-se adotar a conectividade entre os rios.
“Na comunidade científica não existia banco de dados tão robusto que identificasse o quanto é efetivamente baixo o custo para preservar o ambiente aquático”, frisa a pesquisadora da Universidade Federal de Lavras Cecília Leal.